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Artigo: Cerveja artesanal, sim, senhor!

Para André de Polverel, as cervejarias artesanais devem apostar na sua identidade para ter êxito no mercado

*Por André de Polverel

Em um momento extremamente difícil para o setor cervejeiro artesanal, sobretudo pelo fechamento de bares e restaurantes nos momentos mais agudos de combate à disseminação do coronavírus, surge um fio de esperança com a divulgação dos dados do Anuário da Cerveja 2020 do Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária (Mapa) apontando que houve um crescimento de 14,4% no número de fábricas em relação a 2019. Somos agora 1.383 cervejarias.

No mesmo anuário, para alegria de alguns colunistas especializados, nos chega a informação de que Ribeirão Preto alcançou a nona posição no ranking dos municípios brasileiros com o maior número de cervejarias, com um crescimento de 50%.

Porém nesta longa e próspera jornada etílica nem tudo são flores. Em uma recente pesquisa da Associação Brasileira da Cerveja Artesanal (Abracerva), apresentada no Congresso Força Cervejeira, ouvimos que 24% dos empreendimentos cervejeiros entrevistados têm risco alto de fechar em 2021.

Aqui nos cabe a reflexão: não há nada que possa ser feito? Sem que me seja perguntado, ouso dizer que há muito a se fazer, afinal a cerveja está neste planeta há pelo menos 10 mil anos e não me parece que ela vá desembarcar da vida das pessoas pelos próximos dez anos.

Talvez o que nos falte no momento, falando mais precisamente para os convertidos ao movimento de diversificação de sabores com adição do bom e velho puro malte, seja poder nos debruçar sobre os problemas que nos afligem e resgatar a nossa verdadeira identidade, que passa por nos contrapor às rotulagens encomendadas e propositais que nos jogam na vala comum, como, por exemplo, deixar que nossos produtos sejam nominados como “cervejas especiais”, ao invés de “cervejas artesanais”. Isto só para começar.

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E na defesa desta semântica primordial, antes que comecem a me jogar pedras, uma cerveja é tida como artesanal porque é feita por artesãos, não por se utilizar de materiais precários para sua confecção.

Neste longo e prazeroso caminho de diferenciação dos grandes produtores, falando ainda para convertidos e aficionados, toda cervejaria artesanal deveria ter uma placa na entrada de seu estabelecimento com os seguintes dizeres: “Obrigado, Graham Lees, Mellor Bill, Michael Hardman e Jim Makin por nos devolver a felicidade de ser o que somos e beber o que produzimos”.

Para quem não sabe, foi graças ao movimento iniciado por esses senhores, que em algum momento se viram inconformados com a produção em massa cada vez maior de cerveja e à homogeneização da indústria cervejeira britânica, que hoje podemos desfrutar de uma verdadeira revolução sobre como enxergar o desejo do seu cliente e fazer cerveja.

É certo que eles não inventaram a roda, mas, ao fundar um movimento para valorização da Real Ale, ou valorização da cerveja de verdade, eles nos legaram um propósito revolucionário, que, no meu modesto entendimento, vive a sua terceira onda, após passar pelos Estados Unidos e desembarcar por aqui, na nossa amada terra tupiniquim.

Empreendedores cervejeiros e cervejeiras, não se deixem manipular. Valorizem seus produtos, redescubram o seu propósito, lutem por espaço e não pelo espaço, não se esquecendo nunca da chave que inspira e motiva as pessoas a seguirem as suas ideias e comprarem aquilo que você faz: “As pessoas não compram o que você faz, mas o porquê você faz.”


*André de Polverel é entusiasta e consumidor da cerveja artesanal e representante da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) na Câmera Setorial da Cadeia Produtiva da Cerveja do Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária (Mapa).

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