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Balcão da Chiara: Como reduzir custos através da manutenção

De que vale um alto faturamento se os custos de produção também são elevados?

Os custos de uma cervejaria podem tirar o sono. Na gestão deles, é necessário um gerenciamento detalhado para minimizar os impactos e otimizar recursos. O gerenciamento da manutenção é um pilar relevante, porém bem negligenciado por boa parte das cervejarias.

Mas quanto custa a falta de gestão de recursos?

Focando na manutenção, ou na falta dela em uma cervejaria, quando um equipamento quebra sem nenhum planejamento, o impacto pode ser imenso. A falha pode gerar produtos não conformes, que precisarão ser despejados ou retrabalhados. Também pode afetar a produtividade, gerando, em consequência, elevado custo energético para um pequeno volume de produção, bem como o valor da mão de obra que estará parada ou subaproveitada, além da falta de produto para os clientes.

Se for necessária alguma peça de reposição que não exista na fábrica ou no mercado local, os impactos podem ser ainda maiores. Existem muitas microcervejarias que não possuem equipe de manutenção e o serviço emergencial pode custar ainda mais.

É fundamental que a gestão de manutenção faça parte do planejamento estratégico da empresa. É importante analisar o cenário atual da cervejaria e aonde ela quer chegar em termos de produtividade, volume, redução de perdas, entre outros objetivos, e com essa base traçar o plano de manutenção.

Nem sempre o desejável é o possível, por isso a realidade com mais resultados acontecerá se o planejamento acontecer alinhado com as necessidades da fábrica que podem ser baseadas em projetos (por exemplo: ampliação, aumento de produtividade, novos produtos) e manutenção de rotina.

Para definir uma estratégia de manutenção efetiva, não basta listar os equipamentos e definir prazos de substituição de peças, lubrificação, entre outros reparos. É preciso compreender os tipos de manutenção e que cada escolha tem seu preço.

De maneira muito simples, posso citar alguns tipos de manutenção e seus objetivos: a preventiva, a preditiva e a corretiva. Na manutenção preventiva, o objetivo é definir a periodicidade, seja ela baseada no tempo, horas de funcionamento, ou mesmo em outros critérios específicos como a produtividade da cervejaria, por exemplo. Isso ocorre para evitar que a falha aconteça.

Na manutenção preditiva, são realizadas inspeções ou outras análises no equipamento como vibração, temperatura e características do lubrificante, para identificar uma falha potencial e assim programar uma intervenção, caso necessária. Entretanto, para aplicá-la, é preciso entender os modos de falha dos equipamentos. E algumas ferramentas, como FMEA (Failure Mode and Effect Analysis – Análise de Modo e Efeito de Falha), podem auxiliar nesse processo. Mas isso é assunto para outro artigo.

Por último, temos a manutenção corretiva, que pode ser planejada ou emergencial. É a mais onerosa e a mais praticada nas cervejarias gerando um custo elevadíssimo, contudo pode ser usada de maneira estratégica para alguns equipamentos que não sejam críticos, ou em conjunto com a manutenção preditiva. Investir recursos em um bom planejamento pode reduzir os custos gerados por essa falta de gestão da manutenção consideravelmente. Você vai se surpreender! (ABNT, 1994)

Uma prática importante e que traz benefícios não só para a empresa como para seus funcionários é a manutenção autônoma. Segundo YAMAGUCHI (2005), cada operador deve cuidar do seu próprio equipamento. Daí surge o lema do meu equipamento, cuido eu. Pequenas manutenções como limpeza, algumas lubrificações e reapertos são atividades possíveis, após treinamentos que estabelecem a condição ideal do equipamento e reduzem a possibilidade de falha.

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Ao realizar a limpeza de um equipamento, o funcionário também o inspeciona. Nesse momento podem ser identificadas melhorias no projeto ou anomalias que podem ser programadas e corrigidas de acordo com a criticidade. Ganha a empresa e ganha o(a) colaborador(a). Aumento da capacitação das pessoas, aumento da confiabilidade do equipamento, melhor controle visual, redução de paradas, redução de perdas, aumento de produtividade, melhoria na qualidade do produto e padronização são alguns dos benefícios.

Além de todas as justificativas referentes ao custo, ainda temos a relação entre a manutenção e a segurança dos alimentos. As “gambiarras” utilizadas muitas vezes como alternativa à manutenção podem causar danos irreparáveis. Equipamentos com maior confiabilidade diminuem a probabilidade de perigos no produto. Deve-se, ainda, ter atenção ao tipo de material utilizado tanto nos equipamentos, às vedações, aos lubrificantes e aos fluidos refrigerantes adequados ao uso.

A RDC nº 275 da Anvisa (BRASIL, 2002), que trata dos Procedimentos Operacionais Padrão (POP), descreve a manutenção preventiva e a calibração de equipamentos como um dos padrões obrigatórios nas Boas Práticas de Fabricação (BPF), onde se deve especificar a periodicidade e responsáveis pela manutenção dos equipamentos envolvidos no processo produtivo do alimento, bem como contemplar a operação de higienização adotada após a manutenção dos equipamentos, a calibração dos instrumentos e equipamentos de medição ou o comprovante da execução do serviço quando a calibração for realizada por empresas terceirizadas.

Uma boa estratégia e acompanhamento de indicadores de manutenção são essenciais para qualidade e integridade do produto e para a saúde financeira da cervejaria. Buscar alternativas que sejam aplicáveis na sua realidade serão o diferencial para a garantia da confiabilidade e o aumento da vida útil dos equipamentos, conhecimento instalado, redução de custos e alcance de resultados excelentes.


Referências bibliográficas:    .

Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 5462. Confiabilidade e mantenabilidade. Rio de Janeiro, 1994.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. ANVISA. RESOLUÇÃO DE DIRETORIA COLEGIADA – RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados aplicados aos Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos e a Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos. Disponível em <http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/RDC_275_2002_COMP.pdf/fce9dac0-ae57-4de2-8cf9-e286a383f254>. Acesso em 15 março 2022

YAMAGUCHI, C. TPM – Manutenção produtiva total. São João Del Rei: ICAP – Instituto de Consultoria e Aperfeiçoamento Profissional Del-Rei, 2005.


Chiara Barros é proprietária do Instituto Ceres de Educação e Consultoria Cervejeira. Engenheira Química, especialista em Biotecnologia e Bioprocessos, em Gestão da Qualidade e Produtividade e em Segurança de Alimentos, além de cervejeira e sommelière de cervejas.

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