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Balcão da Chiara: Qual o real problema das cervejarias?

Alta carga tributária, falta de pessoas qualificadas, falta de infraestrutura. Muitas são as justificativas para o baixo desempenho das cervejarias. Mas onde está a gestão industrial (ou a falta dela) nestas respostas? Boa parte das cervejarias, ao menos das que tenho contato há longos anos no mercado cervejeiro, falha na gestão!

Em diversas consultorias em que eu fui contratada para resolver “problema pontuais”, na verdade eles eram a ponta do iceberg, o efeito. A causa da maioria deles (para uma solução definitiva) era muito mais profunda e gerava outros tantos problemas que nem sempre eram enxergados, como, por exemplo, elevado custo de produção.

A gestão quase sempre é chave para a resposta. Fábricas sem organograma definidos, sem rotina, sem funções com definição clara dos papéis e responsabilidades. Desvio de função! Esse é assunto longo, gera fadiga no trabalhador, problemas trabalhistas, baixa produtividade, erros, descartes, custo! Ah, gera hora extra também… custo!

E para continuar esta lista de falhas na gestão: a padronização. Aqui cito a de verdade, não aquele arquivo esquecido no seu notebook pessoal ou aquele papel jogado no fundo da gaveta. Isto não traz resultado.

De acordo com pesquisa do Guia da Cerveja sobre os desafios para cervejarias, 26% dos respondentes afirmaram que apostam na otimização de processos para a redução dos custos. Mas como se otimiza o processo, se ele não está padronizado? As cervejarias não conhecem suas perdas! Se você não mede, você não gerencia. Não fazem controle efetivo de estoque e capital empregado. A programação de produção nem sempre considera as condições energéticas e disponibilidade de insumos para otimização dos recursos e redução de custos.

E quando este assunto é abordado, deveria servir para reflexão e tomada de ação, mas escuto muitas justificativas ao invés disso. “Eu não tenho pessoal capacitado”. Então eu devolvo: “e o que você faz para desenvolver estas pessoas?”

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Se você deseja ter um profissional capacitado, você precisa pagar por ele. Desenvolva as pessoas. Claro que leva tempo, mas você terá uma equipe trabalhando com a cultura da sua empresa e do jeitinho “certo”, da maneira adequada à sua realidade. Normalmente, quem responde este tipo de coisa, não sabe o nome dos funcionários, não tem um plano de cargos e salários (sem essa de justificar que a empresa é pequena, viu?), não sabe o que está acontecendo no chão de fábrica. Faça uma pesquisa de engajamento, converse com as pessoas honestamente, ESCUTE e provavelmente você terá muitas surpresas e excelentes sugestões, além de ter o mais importante que é a participação da sua equipe. Ainda complemento dizendo que se ela é diversa, você vai ganhar muito com a experiência dessas pessoas. Existem profissionais que investem muito em educação e não são absorvidos pelo mercado. Quando são, normalmente não são remuneradas de maneira adequada. Ninguém sai de um “curso” sabendo de tudo. É preciso alinhar o conhecimento teórico à prática. As habilidades serão desenvolvidas na prática e as empresas precisam estar envolvidas neste processo. Programa de estágio? Menor aprendiz? Poderia ser um caminho, mas pouco se vê.

Você não precisa ter 10 mestres cervejeiros (as) na sua empresa. Não subutilize uma mão de obra especializada. Use de forma inteligente e reverta em resultado. Esta é uma função analítica, não é só para mexer panela.

Definir metas, estabelecer e acompanhar indicadores é outra etapa importante e fundamental para a manutenção da saúde financeira da cervejaria. Os objetivos comerciais precisam estar conectados com a fábrica. Desdobre! Invista no controle dos processos, em um sistema que te forneça dados de maneira mais simples. Decisões precisam ser tomadas com base na análise de dados e não em achismos. Assim, você vai enxergar oportunidades, reduzir custos e melhorar a qualidade do produto.

Se algo não está dando certo, provavelmente há falta/falha de planejamento ou má execução. Consolide suas fortalezas, avalie as oportunidades, mapeie suas fraquezas e trate, monitore as ameaças. Mas antes disso, convoque as pessoas e pense junto! O planejamento será muito mais robusto se você contar com a diversidade de sua equipe.


Chiara Barros é proprietária do Instituto Ceres de Educação e Consultoria Cervejeira. Engenheira Química, especialista em Biotecnologia e Bioprocessos, em Gestão da Qualidade e Produtividade e em Segurança de Alimentos, além de cervejeira e sommelière de cervejas.

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