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Balcão da Nadhine: Verão europeu com onda de calor impulsiona procura por cervejas refrescantes

Vocês devem estar acompanhando as recentes notícias meteorológicas da Europa, que vem enfrentando uma onda de calor implacável neste verão. As temperaturas estão ultrapassando recordes históricos. Sendo uma imigrante vinda do Nordeste do Brasil, posso falar com propriedade que os termômetros estão alcançando níveis escaldantes.

Apesar de todo esse calor, que vem causando algumas tragédias, como os incêndios na Grécia e mortes registradas, as principais cidades da Europa estão lotadas, em uma temporada insana de turismo neste verão.

É nesse contexto que tenho acompanhado o papel da indústria cervejeira, que oferece uma variedade de cervejas artesanais mais refrescantes e frutadas e de baixo teor alcoólico, se tornando a companhia perfeita para enfrentar as altas temperaturas.

À medida que o verão europeu tira as pessoas de suas casas após longos períodos de frio, o calendário fica repleto de eventos. Um pouco antes do início da temporada de calor, pude participar do Budapest Beer Week (BPBW), um festival que traz cervejarias de toda Europa, principalmente, mas não só. O festival é voltado para um público mais beer geek ávido por novidades, o que me permitiu acompanhar as tendências que tem se confirmado ao longo do verão.

O BPBW tem um formato de beer tasting com torneiras limitadas em pequenas quantidades para degustação, assim como o festival da Mikkeller e o Brewskival, entre outros. Nele, os organizadores convidam cervejarias parceiras para oferecer aos fanáticos por cerveja artesanal locais e estrangeiros uma oportunidade de ter todas as raridades em um só lugar. É, também, uma ótima oportunidade para construir pontes entre consumidores, cervejeiros e cervejarias, já que os próprios donos vão, para apresentar suas cervejas extremas.

O festival contou com a presença das principais cervejarias da Hungria e convidadas da Espanha, Suécia, França, Dinamarca, Irlanda, Inglaterra, Bélgica e Estados Unidos, entre outros.

Seguindo a linha do que é lançado no mercado norte-americano, as cervejarias voltadas para o público beer geek continuam apresentando produtos cada vez mais extremos, muitas vezes ultrapassando a linha tênue do que os define como uma cerveja.

Filas imensas se formaram para experimentar as Smoothies Sour e Ice Cream Sour, uma nova “categoria” de Pastry Sour super cremosas. Além da norte-americanas Fifth Frame, KCBC, The Veil, Living Häus ,tão esperadas no evento, uma cervejaria da Letônia, a Ārpus, se destacou. Micro equipada com uma sala de brassagem de 2 mil litros, ela é focada em cervejas com altas cargas de frutas.

Meu destaque vai para a Cyclic, cervejaria situada em Barcelona, com proprietários super simpáticos, especializados em fermentação mista com cervejas do estilo Farmhouse Ale super refrescantes. O prêmio de stand mais divertido, definitivamente, foi para a irlandesa Rascal e sua Nitro Sour, além de adesivos e brindes engraçados. Gostaria de citar também a sueca Beerbliotek e seu premiado gin, mostrando a forte tendência de diversificação de bebidas cada vez mais comum no meio da cerveja artesanal. Não posso deixar de falar da queridinha dinamarquesa To Øl, que não decepcionou e trouxe mais algumas delícias para o evento.


Além do visto no festival, que vem se confirmando ao longo da temporada que se estende até setembro, cada vez mais vemos cervejas ácidas frutadas nas prateleiras, inclusive usando nossa fruta nativa maracujá. Essas cervejas são facilmente combinadas com a gastronomia, por seu perfil ácido e frutado, fazendo com que sejam excelentes opções para harmonizar com pratos leves, como saladas, peixes e frutos do mar, em belas combinações para o verão.

Em resposta às recentes pesquisas que apontam para um consumo cada vez mais moderado de álcool entre os mais jovens, a produção de cervejas não alcoólicas ou com baixo teor alcoólico, já presente nos EUA há alguns anos, tem lentamente ganhado espaço na Europa. Nomes importantes no meio beer geek, como a estoniana Põhjala, conhecida por suas cervejas Imperial Stouts de alto teor alcoólico e complexidade, lançou recentemente uma Session IPA e uma Berliner Weisse, ambas com 0,5% de álcool. Sua conterrânea Pühaste também seguiu esse caminho.

Aqui na Hungria, a cervejaria Horizont se juntou à holandesa VandeStreek, já conhecida por sua ampla gama de cervejas não alcoólicas, como NEIPA, Nitro Stout e cervejas Sour, para lançar uma IPA não alcoólica. Inclusive, visitei recentemente a Horizont, com Nathan Ford me mostrando sua incrível fábrica, onde são produzidas diversas cervejas, incluindo várias variações de Sour frutadas, tanto de baixo teor alcoólico quanto envelhecidas em barris de vinho tinto, rum ou uísque. A fábrica possui equipamentos completos de fabricação húngara, desde as chaleiras até os fermentadores, além de um sistema de osmose reversa para criar perfis de água específicos para qualquer estilo de cerveja.


A Szent Andras lançou recentemente três rótulos sem álcool, sendo uma Lager, uma Mango IPA e uma IPA, seguindo a tendência. Já a Monyo, que anteriormente havia colocado no mercado as famosas limonadas húngaras enlatadas, possui agora toda uma linha de sodas feitas com frutas naturais, incluindo as inovadoras sodas com lúpulo e com infusão de cáscara. 

A já tradicional Grape Ale de Itália e França ganha mais força no verão por suas propriedades frutadas refrescantes, além das clássicas Saisons, com sua gama de possibilidades, e as Witbiers sempre são bem vindas nessa estação, ganhando versões modernas com Elderflower, leve e floral. A cerveja com adição da flor de sabugueiro exala um aroma cativante e um sabor suave.

Com o calor intenso e prolongado, é importante lembrar de se manter hidratado e apreciar essas deliciosas cervejas com moderação. Essas são apenas algumas das muitas opções que o universo das cervejas artesanais na Europa oferece neste verão. Então, aproveite a estação para explorar novos sabores, brindar à vida e apreciar cada gole dessas autênticas obras de arte cervejeiras europeias. Saúde!


Nadhine França foi a primeira mulher a ocupar a presidência executiva da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), também sendo responsável pela criação e coordenação do Núcleo de Diversidade. É analista de sistemas, cervejeira, beer sommelière, Cicerone Certified Beer Server, juíza internacional de cerveja, organizadora de eventos, concursos e congressos cervejeiros. Hoje mora em Budapeste.

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