É Rópis: O que levou a Skol a apostar na popularização do lúpulo
Componentes essenciais da cerveja, a cevada e o lúpulo vivem um amor improvável no Brasil. São como Romeu e Julieta do universo etílico: um é reverenciado por especialistas e desconhecido por boa parcela da população, parcela esta que encara o outro como sinônimo de cerveja.
Afinal, se o brasileiro com menos acesso às artesanais costuma definir a cerveja como suco de cevada, ele geralmente franze o cenho quando perguntado sobre o lúpulo. O mesmo lúpulo que se tornou sinônimo – e estampas de camiseta – de um novo mercado de especiais que começa a borbulhar no país.
Trafegar por esses dois universos parece ter sido o insight da Skol ao lançar a Hops, uma cerveja puro malte desenvolvida com um blend exclusivo de lúpulos, feita para “levar ao consumidor uma nova opção completamente diferente do que é visto em cervejas” com esse tipo de alcance, segundo a marca.
Lançada inicialmente no Nordeste entre junho e julho, durante as festas de São João, a Skol Hops chegou neste início de setembro ao mercado nacional. É a aposta para fortalecer a identidade de uma marca associada à inovação e ao público jovem.
“A Skol Pilsen é a marca mais valiosa do Brasil nos últimos seis anos, então não faria sentido mudar uma fórmula de tanto sucesso. Ela continua forte e à disposição em todas as regiões do país. A Skol Hops nasce da necessidade constante da marca em inovar e surpreender o consumidor”, conta Maria Fernanda Albuquerque, diretora de marketing da marca.
Leve e aromática
Para se manter fiel às origens e não brigar com o gosto de um público tradicionalmente ligado ao mainstream, a Skol decidiu apostar em uma cerveja leve e refrescante, em que os lúpulos se destacam pelo aroma – e não pelo amargor.
Foram escolhidos quatro lúpulos que propiciassem essa característica: Monroe, Citra, Denali e um experimental alemão, ainda sem nome comercial. A Hops, assim, que terá calderetas especiais e mais largas para facilitar a percepção dos aromas, nasceu com 12 IBUs, praticamente o mesmo perfil da comum. E apenas 4% de teor alcoólico.
“Tentamos buscar o cliente tanto pelo sabor como pelo aroma”, revela Leonardo Antonelli, mestre-cervejeiro da Ambev. “É Skol e jamais levaríamos para algo pesado. Não queria levá-la para um perfil de amargor.”
Seu início, aliás, já teve excelentes resultados: em agosto, a Skol Hops foi eleita como a melhor Hoppy Pilsener do Brasil no World Beer Awards, de Londres, um dos principais prêmios cervejeiros do mundo.
“A medalha dada à Skol Hops comprova todo o conhecimento e expertise da Skol em produzir grandes cervejas e a capacidade dos seus mestres cervejeiros de trazer novidades dentro da marca de cervejas mais consumida do Brasil. É um orgulho concorrer com tantas cervejarias conceituadas e obter esse prêmio de melhor do país”, celebra Laura Aguiar, também mestre-cervejeira da Ambev.
As primeiras percepções no Nordeste também foram positivas. Gerente de marketing da Skol, Adriana Molari conta que o público, de maneira geral, aprovou a novidade. “O resultado foi excelente. Provou que tem capilaridade para todo o país.”
Mas a disputa shakespeariana entre a tradicional cevada e o hypado lúpulo, reconhece Adriana, também deixou suas marcas. “Teve rejeição, paladares que não conheciam, que não aceitaram tanto. Mas já esperávamos. Queríamos dar acesso.”
Skol Esperança
Tanto o perfil baixo de amargor e de teor alcoólico quanto o lançamento no Nordeste, segundo os executivos da marca, reforçam a estratégia da Skol ao apostar na Hops: ser pioneira na popularização do lúpulo a um público que, por fidelidade ao mainstream e, especialmente, por questões sociais, o desconhecem.
“Tentamos trazer uma conversa democrática”, explica Adriana. “Tem um mundo cervejeiro que, principalmente, pela questão do dinheiro, é difícil ter acesso. Miramos esse mercado de lugares que, talvez, a conversa sobre lúpulo levasse dez anos para chegar.”
Nada mais natural, assim, que o lançamento ocorresse no Nordeste, local onde o papo sobre lúpulo ainda é pouco difundido, embora o cenário já comece mudar aos poucos. E em uma festa grandiosa – e popular – como a de São João. “Acreditamos muito na região. Eles mereciam ver isso primeiro”, diz a gerente de marketing.
A política de preços, assim, deve aproximar a novidade mais do rótulo tradicional do que da linha Beats, por exemplo – a previsão é de que o valor seja entre 10 e 15% acima da comum. Espera-se, ainda, como no caso da Brahma Extra e em suas linhas como a Weiss e a Red Lager, que a Hops sirva como marco para desenvolver outros rótulos “complexos”.
Com a sua estratégia de popularização traçada, porém, a Skol precisa enfrentar um obstáculo. Em um país onde a desigualdade beira ao escárnio e a falta de acesso à educação é utilizada como tática de imobilização social, apostar no termo em inglês para lúpulo trouxe riscos naturais que a marca, com humor, tenta contornar.
“O Hops já virou várias coisas, falaram até que é a Skol Esperança devido à pronúncia por vezes equivocada [Skol Hopes]”, brinca Adriana. “Não esqueçam: é Rópis”.
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