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Balcão da Fabiana: Um momento para guardar na memória – o dia em que colhi lúpulos

Se me perguntassem em 2009, quando criei o programa de rádio Pão e Cerveja, o que eu diria sobre o mercado cervejeiro para a Fabiana de 15 anos à frente, talvez eu respondesse que o Brasil teria um grande número de fábricas, que seríamos reconhecidos pela qualidade das nossas cervejas, que as cervejas artesanais ocupariam uma faixa de, pelo menos, 10% do mercado. Meu recado para o meu eu do futuro teria sido muito mais projeção dos meus desejos do que propriamente previsões realistas.

Naquele tempo, 15 anos atrás, dizia-se que o Brasil nunca seria autossuficiente na produção de insumos. Plantar lúpulo, então? Era algo descartado por qualquer entendido no assunto. Não tínhamos a latitude correta, não tínhamos as temperaturas ideais para o cultivo da planta. Então, nem mesmo desejo de uma produção de lúpulos brasileiros a gente ousava ter. Portanto eu jamais diria à Fabiana que dali a 15 anos estaríamos comemorando a existência de canteiros de lúpulo em várias regiões do país.

Mais do que comemorar, hoje estamos colhendo lúpulos. E eu posso dizer que “estamos colhendo” literalmente, porque foi essa experiência que tive a oportunidade de vivenciar no final de fevereiro. A convite da Fazenda Cervejeira, do empresário José Felipe Carneiro (um dos ex-donos da Wäls), estive na cidade de Carmo da Cachoeira, sul de Minas Gerais, para participar da primeira colheita de lúpulos de 2024.

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A Fazenda Cervejeira possui dois ramos: o lupulal urbano que fica em Belo Horizonte, onde as pessoas podem ver e pegar nos lúpulos plantados ali de forma ornamental. E o viveiro maior, que fica em uma fazenda cafeeira centenária da cidade de Carmo da Cachoeira, onde a área é de 7 hectares plantados. Por lá se colhem e são beneficiadas mais de 10 variedades de lúpulo.

Caminhar entre as imensas trepadeiras da planta, pegar alguns cones, abri-los, cheirá-los, depois vê-los sendo baixados por um caminhão equipado para tal. Seguir até o galpão de beneficiamento e ver os lúpulos serem arrancados pela máquina peladora importada da Polônia, uma das cinco únicas no Brasil. Observar a esteira da máquina trazendo os cones já soltos e armazenados em imensos baldes. Sentir o cheiro verde da planta inundando todo o ambiente. Acompanhar as outras etapas, de secagem, moagem e por fim de peletização. Tudo isso compôs a maravilhosa sinfonia da experiência que tive na Fazenda Cervejeira.

Quando eu poderia sonhar que seria testemunha de uma revolução verde como a do cultivo de lúpulos no Brasil? E mais, quando imaginaria participar de alguma forma dessa revolução?

Acho que já posso me aposentar do mercado cervejeiro depois de vivenciar tudo isso. E guardar para sempre na memória o dia em que colhi lúpulos!


Fabiana Arreguy é jornalista e beer sommelière formada em 2010, pela primeira turma da Doemens no Brasil, através do Senac SP. Produz e apresenta, desde 2009, a coluna de rádio Pão e Cerveja, sendo editora de site com o mesmo nome e autora de livros. É curadora de conteúdo, consultora de cervejas especiais, proprietária da loja De Birra Armazém Cervejeiro, além de professora do Science of Beer Institute e do Senac MG, assim como juíza dos principais concursos cervejeiros brasileiros e internacionais.

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