Amianto na cerveja foi responsável por aumento de casos de câncer, diz estudo
Cientistas da Universidade de Liverpool descobriram que o crescimento significativo de câncer de esôfago nos últimos 50 anos no Reino Unido e em outros países pode ter ligação com a ingestão de amianto junto de cerveja.
O uso da fibra era bastante comum na década de 1970 como parte de um método de filtragem de restos de cerveja e outras bebidas alcoólicas. Esse processo era adotado por donos de pubs, visando reaproveitar restos e vendê-los a clientes “desatentos” no dia seguinte.
Leia também – Morador de Londres gasta duas vezes mais em cerveja do que demais britânicos
Até a década de 1970, os efeitos cancerígenos do amianto eram pouco conhecidos. Com o crescimento das preocupações acerca dos efeitos colaterais da substância, ela foi perdendo espaço em diversas indústrias em que era largamente usada – no Brasil, foi explorada desde a década de 1940 e só foi proibida definitivamente em 2017. No entanto, poucos estudos buscaram compreender as consequências da ingestão do produto no aparelho digestivo.
O trabalho de Jonathan M. Rhodes, professor de medicina, e de Rebecca C. Fitzgerald, pesquisadora da Universidade de Liverpool, foi publicado em maio pelo British Journal of Cancer, mas só ganhou repercussão nessa semana, após reportagem do tabloide The Sun sobre o assunto.
Canal pelo qual o alimento ingerido é levado da garganta até o estômago para o processo de digestão, o esôfago tem funcionamento parassimpático, ou seja, faz movimentos involuntários de contração para “empurrar” o alimento para baixo.
A incidência de câncer no esôfago aumentou seis vezes no Reino Unido nos últimos 50 anos e hoje mata cerca de 8 mil pessoas por ano. A letalidade, no entanto, é maior entre os homens: 90% das vítimas são do sexo masculino.
O amianto no Reino Unido
No estudo, os autores afirmaram que “parece plausível que fibras de amianto ingeridas – incluindo, mas não se limitando às presentes em cerveja consumida antes de 1980 – podem ser fator significante para o adenocarcinoma de esôfago que afeta prioritariamente indivíduos do sexo masculino em certos países”.
No entanto, o longo intervalo de tempo (décadas) entre a exposição inicial ao amianto e a manifestação do câncer os levou a inferir que a substância age como promotor da doença – e não como seu principal gerador.
O Reino Unido é o país com a maior incidência de mesotelioma, o câncer que se desenvolve a partir da exposição ao amianto. Quase todos os casos se relacionam à exposição anterior à década de 1980. O uso do amianto do tipo crocidolite, também chamado de amianto azul, foi interrompido lá em 1970, enquanto a amosite (o amianto castanho) foi proibida no final da mesma década.
Das 2542 mortes por esse tipo de câncer em 2015, apenas três foram de indivíduos nascidos após 1975, o que corrobora a hipótese do estudo. Se o padrão se repetir, o Reino Unido estará livre das mortes por mesotelioma em 2055, quando todos os possíveis afetados terão mais de 90 anos.
0 Comentário