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Balcão da Fabiana: Consumo responsável – Precisamos comunicar melhor essa pauta

É muito comum em entrevistas com pessoas do segmento cervejeiro no Brasil nos depararmos com a frase: beba menos, beba melhor.

Essa espécie de mantra, embora bonitinho, se mostra totalmente afastado da realidade quando o comparamos com a prática. É discurso vazio, uma vez que dizemos uma coisa e fazemos totalmente o inverso.

A começar pelo modelo de eventos que o segmento das artesanais tem seguido ao longo dos anos. É sempre um festival ou feira com dezenas de cervejarias vendendo outra dezena de rótulos. Multiplicando o número de rótulos em oferta em tais eventos podemos ter mais de 120 cervejas oferecidas em um mesmo local ao mesmo tempo. Pensem comigo: mesmo que o consumidor queira apenas provar todas as cervejas presentes, digamos que tomando 50ml de cada uma, ao final ele terá bebido 6 litros da bebida. Sem contar que dificilmente ele conseguirá ser servido com apenas essa quantidade, afinal nem todos os eventos trabalham com o sistema de porcionamento mínimo. Em quase todas as cervejarias querem vender um copo inteiro, com no mínimo 300ml, o que é justo porque é a venda dos produtos que sustenta as empresas.

Outra situação em que a frase “beba menos, beba melhor” é esvaziada de verdade são as festas open bar. Aí é que a coisa desanda mesmo. Ao chegar à festa o convidado recebe seu próprio copo e é solto na selva, diante de inúmeros bicos e torneiras, podendo servir-se à vontade de tudo o que ali é oferecido. Não dá nem para criticar a pessoa que se deslumbra com tanta fartura. Até eu, ou você que me lê, cai nessa armadilha.

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Sem contar os cervejeiros e profissionais do segmento que se mostram em público trocando as pernas, falando embolado, sendo inconveniente por ter bebido demais. Onde está o menos e melhor nesses casos?

Acho que o assunto é sério e cada vez mais precisamos ter consciência de nossa responsabilidade em incentivar o consumo responsável. É uma questão de saúde, de promoção da qualidade de vida. Não quero ser hipócrita, já que trabalho divulgando o mercado, mas tenho me sentido bastante incomodada em ser a incentivadora de um consumo exacerbado.

Não estaria na hora de repensarmos o modelo dos eventos que promovemos? Não seria o caso de alardearmos mais as cervejas sem álcool? Não poderíamos discutir amplamente o que significa beber menos para beber melhor?

Pensemos nisso. A tendência mundial é a busca de uma vida saudável, se não adaptarmos nosso discurso, mas principalmente a prática, vamos ficar ultrapassados, correndo o risco de corromper a imagem de uma cultura milenar como é a cerveja.


Fabiana Arreguy é jornalista e beer sommelière formada em 2010, pela primeira turma da Doemens no Brasil, através do Senac SP. Produz e apresenta, desde 2009, a coluna de rádio Pão e Cerveja, sendo editora de site com o mesmo nome e autora de livros. É curadora de conteúdo, consultora de cervejas especiais, proprietária da loja De Birra Armazém Cervejeiro, além de professora do Science of Beer Institute e do Senac MG, assim como juíza dos principais concursos cervejeiros brasileiros e internacionais.

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