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Balcão do Aloisio: O que esperar das novas cultivares de cevada no Brasil

A produção de cevada no Brasil se concentra na região Sul do país, principalmente nos estados do Paraná e do Rio Grande do Sul. Vários fatores contribuem para essa concentração, sendo o principal o clima ameno durante o inverno, adequado para o desenvolvimento da cultura. Por essa razão, três das quatro maiores maltarias do País estão instaladas nessa região e mais uma deve entrar em operação até 2024.

Entretanto, embora se tenha nessa região temperaturas adequadas para o cultivo da cevada, existem problemas em relação às instabilidades de precipitação pluviométrica. Tais instabilidades têm relação com a temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico. Quando ocorre um aquecimento anormal (acima da média), isso gera o fenômeno El Niño. Já o resfriamento dá origem ao fenômeno La Niña.

Em anos nos quais predomina o fenômeno atmosférico La Niña, normalmente, o volume de chuvas é menor no Rio Grande do Sul. E embora em alguns anos possa comprometer o bom desenvolvimento da cultura, assegura a produção de grãos com maior qualidade, no que se refere aos teores de micotoxinas e capacidade de germinação. Já no Paraná e em Santa Catarina, sob La Niña, geralmente, o volume de chuvas é maior do que a média, podendo comprometer a qualidade do grão devido ao excesso de chuvas a partir do florescimento e durante o período de enchimento e maturação dos grãos. Nos anos nos quais predomina o fenômeno El Niño, ocorre o contrário. O volume de chuvas tende a ser maior que a média histórica no Rio Grande do Sul e menor no Paraná e em Santa Catarina.

A ocorrência de precipitações muito acima da média histórica tende a ser prejudicial para a cultura da cevada, pois favorece o aparecimento de problemas como maior incidência da doença giberela, causada pelo fungo Fusarium sp, aumento do teor de micotoxinas nos grãos e problemas de germinação em pré-colheita, comprometendo o vigor e a germinação, fundamentais para a produção de malte. Esses problemas têm um alto potencial de tornar os grãos de cevada produzidos inadequados para uso na malteação, trazendo prejuízos ao produtor e obrigando as maltarias a importar maior quantidade de grãos de cevada a fim de atender suas necessidades.

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Uma forma de contornar esse problema é por meio do melhoramento genético. Os programas de melhoramento de cevada no Brasil já buscam, nas novas cultivares desenvolvidas, cada vez maior rendimento de grãos, maior resistência às principais doenças que ocorrem na cultura, maior tolerância ao acamamento e maior qualidade dos grãos para os fins a que se destinam. Com o clima se tornando cada vez mais instável, tem se tornado fundamental o desenvolvimento de cultivares que reúnam todas as características apontadas e que apresentem também estabilidade quanto às características que conferem qualidade ao grão de cevada para uso na malteação, independentemente das condições climáticas sob as quais o cultivo ocorra. Outra possibilidade é a produção no Brasil central, nas regiões de maior altitude, no período do inverno e sob irrigação. No entanto, essa segunda opção esbarra na existência de cultivos mais rentáveis para aquela região e no aumento das distâncias até as maltarias hoje instaladas no País.

Embora desafiador, o melhoramento buscando maior estabilidade nas características de qualidade dos grãos deve ser um dos focos dos programas de melhoramento de cevada cervejeira nos próximos anos, pois é fundamental para assegurar o abastecimento das maltarias, com grãos de cevada de qualidade, todos os anos e em todas as regiões produtoras, reduzindo a necessidade de importação e trazendo maior confiabilidade e segurança na produção nacional de cevada cervejeira.


Aloisio Alcantara Vilarinho é engenheiro agrônomo com doutorado em Genética e Melhoramento de Plantas. Pesquisador da Embrapa desde 2003, ele atua, desde novembro de 2019, como melhorista de cevada na Embrapa Trigo.

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