fbpx

Balcão do Aloisio: Safra 2022 de cevada no Brasil e o melhoramento genético da cultura

A cevada vem sendo cultivada no Brasil desde o início do século passado, porém a expansão do cultivo no país é relativamente recente, ocorrendo a partir de 1970, quando a indústria cervejeira passou a fomentar a produção nacional, a fim de garantir oferta em função do encarecimento do produto no mercado externo. Desde então, a área cultivada no país saltou de pouco mais de 1.000ha, na década de 1930, para quase 94 mil ha, em 1976.  Desse período até os dias atuais, a área cultivada oscilou em torno dos 100 mil ha, com média, do ano de 1976 a 2022, de 107 mil ha. Segundo dados da Conab, em 1981, 1997, 1999 e 2001, a área plantada chegou a ultrapassar os 150 mil ha.

Já em relação ao rendimento de grãos, embora tenha havido ao longo desse período oscilações em função das condições climáticas de cada ano, houve uma tendência de incremento constante. Houve um salto de 1.000 kg/ha, na década de 1970, para 3.812 kg/ha, em 2021, e previsão de um novo recorde de rendimento em 2022, de 4.182 kg/ha. Com isso, a produção nacional também apresenta tendência de crescimento, ultrapassando a barreira de 400 mil toneladas de grãos de cevada em 2019 e 2021 (429,1 e 425,0 mil toneladas, respectivamente) e com previsão de novo recorde de produção em 2022, de 496,8  mil toneladas de grãos.

A principal região produtora de cevada no Brasil sempre foi a Sul, com destaque para o Paraná e o Rio Grande do Sul. Até o início dos anos 2000, o Rio Grande do Sul era o maior produtor desse cereal no Brasil, sendo ultrapassado pelo Paraná a partir de 2006, permanecendo nessa posição até os dias atuais. Além dos estados da região Sul, desde 2008 a cevada vem sendo cultivada também, em sistema irrigado, no estado de São Paulo, com registro nas estatísticas oficiais a partir de 2016. Em 2022, o estado produziu 15.653kg de grãos de cevada, em uma área colhida de 2.690ha e rendimento médio de 5.819 kg/ha, segundo dados do IBGE.

Além da melhoria nas condições de cultivo, com adoção de tecnologias cada vez mais modernas e avançadas no cultivo da cevada, um dos principais fatores que tem permitido esse aumento no rendimento de grãos e, consequentemente, na produção de cevada no Brasil, é o melhoramento genético. Atualmente, são três os principais programas de melhoramento dessa cultura no Brasil: o programa desenvolvido pela Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (FAPA), em Guarapuava (PR), o programa desenvolvido pela Ambev e o desenvolvido pela Embrapa Trigo, esses dois últimos em Passo Fundo (RS). Embora, nos dias atuais, cada instituição tenha seu próprio programa de melhoramento genético, elas sempre atuaram em parceria. Mais de 30 cultivares de cevada já foram desenvolvidas pela Embrapa em parceria com a FAPA e a Ambev e estas chegaram a ocupar de 70% até 90% da área cultivada de cevada no país na década de 1990 até, por volta de 2015. Atualmente, a cultivar mais plantada no Rio Grande do Sul é a BRS Cauê, mas vem crescendo a área cultivada com a ABI Rubi, desenvolvida pela Ambev, que já possui novas cultivares registradas, como as ABI Valente e ABI Gaia. Está em fase final de avaliação da qualidade para malte, na Ambev, a cultivar BRS Kolinda. No Paraná, as duas cultivares mais plantadas são a Imperatriz e a Danielle, desenvolvidas pelo programa de melhoramento da FAPA, que também está com uma nova cultivar registrada, a Princesa.

Por outro lado, o principal fator limitante para o crescimento da cevada no Brasil é o clima que, em função das instabilidades ao longo dos anos, acaba promovendo também instabilidades na qualidade do grão de cevada produzido, gerando incertezas para o produtor, uma vez que grãos de cevada que não apresentem qualidade para malteação são comercializados para outros usos por preços inferiores aos pagos para os grãos com qualidade. Um dos principais desafios do melhoramento genético dessa cultura, na atualidade, é desenvolver cultivares de cevada que apresentem, além de estabilidade no rendimento de grãos, maior estabilidade na qualidade dos grãos produzidos, a despeito das variações climáticas ocorridas de ano para ano, principalmente no Rio Grande do Sul, de forma a reduzir a proporção de grãos fora do padrão, proporcionando maior segurança e rentabilidade ao produtor.


Aloisio Alcantara Vilarinho é engenheiro agrônomo com doutorado em Genética e Melhoramento de Plantas. Pesquisador da Embrapa desde 2003, ele atua, desde novembro de 2019, como melhorista de cevada na Embrapa Trigo.

0 Comentário

    Deixe um comentário

    Login

    Welcome! Login in to your account

    Remember me Lost your password?

    Lost Password