Seca faz presidente mexicano defender fim da produção de cerveja no norte do país

Em meio a um cenário de seca no norte do México, o presidente do país, Andrés Manuel López Obrador, defendeu que a região deixe de produzir cerveja, em função da escassez de água. Para isso, prometeu apoiar empresas que aceitem mudar suas operações para as regiões sul e sudeste do país.
“Isso não quer dizer que não produziremos mais cerveja, quer dizer que não produziremos cerveja no norte – acabou. Se eles quiserem continuar produzindo cerveja, aumentando a produção, então terão todo o apoio para irem ao sul ou sudeste”, disse López Obrador, em entrevista coletiva.
Cidades do norte do México sofrem há meses com a escassez de água, problema provocado pelo esvaziamento das barragens. A Comissão Nacional de Águas apontou que o cenário de seca atingiu 41% do México em agosto, uma alta relevante em comparação aos menos de 25% do mesmo período do ano passado.
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O México é o principal exportador de cerveja do mundo, com vendas estimadas em US$ 5 bilhões em 2021, de acordo com as Nações Unidas. E a maior parte dos seus embarques de rótulos famosos, como Corona, Dos Equis e Modelo, são realizados para os Estados Unidos. De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas e Geografia, 94% das vendas externas em 2019 foram realizados para o país vizinho.
Mas diversas cervejarias possuem instalações no norte do México, caso do Grupo Heineken, com fábricas em Monterrey, Tecate e Meoqui, e do Grupo Modelo, controlado pela AB InBev, em Torreón. Outras indústrias de bebidas, como as engarrafadoras da Coca-Cola Femsa e da Arca Continental também estão presentes em Monterrey, onde também é fabricada a água com gás Topo Chico, de propriedade da Coca-Cola.
O presidente do México, assim, criticou o modelo de negócios da indústria cervejeira, especialmente pelo uso de aquíferos, cada vez menores, para a produção de bebidas que serão consumidas fora do país. Especialistas, porém, questionam a postura ao apontarem que a maioria das indústrias possuem seus próprios poços. “Você não pode dar licenças em lugares onde não há água. Então, vamos intervir. E é para isso que serve o Estado”, afirma López Obrador.
Algumas marcas têm se movimentado diante da escassez hídrica para a população mexicana. Em junho, por exemplo, a Heineken informou que iria ceder 20% de seu consumo desse recurso na cidade de Nuevo León para a rede de serviços de água local. Além disso, prometeu doar um poço de alta profundidade, com capacidade de 3,1 milhões de metros cúbicos de água por ano.
A oposição do presidente do país à presença de cervejarias no norte do México não é nova. Em 2020, por exemplo, a Constellation Brands pretendia se instalar em Mexicali, mas López Obrador ordenou a paralisação do projeto após consulta pública aos cidadãos locais em função da questão da água. A empresa, então, anunciou que se mudaria para o estado de Veracruz, localizado no sudeste do México. As obras, porém, ainda não foram iniciadas.
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