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Rodrigo Sena Beersenses

Balcão Beersenses: Em busca da disrupção cervejeira

Disrupção é um substantivo feminino que significa “romper ou interromper o curso normal de um processo gerando uma ruptura”.  A etimologia da palavra disrupção vem do latim disruptio.onis que significa fratura, ruptura. Em 1995, o termo foi usado pelo professor Clayton Christensen, da Harvard Business School, em sua teoria da Inovação Disruptiva. Basicamente, no mundo dos negócios, uma disrupção acontece quando todo um mercado é impactado por uma ruptura do modelo estabelecido, seja comercial ou logístico.

A disrupção de modelos de negócio não é novidade. Em 1916, o restaurante White Castle, no Kansas, nos Estados Unidos, inventou uma forma rápida e barata de servir hambúrgueres com batatas fritas e bebidas, criando o fast food e rompendo com o modelo tradicional de negócios daquele mercado. Algumas décadas depois, o McDonald’s romperia de novo o processo estabelecido desse mesmo mercado ao criar o formato de franquias.

Nos últimos 30 anos, a tecnologia tornou possível mais rupturas, e cada vez mais velozes. Uber, Netflix, Airbnb, iFood, e outros, são exemplos de plataformas que provocaram disrupção em seus mercados através da tecnologia.

Tendo tudo isso em vista, fiz toda essa introdução para basear o pensamento central desse artigo: será que alguma tecnologia poderia causar disrupção no mercado cervejeiro? Sempre me faço essa pergunta e tento encontrar respostas. E, recentemente, me deparei com uma bela chance de sondar esse assunto na Brasil Brau, o maior encontro profissional do mercado cervejeiro da América Latina, que aconteceu em São Paulo.

Na Brasil Brau, todas as pontas do mercado se encontram: insumos, logística, equipamentos, serviços, profissionais da área. Tudo estava lá. É claro que, por trás de tudo isso, sempre está a tecnologia. Portanto, a minha missão, que eu mesmo me dei, era encontrar algo que tivesse potencial de disrupção no evento.

Sim, vi muitas novidades bem interessantes. Novas variedades de maltes e lúpulos e novas cepas de leveduras, que podem proporcionar novos sabores e mais produtividade. Equipamentos que melhoram a qualidade da cerveja, como um dosador de dry-hopping eletrônico. A IoT (Internet of Things – Internet das Coisas) cada vez mais conectando todo o processo produtivo das fábricas a plataformas que, além de controlar a produção, coletam informações importantes de todo o processo em tempo real.

Conheci uma máquina que, sozinha, lava e enche barris automaticamente, deixando o processo mais rápido e eficiente, eliminando falhas manuais e até mesmo economizando água e produtos de limpeza. Vi uma chopeira que usa gelo seco no lugar do tradicional CO2 para pressurizar a linha de chope. Fui apresentado também a uma Smart Vending Machine, basicamente uma geladeira inteligente que vende garrafas e latinhas de cerveja sozinha.

Todas essas novidades são muito legais, inovações importantes que trazem ganhos operacionais significativos para a cadeia produtiva. Mas estava faltando aquela inovação que iria fazer meu olho brilhar, vislumbrando uma disrupção.

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Até que me deparei com um pequeno estande, nada chamativo, acanhado, num canto da feira. Ali, um empolgado israelense explicava, meio em português meio em inglês, algo que dizia ser novo no mercado. Aviel Dafna, o animado israelense com quem conversei, é presidente de uma empresa especializada em máquinas automatizadas de varejo e geladeiras inteligentes, chamada Progema, sediada na cidade de Fremont, no Vale do Silício.

Ele me mostrou algo com potencial de disrupção, uma solução que une IoT (Internet das Coisas) e I.A. (Inteligência Artificial) para levar conveniência ao consumidor e novos pontos de venda lucrativos para as cervejarias.

O sistema, chamado AiCerv, é uma plataforma que conecta os barris, a geladeira, a logística, o checkout, os clientes e as cervejarias. Parece improvável isso tudo, né, mas não é.

Do ponto de vista do cliente, há um aplicativo para celular no qual é possível pesquisar a localização dos pontos de venda e quais cervejas estão disponíveis em cada ponto. Até aí, nada demais. Mas quando o cliente chega no local escolhido, ele não encontra nenhuma pessoa, apenas uma discreta geladeira com uma torneira de chope em cima, um QR Code e um display com os estilos de cerveja disponíveis. Basta colocar um copo embaixo da torneira, mirar o celular para o QR Code, escolher qual cerveja e qual quantidade deseja e magicamente a torneira libera a bebida. O checkout e o serviço são feitos automaticamente pela plataforma.      

Do ponto de vista da cervejaria, toda gestão está integrada na plataforma. A cervejaria possui uma central de comando onde monitora, em tempo real, a situação de cada geladeira espalhada em diferentes lugares, e acompanha o consumo de cada barril, podendo prever o reabastecimento das cervejas. Então, dá para planejar melhor a logística para reposição, diminuindo custos. Isso só é possível porque os barris e a geladeira estão conectados à internet.

Os barris, aliás, são feitos de fibra de vidro – uma grande inovação por si só. Mas além disso, são barris que não precisam ser trocados. A cerveja é acondicionada em uma espécie de refil de plástico e para a reposição, basta tirar o refil vazio do barril e colocar um novo cheio. Sem transporte de barris, sem lavagem, sem logística reversa.

O sistema de chope dessa máquina também é inovador, abrigando 4 barris de cervejas diferentes e apenas 1 torneira para o serviço. Todas as mangueiras levam a cerveja para a mesma torneira. Isso só é possível porque após cada serviço acontece uma mini CIP (Clean in Place – limpeza no local) automática, evitando contaminação da linha de chope.

Toda essa plataforma permite que a cervejaria espalhe pontos de venda em lugares públicos que hoje não são explorados, como parques, clubes, condomínios, shoppings e muitos outros, além de poder implementar, inclusive, um ponto de venda dentro de bares e restaurantes.

A Progema está no Brasil, baseada na cidade de Salvador, e já conta com 11 cervejarias que aderiram à plataforma. O app AiCerv está disponível nas lojas de aplicativos da Apple e da Google. Se essa tecnologia vai provocar uma disrupção no mercado cervejeiro? Bem, isso eu não sei. Mas que ela nos faz pensar grande e refletir sobre outras possibilidades de inovação no nosso mercado, ah, isso ela faz.


Rodrigo Sena é jornalista, sommelier certificado em tecnologia cervejeira com especialização em harmonizações e responsável pelo canal Beersenses.

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