fbpx

Balcão do Profano Graal: Oktoberfest – História e curiosidades sobre a festa cervejeira mais famosa do mundo

Salve nobres,

Mais uma vez chegamos ao mês de outubro e, nesse ano, eu me dei conta de que ainda não falei aqui nessa coluna da festa cervejeira mais famosa do planeta: a Oktoberfest de Munique. Por ser a mais famosa, você certamente já deve ter ouvido essa história. Mas, mesmo assim, quem sabe eu não trago, nesse texto alguma informação nova, que você ainda não conheça. Então vamos lá!

A festa que se celebra todo ano em Munique teve origem na comemoração do casamento do príncipe herdeiro do então Reino da Baviera, Ludwig de Wittelsbach (1786-1868) e Theresa Carlota de Saxe-Hildburgo (1792-1854), ocorrido em 12 de outubro de 1810. Para celebrar o enlace entre as duas importantes casas dinásticas foi organizada uma grande festa de dois dias (13 e 14 de outubro) nos campos em frente à porta da cidade, que foram batizados em homenagem à noiva de Theresienwiese (“gramado de Theresa”). Exatamente no mesmo local em que ainda hoje se organiza a festa. Todos os habitantes de Munique foram convidados a participar da festa. Para isso, cerveja e comida grátis foram oferecidas em quatro locais diferentes da cidade. O encerramento e ao mesmo tempo ponto alto da festa era a corrida de cavalos que deveria ocorrer no Theresienwiese, com a presença da Família Real da Baviera. Lá, estalajadeiros do centro de Munique montaram barracas para a venda de comida e cerveja.

O enorme sucesso fez com que fosse marcada outra festa para outubro do ano seguinte, e assim começou a tradição. A partir de 1811, como forma de promover a agricultura e a economia da Baviera, foi adicionada à festa também uma feira agrícola. Em 1818 apareceu o primeiro carrossel e dois balanços. Origem do grande parque de diversões que é montado hoje em dia no espaço da festa. E no ano seguinte (1819), a população de Munique assumiu a responsabilidade pela organização da festa, fazendo com que se tornasse um evento anual: a Festa de Outubro. Apesar do nome, desde 1872 a festa tem seu início em meados de setembro, para aproveitar os dias mais longos e quentes do final do verão. E vai até o primeiro domingo de outubro.

Em 1885, a luz elétrica iluminou pela primeira vez as tendas da Oktoberfest. A esse respeito, as grandes tendas que hoje caracterizam o evento surgiram apenas a partir de 1896, quando Michael Schottenhamel mandou erguer o seu Bierburg (“cidade da cerveja”), com capacidade para 1.500 pessoas. Antes disso, as tavernas acomodavam no máximo 50 pessoas. O Bierburg foi projetado pelo arquiteto Gabriel von Siedl, que era sobrinho de Gabriel Sedlmayr (1811-1891) proprietário da cervejaria Spaten e inventor do estilo Munich Helles. E, por isso, a cerveja vendida no Bierburg era a da Spaten. Nas 14 grandes tendas e as 21 pequenas tendas da festa só podem ser comercializadas cervejas das seis grandes cervejarias de Munique: Augustiner, Hacker-Pschorr, Löwenbrau, Paulaner, Spaten e Hofbräu. Já no século XX, esse veto às cervejas de fora da cidade já levantou protestos do príncipe Luitpold, bisneto do último rei da Baviera, e proprietário da cervejaria König Ludwig, produzida em parte no seu Castelo de Kaltenberg, ao sul de Munique. Ele fez várias tentativas de colocar sua própria cerveja na Oktoberfest. Porém, embora ele fosse da família real da Baviera, as regras se mantiveram firmes e suas queixas foram em vão.

Publicidade

Em 1950 foi introduzida a tradicional cerimônia de abertura do festival, em que o Prefeito de Munique abre o primeiro barril, falando a frase: “O’ Zapft is!”. Algo como “Que a festa comece!”. E apenas em 1960 as corridas de cavalos deixaram de ser realizadas e a festa se transformou em um enorme festival, tal como a conhecemos hoje. Além das cervejarias, é montado um parque de diversões, com roda gigante, montanha russa, etc. O programa da festa inclui desfile de carroças de cerveja, desfiles de trajes típicos, concertos de bandas e apresentação de danças folclóricas, entre outras atrações. A festa é frequentada por seis milhões de visitantes de todo o mundo.

Desde o seu início, a festa deixou de ser realizada 26 vezes: Entre 1813 e 1817, devido às guerra napoleônicas; em 1854 em razão de uma epidemia de cólera (epidemia que vitimou a Rainha Theresa); em 1866, quando os exércitos da Baviera estavam apoiando a Áustria na guerra contra a Prússia; em 1873, em mais um surto de cólera em Munique; entre 1914 e 1918, durante a I Guerra Mundial; em 1923 e 1924 devido à hiperinflação gerada pela derrota da Alemanha na I Guerra; de 1939 a 1945, durante a II Guerra Mundial; de 1946 a 1948, mais uma vez devido à situação econômica da Alemanha no imediato pós-guerra, foi substituída por um pequeno “Festival de Outono”; e, finalmente, em 2020 e 2021 devido à pandemia de Covid-19.

A Oktoberfest também já foi palco de um atentado terrorista. Em 26 de setembro de 1980, uma bomba de fabricação caseira, constituída por um extintor de incêndio com 1,39kg de dinamite, explodiu em uma lixeira de um banheiro perto da entrada principal. Treze pessoas faleceram, mais de 201 ficaram feridas, das quais 68 gravemente. A responsabilidade do atentado foi atribuída a Gundolf Köhler, um extremista de direita morto durante o atentado. A versão oficial é a de que ele teria agido sozinho. Mas essa tese é ainda hoje contestada. Foi o segundo ataque terrorista com vítimas fatais ocorrido na Alemanha, depois do atentado ocorrido durante os Jogos Olímpicos de 1972, também em Munique, organizado pelo grupo terrorista palestino Setembro Negro, em que 17 pessoas foram mortas.

Conrad Seidl chama a atenção para o aspecto político da festa. Diz ele que, “muitas vezes se esquece que a primeira Oktoberfest foi uma manifestação política para demonstrar a unidade nacional durante e após as guerras napoleônicas”. Na ocasião, o Reino da Baviera fazia parte do Império Napoleônico como um estado tampão entre a França e a Áustria. Tendo mudado de lado em 1813. Segundo o autor, esse caráter politico da Oktoberfest foi revivido outras vezes, como durante a unificação alemã na década de 1870, sob o regime nazista na década de 1930 (quando a bandeira com a suástica substituiu a bandeira bávara branca e azul) e após a reunificação alemã na década de 1990. Interpretação com a qual eu tendo a não concordar. Porque a Oktoberfest me parece estar muito mais intrinsecamente ligada à manutenção de uma identidade cultural bávara do que de uma identidade alemã.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

História da Oktoberfest. Oktoberfest.net – O guia internacional da Oktoberfest. Disponível em: História da Oktoberfest – Oktoberfest

Oktoberfest. Wikipedia – a enciclopédia livre. Disponível em: Oktoberfest – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

SEIDL, Conrad. Oktoberfest. In: OLIVER, Garret (ed.). The Oxford Companion to beer. New York: Oxford University Press, 2012, p. 813-815.

Reino da Baviera. Wikipedia – a enciclopédia livre. Disponível em: Reino da Baviera – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)


Sérgio Barra é carioca, historiador, sommelier e administra o perfil Profano Graal no Instagram e no Facebook, onde debate a cerveja e a História.

2 Comentários

  • carlos alberto Tavares coutinho Reply

    12 de outubro de 2022 at 09:39

    Parabens, meu amigo.
    Excelente texto.
    Já que os antigos livros nada falavam sobre a história da época, os meios modernos trazem de volta a história antiga.

    • Sergio Reply

      15 de novembro de 2022 at 10:35

      Salve nobre amigo!
      Desculpas pela demora a responder, mas só vi a sua mensagem agora.
      Muito obrigado pelo elogio.

Deixe um comentário

Login

Welcome! Login in to your account

Remember me Lost your password?

Lost Password