Entrevista: A mitologia irlandesa e os segredos de uma marca novata e premiada
Unir precocidade com reconhecimento e boas histórias culturais. O fato é raro e dá um sinal claro do que a St. Patrick’s Beer, marca de Ipeúna (SP) que se inspira na mitologia irlandesa, tem alcançado já no primeiro ano de vida. Tendo feito a sua estreia em um evento do setor em março, no Festival Brasileiro da Cerveja, em Blumenau, e sido oficialmente lançada ao mercado em julho, a marca vem alcançando sucesso instantâneo.
Logo em seus primeiros meses, a St. Patrick’s Beer conquistou medalhas relevantes, como as de ouro com a sua American IPA na Copa Cerveja Brasil e no World Beer Awards, em Londres. A sua Acid Trip também foi reconhecida com a medalha de ouro na edição do Rio do Mondial de La Bière. E a Dry Stout levou o bronze na Copa Cervezas de Américas, no Chile.
O resultado é fruto do que Candy Nunes, embaixadora da St. Patrick’s Beer, define como humildade no processo de concepção dos rótulos, mas também de outros aspectos.
Afinal, a St. Patrick’s Beer surgiu e faz parte da Brew Center Cervejas Especiais, que levou o prêmio de melhor microcervejaria de 2019 da Copa Cerveja Brasil, um concurso organizado pela Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), o que significa o reconhecimento como melhor do setor no país.
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Além disso, Candy conta que a cervejaria se inspira na energia de alegria, celebração e sorte dos Leprechauns, figuras folclóricas da mitologia irlandesa, considerados guardiões de tesouros escondidos e detentores de moedas mágicas.
A lenda diz que esses seres de estatura diminuta vivem nas florestas, sempre vestidos com roupas verdes. E sua felicidade e sorte inspiraram os novos rótulos dessa cervejaria novata, já repaginados para que eles fossem incluídos com a intenção de ampliar essa ligação, exibida, inclusive, em uma série de vídeos.
A associação com uma lenda irlandesa, aliás, não foi à toa. Afinal, foi na celebração do dia de St. Patrick’s, padroeiro da Irlanda, que um dos sócios viveu um dia especial de celebração, comemoração e sorte. Agora, então, busca replicar essa energia na marca. E tem sido retribuído com as medalhas “trazidas” pelos Leprechauns.
Confira, a seguir, a entrevista completa com Candy Nunes, embaixadora da St. Patrick’s Beer.
Como foi sua trajetória até chegar ao universo das cervejas?
Eu sempre trabalhei com arte. Fiz faculdade de interpretação de artes cênicas na UFBA (Universidade Federal da Bahia) e depois vim com uma banda para São Paulo, para abrir um show do Ira!. Aqui fiquei e fiz uma banda, a Orgânica Rock. Fiquei com essa banda até 2011 e trabalhava na Secretaria de Cultura do Estado, no Departamento de Artes e Ciências Humanas. Fui uma das primeiras produtoras a fazer a Virada Cultural. Em 2014, comecei a estudar e a conhecer a cerveja, fiz cursos de sommelier, o curso avançado em tecnologias e o de mestre em estilos, começando a me envolver mais no mercado. Até que fui convidada para ser embaixadora da St. Patrick’s, que era uma marca que estava surgindo, ainda sem vida comercial. Me deparei, então, com um universo maravilhoso, onde não existia apenas a intenção de fazer cerveja, mas a intenção de fazer história, o que foi muito bacana. E eu me encaixei muito nesse papel.
Quando e como surgiu a St. Patrick’s?
A cervejaria Brew Center existe desde 2000. Tinha dois sócios, o Nirlei Baumgartner e seu primo. E durante muito tempo ficou produzindo um tipo de chope, até a sociedade se desfazer. O Nirlei decidiu, então, fazer o chope Vila Alemã, que hoje é o da casa da Brew Center, que é muito difundido no Brasil. A cervejaria começou a ganhar um caráter de qualidade e abriu para os ciganos produzirem com a gente. Ela investiu muito em qualidade pensando principalmente em tecnologia e no laboratório para controle de produção, para manter padrão, e isso ganhou o coração da Brew Center. Nesse ínterim, o Lucas, filho do Nirley e meu chefe, vinha com a ideia de ter uma cerveja artesanal própria. E demorou um tempo para conseguir junto ao INPI a liberação do nome, que tem tudo a ver com cerveja, sendo utilizado em bares e festas. No nosso caso, era específico para a marca de cerveja. Saiu a liberação e aí veio a linha de entrada que a gente tem, que é a Premium Lager, a Hoppy Lager a American IPA e a Irish Dry Stout.
Quando foi o lançamento oficial da cerveja e como está se dando a sua consolidação no mercado?
O lançamento para o público foi em Blumenau, no Festival (Brasileiro da Cerveja), em março. Foi a primeira vez que aparecemos para o público em um estande, com o chope. Depois, começou todo o trabalho para a gente entrar no mercado comercial. E aí veio a parceria com o grupo Multifoods, através da Multibeer, que é quem distribui a gente em todo o estado de São Paulo. E, recentemente, em setembro, começamos a ser distribuídos no Rio de Janeiro pela Premium Brands.
Qual o diferencial para vocês conquistarem tantos prêmios em tão pouco tempo?
Dedicação, amor e humildade marcam a nossa equipe, que é muito unida. Todos somos muito humildes no sentido literal da palavra, que é querer conhecer, querer saber. Ficamos muito atentos ao que os outros nos colocam. E tentamos absorver essas críticas de uma forma positiva e edificante. Desde as primeiras provas das cerveja, com a gente mesmo identificando possíveis off-flavors, a gente foi mudando. O Lucas e o Cauê, que são cervejeiros, foram mudando, até chegarmos em uma qualidade bacana para apresentar ao público. A gente tem duas premissas muito importantes: entregar um produto de excelência e ter um preço acessível.
Em relação aos prêmios, é literalmente merecimento. Pensando que a gente tem três meses de vida comercial e já soma cinco medalhas, a gente fica muito feliz, é um retorno grande do nosso esforço, de toda a equipe, passando por quem faz o café, pelo comercial, por mim, pelo Lucas, pelo cervejeiro, todos envolvidos. Cada um com o seu ponto, mas todos muito unidos.
Como fazer para ter uma cerveja com bom custo-benefício, sendo premiada e não tão cara em um mercado que ainda sofre com a questão dos preços?
Temos um ponto favorável que é ter a indústria, o que facilita em relação aos ciganos, que precisam pagar o aluguel. O equipamento já é da própria marca, o laboratório, os cervejeiros. Tudo isso facilita. Mas o que a gente pensa é em ganhar no volume. Quando pensamos no produto e no público final, o desejo é que o consumidor pegue o nosso six-pack e vá para casa. E não que pegue uma IPA de R$ 30 e mais um pack de uma mainstream. Queremos que pegue todas da cerveja que mais gosta – e que possa pagar por isso.
Mesmo com pouco tempo de mercado, vocês já fizeram algumas mudanças nos rótulos. Como seu deu isso e como foi a inserção dos Leprechauns em cada um deles?
Nossa ideia inicial era fazer com que os rótulos tivessem a característica do Pantone (escala de cores utilizada especialmente na indústria) da cor verde, que possui relação com o St. Patrick’s, só mudando o que estava escrito nos rótulos, a graduação da cor e o estilo. Mas a gente percebeu, depois que surgiu a (Irish) Car Bomb e a Acid Trip (lançadas no Mondial de la Bière Rio) que, junto do resto da linha, seria muito bacana pensar em um rótulo que tenha o Pantone diferenciado, com uma paleta de cores diferenciadas que remetam ao sensorial da cerveja, a seus aromas e sabores. Hoje você vê o rótulo da Car Bomb e sabe que é forte e pesada, com o dourado do uísque. A mesma coisa com a Acid Trip, que é prata com rosa. Você vê logo que é algo diferente, uma cerveja ácida. A gente vai fazer isso com todos os rótulos. E aí veio a ideia de fazer a carinha do personagem com uma sensação emocional em relação a cada rótulo. Na Car Bomb, por exemplo, ele está bêbado como um irlandês, enquanto na Acid Trip tem cara de quem teve uma “viagem”. E isso também vai ter nos outros rótulos.
Como surgiu a ideia de fazer uma série com o personagem e como isso será?
O Leprechaun é uma figura mítica irlandesa. Reza a lenda que quando o ser humano avistava o Leprechaun antes dele avistar o humano, o humano poderia ser conduzido por ele até o pote de ouro, até a fortuna, a sorte. Ele significa isso: o afortunado, o sortudo, de alguma forma, o merecedor, porque encontrar uma figura mítica em uma mata antes dele te ver é muita sorte. A gente tem feito essa brincadeira: que as nossas medalhas estão indo todas para o pote do Leprechaun. Nos nossos vídeos, a gente brinca com isso.
A série é uma forma divertida de a gente levar conteúdo para o público, através de um conteúdo que é uma viagem real. A gente vislumbrou essa ideia de que os Leprechauns invadem a Brew Center na calada da noite e fazem as poções cervejeiras quando não tem ninguém lá utilizando os insumos. No dia seguinte, as pessoas chegam para trabalhar e os tanques estão cheios de cervejas que eles não sabem quais são. Essa é a brincadeira. E a contrapartida para esses Leprechauns é colocá-los nos rótulos.
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