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Entrevista: “Gastronomia está ajudando a colocar as Lambics em destaque”

Na Oud Beersel, Gert Christiaens combina a tradição da produção de Lambics com inovações e investimentos

Por Aline Smaniotto*

Fundada em 1882 por Henri Vandervelden, a Oud Beersel é uma das cervejarias belgas mais tradicionais e lendárias quando se trata de Lambics. Com sede em Beersel, a pouco mais de 10 quilômetros do centro de Bruxelas, tornou-se membro do Conselho Superior para Cervejas Lambic Artesanais (Horal) em 2006.

A cervejaria foi administrada pela família Vandervelden por quatro gerações, mas as atividades de produção foram interrompidas em 2002 devido a dificuldades financeiras e à falta de sucessores, colocando em risco o patrimônio cultural e histórico da Oud Beersel. Em 2005, Gert Christiaens e sua família assumiram o legado, combinando a tradição da produção de Lambic com inovações e investimentos em pesquisa e marketing, trazendo uma nova abordagem — e novos consumidores — para a Oud Beersel.

Em 2023, durante a Semana Selvagem no Brasil, tivemos o privilégio de encontrar Gert. Ele presenteou os participantes com uma palestra sobre a tradição da produção de Lambic, uma oficina de degustação das cervejas da Oud Beersel e uma masterclass sobre o processo de fermentação espontânea.

Além disso, conduzimos uma entrevista com Gert, na qual ele discute a adaptação da Oud Beersel aos novos comportamentos e demandas do mercado, destacando a importância da relação das Lambics com a gastronomia e revelando os esforços da cervejaria para preservar o terroir e a tradição na região.

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Confira os principais trechos da entrevista com Gert Christiaens, mestre-cervejeiro da Oud Beersel:

O que mais te fascina em uma cerveja fermentada espontaneamente?
As cervejas Lambic tradicionais têm sabores tão únicos; elas podem ser combinadas com quase qualquer tipo de prato. O que realmente me fascina nessas cervejas é a digestibilidade e como você se sente bem no dia seguinte depois de beber uma a mais.

Quais são os maiores desafios que ainda enfrenta na produção desse tipo de cerveja?
A questão é que, assim que você resolve um desafio, outro surge. Espaço e dinheiro podem resolver a maioria dos desafios, mas sempre parece que ficamos sem ambos. Então, que esse seja o maior desafio de todos.

Uma das grandes inovações da Oud Beersel nos últimos anos foi a introdução da Beer Box, um sistema de embalagem que permite a venda de volumes menores sem comprometer a qualidade da cerveja. Como você vê a aceitação do mercado desse tipo de embalagem?
A introdução da Beer Box em 2018 foi um conceito muito inovador. Até introduzimos uma espécie de geladeira que serve a cerveja direto de um barril  para bares servirem três cervejas da Beer Box e ganhamos o prêmio de inovação na Horeca Expo em Gent. A ideia por trás da Beer Box era reviver a antiga tradição de servir Lambic ainda do barril de madeira, como costumavam fazer nos bares de nossa região no passado. Com essa embalagem, agora podemos oferecer Lambic ainda em embalagens de pequeno volume em todo o mundo. E realmente estamos enviando essa embalagem para o mundo todo.

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Isso permitiu novas oportunidades de negócios com parceiros que anteriormente não ofereciam as cervejas da Oud Beersel?
Isso nos permite oferecer Lambics em bares que, de outra forma, não poderiam servi-las. Retiramos a necessidade de reservar uma linha de chope para Lambic; os restaurantes podem oferecer cervejas Lambic sem precisar abrir garrafas de Oude Geuze. As pessoas até fazem churrascos em casa com Lambics em uma Beer Box. Isso definitivamente abriu um novo mercado, mas o mercado continua sendo de nicho.

Como você percebe o terroir e a gastronomia no mercado belga atualmente? Você acredita que são os pilares que sustentam a tradição histórica e cultural da produção de Lambic? Como as cervejarias brasileiras podem se inspirar nisso?
A gastronomia está ajudando a colocar as cervejas Lambic tradicionais em destaque. O terroir para Lambic é importante, já que o estilo de cerveja está regionalmente relacionado. Mas acho que os verdadeiros pilares são os produtores e os amantes de Lambic. Estamos fazendo um estilo de cerveja que não é fácil e nem barato de produzir, mas todos nós somos apaixonados pelo que estamos fazendo e queremos ir até o fim. E temos ótimos embaixadores em todo o mundo que apreciam o que estamos produzindo e protegendo.

Nesse sentido, você deu um passo importante para preservar o terroir e a tradição ao decidir cultivar suas próprias cerejas Schaarbeekse — usadas na produção do Kriek Bier —, que são exclusivas da região Lambic e têm se tornado escassas ao longo dos anos. Conte-nos um pouco mais sobre a experiência de ajudar a resgatar a biodiversidade da região e como isso contribui de forma única para o sabor complexo das cervejas Lambic.
As cerejas Schaarbeekse são uma variedade única de cerejas de nossa região, tradicionalmente usadas na produção de Lambics de cereja. Essas cerejas são agridoces quando estão realmente maduras e dão um caráter de cereja muito delicado à cerveja. Construímos um pomar de cerejas da maneira como fizemos nunca foi feito antes. Estamos avançando em campos desconhecidos, procurando a melhor maneira de produzir as cerejas de forma eficiente e eficaz. Isso requer muita paciência, e nos cercamos de especialistas para definir a abordagem para expandir o pomar de cerejeiras.

Durante a Semana Selvagem, você experimentou diferentes cervejas brasileiras fermentadas espontaneamente. Quais foram suas impressões? Houve algum sabor que chamou sua atenção?
Havia inúmeras cervejas interessantes na Semana Selvagem. Quando provo/bebo cervejas, estou sempre procurando por cervejas com sabor equilibrado e uma boa drinkabilidade. Alguns sabores que chamaram minha atenção foram uma Saison envelhecida em barril de gin, algumas azedas com uvas, cerejas e goiaba, e uma Pilsner refrescante.


*Aline Smaniotto é sommelière de cervejas, formada em  Antropologia e organizadora da Semana Selvagem.

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