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Cerveja, plástico e oceanos: Como a poluição do mar afeta o meio ambiente e a pesca

oceanos plásticos
Torneio de Pesca de Plástico ocorreu na Praia da Cocanha, em Caraguatatuba, para dar visibilidade a problema ambiental

A poluição marinha por plásticos nos oceanos do mundo é alarmante, mesmo com um trabalho de reciclagem relevante em muitos lugares, como no Brasil, onde cerca de 3,4 milhões de toneladas de plástico são recicladas por ano, conforme informações do Plano de Incentivo à Cadeia de Plástico (PicPlast). Ainda assim, é pouco. E a maior parte dos materiais plásticos está acumulada em aterros e lixões ou mesmo espalhadas pelo meio ambiente, principalmente nos oceanos, afetando a biodiversidade e os profissionais que tiram o seu sustento das águas.

Afinal, a indústria brasileira produz anualmente cerca de 500 bilhões de itens plásticos descartáveis, o que representa, aproximadamente, 15 mil itens por segundo, como mostra um estudo da organização Oceana Brasil. E a discrepância entre os dados de fabricação de plásticos, muitos deles pelas indústrias de bebidas, e da sua reciclagem indica o tamanho do impacto ambiental desse material.

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Na tentativa de jogar luz na sociedade para esses efeitos, a cervejaria Corona realizou, em fevereiro, o Torneio de Pesca de Plástico pela defesa dos oceanos. Realizado com o apoio das ONGs Guardiões do Mar, do Rio de Janeiro, e Associação Caraguatás Ambiental, de Caraguatatuba (SP), o evento compensou e premiou os profissionais participantes da Associação dos Pescadores e Maricultores da Praia da Cocanha (APMPC).

A associação atua para proteger e fortalecer a cultura e o modo de vida dos pescadores e maricultores da Praia da Cocanha. Atualmente, conta com 17 maricultores e 25 pescadores. “O plástico prejudica de muitas formas a atividade de pesca, desde a contaminação do pescado com microplástico até a poluição do fundo do mar, além de afetar a superfície e dos ambientes mais importantes como manguezais, rios, ilhas, praias e costeiras, acabando com a vida marinha por causa do acúmulo de lixo”, conta José Luiz Alves, membro da APMPC.

O evento reuniu cerca de 55 pescadores, de acordo com a Corona. Em um único dia, mais de 1 tonelada de resíduos que prejudicam a vida marinha foram retirados do mar, sendo metade (500kg) só em plástico. “Os resultados foram muito bons principalmente porque ajudaram a limpar as praias, rios e costeiras do local, ainda contribuindo com a renda dos pescadores”, destaca Alves.

Os pescadores foram remunerados pelo período dedicado ao torneio e por cada quilo de resíduo recolhido do mar durante o período. Os três competidores que retiraram a maior quantidade de resíduos da água também receberam prêmios com quantias adicionais. Foram 3 prêmios principais para os melhores colocados: o 1º lugar com R$ 3 mil; o 2º com R$ 2 mil e o 3º com R$ 1 mil.

A comunidade ainda será contemplada com a reforma do principal galpão do local, onde os pescadores guardam seus barcos e materiais de trabalho, além de usá-lo para outras atividades culturais. “O Torneio de Pesca de Plástico é um exemplo de iniciativa que une as comunidades para ajudar o meio ambiente e ainda apoia economicamente as regiões, em parceria com trabalhadores que sustentam suas famílias a partir da pesca”, afirma João Pedro Zattar, chefe de marketing de Corona.

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Além do Brasil, o Torneio de Pesca de Plástico foi realizado na China e em Israel neste ano, com a sua primeira edição tendo ocorrido no México em 2021. E há previsão de expansão para Colômbia e África do Sul ainda em 2022. Globalmente, contou com a ajuda de 150 pescadores durante 15 horas, retirando mais de 5 toneladas de plástico do mar até agora.

Plásticos: Perigo aos oceanos
Pela primeira vez realizado no Brasil, o Torneio de Pesca de Plástico se deu na Praia da Cocanha, em Caraguatatuba, onde a principal fonte de renda financeira e alimentar dos moradores advém da pesca de mexilhões. Este tipo de pescado é comum localmente, sendo 100% impactado pela poluição por absorver qualquer tipo de impureza, o que o deixa impróprio para consumo e venda. 

A comunidade de pescadores da região também depende da pesca de outras espécies, como tainha, porquinho, robalo, prejereba e sororoca, assim como dos camarões sete barba, branco e rosa.

Mas, ainda que a pesca e a maricultura sejam atividades fundamentais aos moradores da Praia da Cocanha, falta apoio, regulamentação e incentivos financeiros, assim como não existem parcerias com empresas e o governo.

E a comunidade da Praia da Cocanha não é a única a sofrer com a situação. A Oceana aponta que mais de 50 milhões de brasileiros vivem em cidades costeiras e sofrem diretamente com os impactos do lixo plástico no mar. “Foi muito importante [o torneio], pois ajuda a mostrar como as parcerias com as empresas podem melhorar muito a vida dos pescadores e a qualidade do meio ambiente”, completa o pescador.

Se a saúde humana corre riscos, a renda dos pescadores e o turismo também sofrem impactos diretos com a presença dos plásticos no oceano. Somente o Brasil polui os mares com 325 mil toneladas de lixo plástico por ano, de acordo com a Oceana.

Além disso, ao longo de uma pequena porção da costa nas regiões Sudeste e Sul, já foram coletados e necropsiados mais de 3,7 mil animais que ingeriram resíduos plásticos. Desses, 10% morreram devido à ingestão do material, sendo que 85% eram de espécies ameaçadas de extinção.

Assim, iniciativas que ajudam o meio ambiente e as regiões mais impactadas pela poluição dos plásticos são fundamentais para a manutenção, recuperação da vida marinha e atividade diária de milhões de pessoas. E necessitam do engajamento da indústria de bebidas.

Decisão histórica
Mais iniciativas, aliás, deverão ter de prosperar após uma recente decisão histórica. A quinta sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente foi concluída na semana passada com a adoção de uma resolução para acabar com a poluição plástica, abordando todo o ciclo de vida desse material, desde a produção até o descarte. No encontro, 175 países concordaram por unanimidade com um documento da ONU que exige regras globais, financiamento e mecanismos de aplicação.

As empresas de bebidas devem ser as principais afetadas, na avaliação da Oceana. “São os principais poluidores oceânicos e estão produzindo bilhões de garrafas plásticas todos os anos que acabam no mar, para sempre”, afirma Andy Sharpless, CEO da organização internacional.

A Oceana divulgou um relatório em 2020 apontando que a indústria de bebidas poderia diminuir a poluição marinha por plásticos entre 4,5 bilhões e 7,6 bilhões de garrafas por ano caso aumentasse a participação de garrafas reaproveitáveis em apenas 10%, substituindo as PETs descartáveis e de uso único.

1 Comment

  • Nilandio C. Leite Reply

    11 de março de 2022 at 09:19

    Bato palmas pela interrupção da fabricação na Rússia: muita poluição que será evitada!
    Mas aqui no Brasil, a empresa bem que poderia instituir a garrafa de vidro retornável. Isso evitaria milhões de garrafas, one way principalmente descartadas e abandonadas em qualquer lugar. É só olhar e está lá a verdinha!
    A “cracudinha” não se vê, pois é retornável!

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