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Balcão Xirê Cervejeiro: Opiniões e desafios do universo das cervejas sem álcool

Olá, seguidores/as e leitores/as do Guia da Cerveja! Estou de volta ao Balcão Xirê Cervejeiro e, desta vez, quem norteará nossa conversa são as cervejas sem álcool.

O mercado cervejeiro está testemunhando uma conquista de espaço pelas cervejas não alcoólicas, não sendo um modismo.

Por diversas razões, seja por questões médicas, por restrições alimentares, por questões culturais ou religiosas, ou simplesmente por querer interromper por um tempo o consumo de álcool, mas sem querer de deixar de sociabilizar, muitos/as consumidores/as ou bebedores/as de cervejas, têm, de forma consciente, optado por consumir cervejas sem álcool.

O consumo de cervejas com graduação alcoólica baixa ou zero vem se tornando tendência entre a população brasileira e atingindo faixa etária diversas. 

Mas algo que tem chamado a atenção é que os estilos de cervejas e as cervejarias que se dedicam às não alcoólicas ainda são escassos, sendo essa uma queixa muito comum entre os consumidores de cervejas álcool free.

Dias atrás, estava em uma festa e encontrei o escritor Paulo Scott e o vi tomando cerveja sem álcool. Foi em razão desse encontro que surgiu a motivação para escrever sobre as cervejas não alcoólicas. E decidi trazer para vocês a fala de quem consome cerveja sem álcool e o que essas pessoas esperam do mercado cervejeiro. Para tanto, duas perguntas norteiam nossa conversa:

1-       Por que você começou a tomar cervejas sem álcool?

2-       É fácil para você encontrar estilos de cervejas sem álcool nas gôndolas de supermercados e locais especializados? Quer deixar alguma sugestão para o mercado cervejeiro?

Paulo Scott, advogado e escritor:
“Parei de beber por causa de uma condição orgânica que surgiu e por recomendação médica: me foi sinalizado que o melhor seria parar de consumir álcool e açúcar. Eu optei por interromper o consumo de álcool e, depois de um tempo, comecei a tomar cerveja sem álcool, porque foi uma dica de uma nutricionista, e me adaptei bem. Hoje, as cervejas sem álcool são melhores do que eram no começo do século. As opções são maiores. Veja, por exemplo: tem a Guinness sem álcool, que é quase impossível de conseguir por aqui no Brasil, mas é uma ótima cerveja. Há cervejas nacionais muito boas, não vejo problema nenhum em substituir a cerveja pela opção sem álcool.”

“Encontrar cervejas nas gôndolas dos mercados não é fácil, não. Têm algumas grandes marcas que garantem alguns rótulos nas gôndolas, mas nos pequenos mercados, há dificuldade em encontrá-los. E mesmo nos grandes, às vezes encontro cinco, seis rótulos diferentes, mas não há constância na oferta, o que me obriga a fazer estoques. Quando vou em alguma festa ou restaurantes, levo a minha cerveja, pois não sei o que irei encontrar. Me adaptei bem a essa realidade, inclusive, sinto um benefício bastante significativo que vem do consumo controlado da cerveja sem álcool. Inclusive, já escutei de alguns atletas que identificam benefícios nesse consumo.” 

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Ines da Silva Gomes, professora de Geografia:
“Aprendi a beber cerveja depois dos 30 e, por isso, considero que o álcool faz parte da bebida. Quando estou dirigindo, bebo outro tipo de bebida sem álcool. Uso a cerveja sem álcool quando preciso me abster por causa de medicação que não pode misturar com o álcool. Nesses casos, acho que os estabelecimentos comerciais oferecem pouca variedade de qualidade, às vezes uma ou duas opções.  Cada um tem um paladar e nem sempre a única opção é agradável.  Eu somente vi uma marca especifica que tinha variedade sem álcool (black, tostada e Lager), mas o único lugar que achava para comprar era o mercadinho perto de casa, e há meses não oferta mais essas opções. Tenho um amigo que tem um problema crônico e não pode beber álcool nunca. Acredito que as empresas poderiam investir mais nesse grupo de clientes. Acho o preço caro. Alguns locais ofertam a cerveja sem álcool com um preço maior do que a com álcool.”

Josiane Oliveira, professora:
“Consumo a cerveja sem álcool por questões de segurança, como não beber bebida alcoólica antes de dirigir. Outro motivo foi para experimentar cervejas com diferentes sabores e aromas diferentes dos tradicionais. Por fim, me parece que há uma romantização da ingestão de bebidas alcoólicas como forma de anestesiar os dissabores da vida e não de apreciação dos sabores da cerveja. Então, beber cerveja sem álcool se torna uma possibilidade de aproveitar os sabores da vida, os sabores de frutas locais, de forma consciente.”

“Não é fácil encontrar, porque me parece que cerveja sem álcool é algo relacionado ao mercado ‘gourmetizado’, como se as possibilidades de degustar algo não pertencessem às pessoas empobrecidas. É como se pessoas pobres não tivessem o direito de degustar sabores, mas só de se embriagar de dissabores. As opções desse tipo de cerveja acabam sendo, em grande medida, as cervejas artesanais. A sugestão seria fazer mais ações promocionais nos pontos de venda, para maior divulgação, assim como parcerias com grupos e patrocínios de eventos para divulgar mais opções, além de investimento em pesquisa para termos cervejas sem álcool com sabores locais.”

Thais Pontes de Oliveira, advogada:
“Consumo cervejas sem álcool há 15 anos, sempre no período da Quaresma. Inicialmente, foi por ideologia religiosa, mas hoje, fico em abstemia pelo bem-estar. Hoje há variedades de cerveja sem álcool. Encontro com facilidade. Minhas preferidas são Heineken 0.0 e Budweiser Zero.”


Pode-se inferir, a partir dos relatos das pessoas entrevistadas, que há bastante interesse no consumo das cervejas artesanais sem álcool. A maioria relatou que há dificuldade em encontrá-las nos espaços que frequentam. Penso que o mercado deverá olhar com maior cuidado e carinho para esse público, que vem crescendo de forma sistemática e será cada vez mais exigente, como deve ser.

Para encerrar, deixo uma dica de leitura, “Marrom e Amarelo” de Paulo Scott, uma leitura necessária para se pensar o Brasil. Para acompanhar, uma cerveja IPA sem álcool. A temática tratada no livro é amarga, porém, inevitável de abordar. A cerveja, embora sem álcool, traz ali um amor que muitos gostam. Desse modo, o amargo dos assuntos tratados no livro e o amargor presente na cerveja acabam encontrando um equilíbrio e uma suavidade.

Até a próxima coluna!


Sara Araujo é graduada em Ciências Jurídicas pela Instituição Toledo de Ensino Bauru (SP) e atua na área de execução penal. É graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (PR), pós-graduanda em história da África e da Diáspora Atlântica pelo Instituto Pretos Novos do Rio de Janeiro, sommelière de Cervejas pela ESCM/Doemens Akademie e criadora e gestora do @literaturanobar.

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