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As razões e previsões que levaram o Grupo Petrópolis a apostar no lúpulo brasileiro

Companhia cultiva lúpulo em uma fazenda na Serra Fluminense, em Teresópolis, comercializando parte da sua produção

Investir no lúpulo tem sido um dos focos recentes do Grupo Petrópolis. Em um cenário em que a produção movimenta cerca de US$ 1 bilhão no mundo, anualmente, a companhia vem buscando desenvolver o cultivo da planta, uma atividade ainda reduzida no Brasil. O plano envolve o seu aproveitamento no mercado cervejeiro, mas também em um cenário de múltiplos usos, como nas áreas gastronômica e farmacêutica.

Embora seja o terceiro maior produtor de cerveja do mundo, o Brasil ainda tem uma participação incipiente no cultivo do lúpulo. Um cenário que pode ser alterado, de acordo com Diego Gomes, mestre-cervejeiro e diretor industrial do Grupo Petrópolis. Para ele, o país deveria ter uma relação mais familiar com o lúpulo. E, a partir daí, até desenvolver o seu próprio terroir.

Leia também – Artigo: Como leveduras cervejeiras sobreviveram 120 anos em um navio

“O mercado de bebidas representa 2,5% do nosso PIB e, para nós, é muito importante que tenhamos uma relação mais familiar com o lúpulo e que rompamos barreiras significativas, como a de que no Brasil não dá lúpulo. Já provamos que dá lúpulo, de qualidade, e que faz cervejas sensacionais”, destaca Gomes.

O assunto foi abordado na palestra “Mercado cervejeiro e tendências: o lúpulo vem forte”, durante o 33º Congresso Abrasel, realizado na última semana, com a participação do executivo do Grupo Petrópolis. Em 2018, em parceria com o Viveiro Ninkasi, a sua companhia deu início ao projeto de produção de lúpulo, tendo realizado investimento de R$ 2,5 milhões na região serrana do Rio de Janeiro.

Gomes aponta que a atuação do Grupo Petrópolis para ter uma produção nacional de lúpulo coincide com o crescimento do movimento de cervejarias artesanais no Brasil. Algo que, na sua visão, tem mudado o modo de consumo da bebida pelo público e, claro, levado ao surgimento de novas demandas.

Em abril, inclusive, o Grupo Petrópolis iniciou a venda de parte do lúpulo cultivado em sua fazenda, em Teresópolis. A comercialização – a primeira realizada por uma companhia de grande porte no país – tem como foco atender as pequenas cervejarias.

“A gente sempre teve um viés de desenvolvimento muito enraizado aos nossos valores, mas, desde 2012, quando realmente chegou no Brasil o movimento das artesanais, começamos a surfar nisso porque a gente sempre considerou esse movimento importantíssimo”, comenta Gomes. “Isso valoriza o pequeno e o local.”

Percebendo essa valorização da experiência do consumidor, o Grupo Petrópolis tem investido desde então em novas opções e formatos. Assim, por exemplo, adquiriu a Brassaria Ampolis e lançou vários rótulos especiais através da marca Black Princess. É o caso, por exemplo, da Braza Hops, que possui lúpulo cultivado pela companhia em Teresópolis.

“Essa mudança de perfil do consumidor fez com que inúmeras cervejarias aparecessem no Brasil e a gente teve um boom de microcervejarias. Desde pessoas que eram apaixonadas até as que faziam cerveja em casa e as que começaram a investir pesado nisso”, avalia o diretor industrial da empresa.

Em outras frentes, o Grupo Petrópolis também reforçou o olhar aos pilares da cultura e da educação no setor. Assim, adquiriu a antiga unidade do Senai em Vassouras (RJ). Após 23 anos de atuação, a escola anunciou o encerramento das atividades de formação e capacitação de profissionais do mercado cervejeiro brasileiro em 2016. “A gente pensou assim: não pode deixar essa escola morrer. Essa que formou líderes por muito tempo e não pode terminar aqui a jornada”, relembra Gomes.

Aprendizado e qualidade
Comprado pelo Grupo Petrópolis em leilão, o espaço abriga hoje o Centro Cervejeiro da Serra, dedicado a estudos e experimentos para o aperfeiçoamento da bebida. O local possibilitou o salto da plantação laboratorial e experimental da companhia para a escala comercial de lúpulo, tendo sido fundamental no desenvolvimento do projeto que permitiu a produção própria do ingrediente.

Para o diretor industrial, o investimento no lúpulo nacional deve render melhora na qualidade da cerveja e na diversidade de características da bebida. “Quando a gente nacionaliza ou está próximo de uma cultura como a do lúpulo, temos uma curva de aprendizagem que é muito superior à geração de valor e à capilaridade econômica que pode ter por trás disso. A gente passa a ser dominador de algo que tradicionalmente não aprendemos durante muito tempo. Existe, assim, um oceano tão grande e rico que quando pensamos no futuro, parte disso é, sim, um universo de variedades de cervejas e de aplicações do lúpulo.”

Segundo o mestre-cervejeiro e diretor industrial do Grupo Petrópolis, essa variedade de aplicações do lúpulo já vem sendo explorada com a valorização da experiência sensorial por trás de sua utilização. “A gente está aprendendo agora [como cultivar], mas com certeza fará com que, nos próximos anos, tenhamos uma valorização imensa de cervejas e que possa aparecer um terroir que só tem aqui.”

O executivo do Grupo Petrópolis reconhece que as necessidades da cultura do lúpulo, como qualidade do solo e tempo de exposição à luz solar, ainda estão sendo entendidas pelos responsáveis por seu cultivo no Brasil. E destaca as amplas possibilidades de utilização da flor, que vão além da produção cervejeira.

Olha como é interessante fazer a projeção, porque existe muita coisa linda para acontecer por trás de algo que a gente ainda vai plantar e que, sim, economicamente é importante. Aprender e dominar essa cultura para fazer cerveja porque vai ter aplicações mais frescas, diminuição de inventários, menos influência de moeda. Economicamente é linda toda essa história e os números mostram isso, mas além disso existe uma oportunidade para o pequeno produtor, para o associativismo, para a gastronomia e para a indústria farmacêutica

Diego Gomes, diretor industrial e mestre-cervejeiro do Grupo Petrópolis

2 Comentários

  • Rodrigo Baierle Reply

    17 de agosto de 2021 at 08:27

    Ótima reportagem!
    A entrada de grandes players alavancou muito o cultivo de lúpulo no Brasil.
    Só uma ressalva: Lúpulo não é commodity
    Lúpulo Brasileiro é realidade!

    • guiadacerveja Reply

      17 de agosto de 2021 at 09:25

      Obrigado pela ressalva, Baierle. Já fizemos a correção no texto

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