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Artigo: Adelante! Barcelona brinda a volta de eventos profissionais com o InnBrew

InnBrew seguiu três eixos principais: a exposição de produtos e serviços, a formação e debates e o networking

*Por Andreia Gonçalves Ribeiro

Benvinguts a Catalunya! Foi na belíssima e quente Barcelona que o InnBrew – The Brewers Connection teve palco. Foi o primeiro evento pós-pandemia a reunir os profissionais do setor cervejeiro do Sul da Europa, entre os dias 22 e 24 de julho, em um espaço de 3.000m² no La Farga de L’Hospitalet, com palestras, debates e workshops, além da celebração do impulso necessário para a retomada dos negócios cervejeiros. E, por que não dizer, para comemorar o reencontro de gente que manteve o mercado de cerveja respirando em meio a uma pandemia?

Realizado pelos mesmos organizadores do Barcelona Beer Festival (BBF), a BeerEvents, o InnBrew é uma evolução do BBFPro, que antes era celebrado junto à festa ao redor dos estilos de cerveja. Uma festa já consolidada que teve sua nona edição cancelada pela pandemia a dois dias de acontecer em 2020. Foi uma lástima. E nem imaginávamos o que iria acontecer…

O InnBrew nasceu da necessidade do encontro e seguiu três eixos principais: a exposição de produtos e serviços (InnShow), a formação e debate (InnTalks) e o networking (InnMeet).

Leia também – Como a Seasons levou o tema da preservação da Amazônia ao meio cervejeiro

Mikel Rius, organizador do evento junto com Joan Fiol, destaca que a criação do InnBrew se deu em um momento que é reflexo da “maturidade do setor de cerveja no país”. “Já está à altura de outros para que tenha uma convenção independente onde os cervejeiros possam assistir para atualizar sua formação e poder fazer negócios, como já acontece em outros países.”

InnShow: quem não é visto não é lembrado
Estamos no verão e a grande maioria das pessoas está em férias, mas, mesmo assim, o InnBrew mostra potencial para se consolidar. Nos 35 estandes montados era possível encontrar maquinário moderno destinado a produtores e fabricantes, além de matérias-primas inovadoras que chegam para garantir ainda mais qualidade nos produtos.

Quando comparo a Brasil Brau ou o pavilhão do Festival Brasileiro da Cerveja dedicado ao setor profissional com o InnBrew, destaco a presença de associações. Esse é um tema que merece um texto à parte. Uma reflexão necessária e pontual não só em tempos de crise, mas em um tempo no qual sabemos que diversas pautas devem ser levantadas, assim como tentaram fazer por aqui. Entre elas, estavam a Associação Espanhola de Técnicos de Cerveja e Malte e grêmios representantes de diferentes territórios, como a novata das Ilhas Baleares e a AECAI nacional, que veio de Madri.

Algumas das empresas presentes foram a Agrovin, de equipamento para a produção de cerveja, a EasyBräu e a Wild Gose, de sistemas flexíveis de engarrafamento. Patrocinadora dos InnTalks, a Brew & Hub, que é um espaço onde cervejeiros artesanais podem distribuir suas cervejas com todos os controles de qualidade, e a Biolupulus, cooperativa de produtores locais de lúpulo orgânico, também participaram.

Em matéria-prima, destaque para Molina for Brewers, uma empresa que ajuda a desenvolver novos produtos e patrocina o Prêmio de Inovação Cervejeira; a reconhecida Casttle Malting, produtora de malte mais antiga da Bélgica, desde 1868; e a InterMaltaCraft, com mais de 40 anos de experiência como fornecedora no país.

InnTalks: ouvir para aprender
A programação tinha dois momentos. O primeiro, patrocinado pela Brew&Hub, trazia profissionais ligados ao universo cervejeiro para palestras sobre temas variados, na maioria deles, técnicos envolvendo matérias-primas, soluções para cervejarias, qualidade… Tudo o que uma feira profissional tem de oferecer.

Giovanni Campari (Biomerieux) apresentou “Os pilares fundamentais para uma cervejaria de sucesso” e creio que foi a palestra que mais teve público. Afinal, quem não quer ter resultados com seu negócio? Outra que reuniu muita gente foi a do argentino Nicolás Mohamed (Beer Management) com o tema “Deixando a planilha para trás”. Fui conversar com ele, argentino, mas ele torce para o Boca Juniors e, infelizmente, não pudemos avançar no maior entendimento, dois dias depois de o meu Galo eliminá-los da Copa Libertadores. “Lo siento, hermano”.

Javier Aldea, da Brew & Hub, orquestrou duas palestras: “Como melhorar os processos de negócio em uma fábrica de cerveja artesanal” e a que me fez felicíssima, “Beer in Haute Cuisine (Cerveja na Alta Gastronomia, em tradução livre)”. Como dizem, “um nivelaço”. Estou até agora pensando em um tartar de salmão que tinha no creme de wasabi, flor de lúpulo, explicando mal e porcamente. Bom, deve ser porque era uma das poucas que eu tinha condições de entender, já que “sou de Humanas”, ou seja, não sei produzir cerveja. Fernando Gómez (Wild Goose), por exemplo, explanou sobre “Gestão do oxigénio dissolvido em recipientes para bebidas”. Nessas horas, só uma cerveja para disfarçar…

Como investigadora na área de turismo gastronômico, é óbvio que puxo a sardinha para o meu lado e coloco como ponto alto da feira a primeira palestra. Ana Perallada, chef e restaurateur que está desde 1993 no setor em um restaurante conduzido por sua família desde o ano de 1751 (é isso mesmo, gente), convidou os cervejeiros a conhecerem a realidade da gastronomia, setor que é um grande prescritor do produto. Em uma investigação que conduzi via Universitat de Girona e financiada por um órgão estatal, uma espécie de ministério do turismo e conhecimento daqui, uma das conclusões obtidas foi que a cerveja artesanal precisa andar de mãos dadas com a gastronomia. Mas aí também já é outra palestrinha e precisamos agora focar no evento.

InnMeet: debater para chegar a soluções conjuntas
Nas tardes, era hora do debate. Ninguém melhor do que a vice-presidenta do GECAN (Grêmio de Elaboradores de Cerveja Artesanal da Catalunya), Judit Cártex. Quando a conheci, em 2018, ela dizia que preferia não dar tanto a cara. Grande ilusão, hoje ela é a própria cara da cerveja artesanal. Querida, sincera, assertiva e com uma rapidez de análise únicas. Tudo isso, recheado de muito “me perdoem” pelos impulsivos e reais palavrões. Impossível não amar alguém que trata todo mundo como igual e luta pelo coletivo com uma voz de comando maternal. “La Cártex” levou ao palco discussões sobre temas como a comunicação e digitalização em cervejarias, assédio, protocolos e turismo cervejeiro.

“”Estamos super felizes de celebrar, enfim, um evento cervejeiro! Muito profissional, de intercâmbio de conhecimento e reencontros que é o que mais nos encanta. E muita cultura cervejeira”, disse Judit.

Em todos os temas, muitas elucidações e ideias conjuntas. E tome caderninho de anotações! Essa capacidade de ouvir o outro e reconhecer nele o que lhe falta para aprender é uma característica peculiar que observo. Tanto que, sem dúvidas, a mesa redonda que mais gerou interesse foi o “Primeiro encontro de associações de produtores de cerveja”, que reuniu representantes de cinco comunidades autônomas e, “tcharam”, descobriu-se mais uma associação recém-criada ali mesmo na plateia. Essa troca é muito empolgante de se ver. No fim, até voltei de metrô junto com a novata, vinda da Galícia. Veio à Catalunha em busca de estágio para aprender técnicas para melhorar sua produção. Mais uma mulher dando a vida pela cerveja, com aquela vontade efervescente de fazer algo pelo setor.

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Exposição
Assim como no FBC, há oito anos aqui rola o prêmio do Barcelona Beer Challenge. Após a edição virtual de 2020, esse ano foi celebrada a sexta edição, e a Basqueland Brewing levou o prêmio por ser a que mais recebeu medalhas. Os organizadores resolveram fazer uma exposição mostrando os últimos ganhadores como melhor cervejaria, melhor cervejaria nova e o prêmio inovação dos anos anteriores, além dos estilos laureados em 2021.

A premiação não segue tão à risca as premissas do BJCP para a definição das categorias, mas vai em acordo a uma construção social própria ao redor da cerveja. Da mesma maneira que um estilo como Catharina Sour entra como “Cervejas Locais”, há uma premiação específica para as “Italian Grape Ale“, estilo precursor das “Catalán Sour Ale” ou só “Catalán Ale“, uma classificação própria das cervejas do território. Nada oficial, mas falamos de uma zona que tenta marcar sua identidade não só social e política, mas que alcança níveis até mesmo na cerveja.

Prêmio Steve Huxley
Aqui é a hora do choro. Não há como não se emocionar vendo as personalidades mais queridas – e indicadas pelos próprios cervejeiros – a disputar a terceira edição do prêmio que leva o nome do pioneiro da cerveja artesanal da Catalunha. Steve Huxley, natural de Liverpool, foi quem ensinou, treinou, juntou as pessoas e aproveitou a vida até falecer de um câncer em 2015. É um prêmio que reconhece o esforço de profissionais que geram valor à cerveja artesanal, a divulgam e, como Steve, une, inova e troca conhecimento para a consolidação de um setor que não passa de debutante.

Na edição virtual de 2020, Albert Barrachina recebeu o prêmio. Professor e mestre cervejeiro, ele é o rei da análise sensorial e quem mais impulsionou o treinamento de degustações para reconhecimento de estilos. Já em 2019, o primeiro reconhecido foi Carlos Fernandez da Ales Agullons. Sério! Esse cara é uma das pessoas mais especiais que eu já conheci e, junto com sua mulher, Montse Virgili, eles são uma dupla que é puro carinho e responsáveis pela Mostra de Cervesa a Mediona, a feira que parou na 14ª edição e somou mais duas virtuais. É no sítio deles que rola o Zwanze Day daqui.

Foi Carlos quem repassou, aos prantos, o prêmio a Andrew Dougalls, ganhador desse ano. Depois dizem que os catalães são durões… É nada! Dougalls é mais uma das personalidades reconhecidas por sua fraternidade, alguém que acolhe a todo mundo e faz umas cervejas que são “la ostia” de tão boas! Colab é com ele mesmo.

Ainda sobre Steve Huxley, que tem toda uma ode de admiradores que choram bêbados lembrando de suas histórias, ah, tem que ser um texto inteiro. O cara era “brutal”, como utilizam aqui como adjetivo máximo. É óbvio que não o conheci, mas queria ser amiga.

“Brewed by women, not machines”
Diferentemente do Brasil, a Pink Boots Society segue à risca seu trabalho de promover, acolher e dar valor às mulheres do setor. As brassagens ultrapassam o simples encontro social militante que muitos dos machistas de plantão acreditam que seja. O dinheiro obtido com a venda dessas cervejas vai direto para universidades e centros de formação especializados para bancar as necessidades e ilusões de mulheres que necessitam desse apoio para crescer em suas carreiras. Uma visão global e setorial.

Uma das discussões em uma das mesas redondas foi exatamente sobre assédio sexual, junto à exploração de estagiários e toda a carga horária e os baixos salários. Vale lembrar que a maior cervejaria daqui deve ter cerca de oito ou nove funcionários, com produção anual de 400 mil litros, pela última sondagem de pesquisa que fiz. É um cenário muito distinto ao do Brasil. Em um resumo bem precário, digamos que aqui todo mundo faz de tudo, cobre os espaços que faltam, vai da logística ao marketing, com expressividade individual, obviamente, ao trabalho do mestre cervejeiro.

O perfil dos chefes de produção na Catalunha é majoritariamente de homens de 30 a 40 anos. No entanto, nomes como o de Judit Cártex na Cervejaria Del Montseny, Sonia Merino da AsCervecers e professora no curso tecnólogo da Universidade de Alicante, Judit Piñol da DosKiwis Brewing e Lorena Bazán, presidenta da Pink Boots, sempre são solicitados. As mulheres não são a maioria, mas profundas conhecedoras de diferentes temas que as levam ao destaque.

E brasileiros?
Brasileiras, hehe! Renata, sócia da Reptilian, e eu éramos as representantes tupiniquins.

Tá, mas aí não tem pandemia?
A primeira grande questão que acredito deva ter vindo à sua cabeça é “e como no meio desse quiproquó todo?”! De acordo com o Ministério da Saúde, a Espanha tem hoje mais de 50% da população com a “pauta completa”, expressão utilizada para referir-se a quem já tomou as duas doses. E a agulha vai além de braços cringes tatuados. A turma de 16 já começou a receber a primeira dose, no entanto o país passa pelo crescimento da quinta onda e todo cuidado é pouco.

As restrições aumentaram no final de semana anterior ao InnBrew, como a volta do toque de recolher à 1h, fechamento total do lazer noturno e os bares e restaurantes podendo funcionar somente até às 0h30, com mesas de até dez pessoas. Você pode achar que isso não é nada restritivo, mas estamos em pleno verão escaldante e, depois de um confinamento real, estava realmente difícil segurar o pessoal em casa. E, vamos combinar, quem ainda não está totalmente vacinado é quem mais quer botar as pernocas bronzeadas para jogo.

Ainda de acordo com a atual normativa, também ficaram restritos os eventos em lugares abertos a até 500 pessoas. Ou, para ocorrerem, seria necessária a exigência de protocolos tais como mostrar a tal da pauta completa ou um PCR de 12hs. É meio impossível montar um esquema desses da noite para o dia para cumprir essa ordem, né? Portanto, como o InnBrew se tratava de uma feira profissional, estas restrições não se aplicavam.

E foi bem tranquilo. O espaço era bem grande, estava muito bem montado para que o distanciamento social fosse mantido e não houve momento algum em que a feira lotasse, nem que ficasse vazia. Acredito que esperavam mais gente, mas é preciso levar em consideração que estamos em época de férias. A BeerEvents, com sua larga experiência em eventos grandes como esse, soube organizar a programação de maneira que o público pudesse ir e vir e se organizar de acordo com seus interesses. Eu mesma não fui na sexta pela manhã, quando tinha uma enxurrada de palestras técnicas das quais eu só iria para sorrir mesmo. O que, com máscara, não ia adiantar muito mesmo…

E, sério, o respeito foi tanto que eu via as pessoas darem um gole e vestirem a danada da asfixiante de novo. E convenhamos que o público é composto por uma turma 35+, segura e empiricamente em uns 90% do seu total. Ou seja, todo mundo estava vacinado e com a bendita da pauta completa (sim, eu adoro essa expressão). Ponto para a organização e para a galera daqui, viu? É ótimo se sentir segura. PS: Sigam o exemplo e usem máscara!

Não vá embora sem saber
Esse texto se abre com uma palavra conhecida em castelhano, mas dá as boas-vindas em catalão, língua oficial da Catalunha, Comunidade Autônoma, tendo Barcelona como capital. Existe uma questão histórica, política e social em prol da independência desse estado como país. Há quase três anos resido nesse território, precisamente em Girona, ainda mais radical nessa questão. Estudo, convivo e respeito, por isso não me sinto tão à vontade para dizer “primeiro evento da Espanha”. Isso me soa um pouco como traidora da confiança que esse povo tão lutador me oferece. Então, aqui justifico para que compreendam a questão.

Convido vocês a assistirem ao documentário “Dos Catalunyas”, na Netflix, para entender mais sobre o tema. Ou a dar uma googlada rasa mesmo. Agora, se quer compreender de verdade, vale buscar os acontecimentos históricos muito antes dos Bourbons tomarem o poder. Para não ser chata, também indico se divertir com o filme “Oito Sobrenomes Catalães”, que foi uma das maiores bilheterias de 2015 e tem o engraçadíssimo ator andaluz Dani Rovira. É uma paródia, claro, mas mostra bem como é tudo isso. Endavant!


*Andreia Gonçalves Ribeiro é mestra em Turismo Cultural Gastronômico e em Patrimônio, pela Universitat de Girona. É sommelière de cervejas pelo ICB e sommelière bartender pela ABS. Mineira atleticana, é pesquisadora da cerveja e seus fenômenos na Catalunha. Se deixar, “só toma azeda” e tem queda assumida pelas belgas.

5 Comentários

  • Mônica Ottoboni Reply

    15 de agosto de 2021 at 11:18

    Que bacana a notícia! Adorei ler sobre o tema. 👏👏👏👏

  • Sofia Reply

    15 de agosto de 2021 at 11:19

    Sensacional a novidade e o movimento. Feliz pela retomada catalã! Belo trabalho.

  • Debs Reply

    15 de agosto de 2021 at 11:42

    Ótima matéria! Agora terei que viajar quando puder ir 😅

  • CARMEN LUCIA GONCALVES Reply

    15 de agosto de 2021 at 11:48

    Belissima reporragem.Tendo em vista a situacao em q o mundo se encontra,mas com uma bela retomada.Parabens Andréia

  • Ana Rosa Proença Reply

    15 de agosto de 2021 at 17:01

    Excelente a matéria! Deu até água na boca e vontade de ir pra um evento. Parabéns, Andreia!

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