Érica Barbosa foi como um meteoro: um ser humano luminoso e fugaz

*Texto de Cilene Saorin
No verão escaldante de janeiro de 2015, uma moça de 22 anos se apresentava em sala de aula com o ímpeto de quem não estaria ali à toa. Ela foi uma aluna brilhante. Junto de um seleto grupo de pessoas igualmente brilhante e atento, participava intensamente dos estudos e tarefas propostos. Saiu do curso com um emprego.
Eu fiquei radiante com seu resultado. Era a caçula entre as poucas alunas daquela turma numerosa e conflituosa. Que força e maturidade diante de hostilidades e imbecilidades.
Pouco mais de um ano depois do curso, ela me procurou e me contou sobre seu novo projeto. Gostaria de juntar suas principais competências em um negócio inovador voltado à educação. Pediu minha opinião e meu apoio. Ouviu minha opinião e recebeu meu apoio. A ideia era genial e muito oportuna. Nascia, assim, o instituto de ensino Marketing Cervejeiro especializado em comunicação, estratégia e inovação para negócios cervejeiros.
Érica Barbosa sempre foi cheia de planos. Sabia que tinha de domar a ansiedade e exercitar a diplomacia. Reconhecia as questões sociais que a comunidade cervejeira nos impõe. Inquieta, proativa e ágil.
Amadureceu imensamente desde que nos conhecemos. Mantivemos estreita amizade e conversamos sobre vários assuntos. Vários assuntos mesmo. Ela queria pulsar também outra faceta: a música. Um gosto particular pelo Rock’n’Roll. Um dia desses de pandemia, num encontro virtual, dedilhando seu contrabaixo, eu disse a ela que eu adorava o som de contrabaixo do U2. Ela me respondeu com seu sorriso largo e um certo ar de reprovação. Logo disparei: ‘Ah me respeite, menina!’. Rimos muito. E ela ainda teve de ouvir sobre minhas memórias afetivas nas batidas inconfundíveis dessa banda irlandesa.
(…)
Eu sei que é muito difícil enxergar esse movimento depressivo, muitas vezes silencioso e complexo. Eu sei que é realmente muito difícil conseguir entender essas mensagens nas entrelinhas. E eu lamento muito não tê-las entendido.
(…)
Érica Barbosa nos ensina, mais uma vez. Como é importante mantermos a atenção ao acolhimento – dos elogios e incentivos explícitos à força diária que cada um de nós tem de dar e receber para seguir adiante. Em uma sociedade particularmente imatura, limitada e agressiva, por favor exercitemos ainda mais nossa amorosidade e civilidade.
Não foi Érica Barbosa quem perdeu. Nós, como sociedade, quem perdemos.
Toda solidariedade e profundo sentimento de pesar aos seus familiares e amigos.
* Cilene Saorin tem se dedicado às cervejas, nos últimos 28 anos, por alguns cantos deste planeta. É sommelière, mestre-cervejeira e diretora de educação da Doemens Akademie para América Latina e Península Ibérica
2 Comentários
Ana P Barbosa
14 de novembro de 2021 at 21:50Cilene, obrigada pela bela homenagem à minha sobrinha Érica, pela clareza do texto e, especialmente, pela sensibilidade com a qual captou a essência dela. Certamente, ela deixou um legado especial, apesar a partida tão prematura.
Cilene Saorin
17 de novembro de 2021 at 13:52Ana,
Sinta-se abraçada, assim como todos da família.
Nossas lembranças estão guardadas carinhosamente.