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Artigo: InnBrew aproxima profissionais cervejeiros de toda a Espanha

InnBrew Espanha
Encontro realizado em Barcelona abordou temas de sustentabilidade às questões mais técnicas em sua programação

*Por Andreia Gonçalves Ribeiro

Desde sua arrancada, na quinta-feira (31 de março), até seu encerramento com a celebração da entrega dos prêmios do Barcelona Beer Challenge, no sábado (2), o InnBrew, The Brewers Convention, aparentou ser um ponto de união do setor profissional de cervejas artesanais da Espanha. Com espaço físico reduzido em relação à primeira edição, o evento, realizado no espaço La Farga d’Hopitalet, parecia mais aconchegante.

As palestras e os workshops estavam com público em quantidades apreciáveis. E a estrutura permitiu que quem estivesse apenas de passagem pudesse parar e ouvir quem se apresentava. Somado à usabilidade do aplicativo próprio, com informações sobre palestras, palestrantes, expositores e participantes, as notificações ajudavam a não perder o que de fato levava o profissional à feira.

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Temas transversais, de sustentabilidade às questões mais técnicas, estavam na programação. Boas cervejas foram engatadas, a preços que variavam de 2€ a 4€. “Se eu pudesse e meu dinheiro desse”, não sairia do biergarten. Uma Cascade Vlad the Imp Aler não durou o primeiro dia. Tive o privilégio de beber todas, mas destaco a ganhadora do BBChallenge, a Grape Ale da Letra de Portugal, uma English Pale Ale fresca do queridíssimo Carlos Rodríguez, da Ales Agullons. O final dos dias merecia a potente Baltic Porter que levou o bronze na categoria, da Cerveja Musa.

Com as restrições da Covid-19 suspensas, o palco das palestras se situava em meio aos estandes. Logo, mais próximo de um público que pôde se sentar lado a lado. Máscaras mantidas, porém, com o contato restabelecido.

Antes de seguir, entenda um pouco sobre o mercado espanhol de artesanais
O mercado local é composto majoritariamente por nanocervejarias (produção até 24.000hl/ano) e microcervejarias (100.000hl/ano), sendo 50% e 41%, respectivamente, de acordo com o estudo da Associação Espanhola de Cervejeiros Artesanais e Independentes (Aecai) publicado em dezembro de 2021. Esta representação corresponde a somente 0,5% de produção e 1,1% de valor de mercado de cervejas da Espanha. Enquanto isso, a Catalunha, que sedia o congresso, o volume de mercado sobe para 5%, de acordo com a associação local, o Grêmio de Elaboradores de Cerveja Artesanal e Natural, o Gecan.

Ainda segundo a Aecai, se comparados com outros países europeus, o mercado artesanal da Espanha é relativamente pequeno. Alemanha (11%), Bélgica e Reino Unido (5%), França (4%) e Itália (3%) aparecem à frente. No entanto, a fonte sobre estes dados ou a metodologia utilizada não foram apresentados, o que dificulta constatar a fiabilidade dos dados comparados.

Estas cervejarias espanholas estão 87% localizadas em zonas rurais. O restante, em capitais de províncias, as cidades administrativas regionais. Foi possível encontrar profissionais de Madri, Girona, Coruña e até da Galícia, do outro lado do norte da Espanha, que se deslocaram especialmente para o InnBrew.

Foi o caso de Manu, diretor do festival Portomarin Beerfest que acontece em maio, em uma cidade de 400 habitantes que leva o nome do evento, na Galícia. Os sócios vieram para trocar experiências, conhecer potenciais participantes da feira, conhecer e serem conhecidos. Um ponto de colaboração que se pôde presenciar foi uma brassagem conjunta especial da GroBrewers, de Girona, exclusiva para o encontro.

Nas palestras, destaco 4 temas abordados:

1 – Turismo cervejeiro
Diferentemente do ano passado, quando uma mesa-redonda reunia membros dos setores público e privado nacionais, este ano o tema foi abordado por Àngeles Alonso-Misol, responsável pela comunicação do escritório VisitFlandes, representação turística da região belga. Ela explicou sobre os eixos que trabalham para Bruxelas e outras cidades como Bruges e Leuven, que tem sua cerveja local reconhecida como patrimônio imaterial da Humanidade pela Unesco, desde 2016. Esses eixos envolvem desenvolvimento de novos produtos turísticos e marketing na internet.

Alonso-Misol apresentou que o governo promove subsídios aos pequenos cervejeiros e treinamento quanto à abordagem ao turista. Junto ao elemento histórico, ela afirma que a intenção é construir experiências de maior interação e utilizar o storytelling como ferramenta. Mas esta realidade está muito distante da vivida na Espanha, apesar de 84% das cervejarias indicarem ter condições de receber visitas.

Em sua palestra, ela afirma que todas as cervejarias “estão abertas para receber o turista 24 horas”. No entanto, isto não se aplica nesta região, onde os cervejeiros acumulam funções de produção, vendas, administrativo… E os apoios financeiros dos governos são nulos. Existem apoios pontuais, como “digitalização para pequenas empresas” ou plataformas de comercialização do produto local. Porém, nenhuma diretamente ligada ao turismo.

2 – Lo Vilot Farm Brewery
Quiònia e Oscar estão além do produto cerveja. São representantes do primeiro setor e, em sua fazenda, recebem visitantes, realizam festivais e cultivam malte e lúpulo, comercializados para a produção local e, em maior fatia, importado à vizinha França. Cerveja ecológica “full circle” é a proposta da Lo Vilot Farm Brewery. Cervejas de fermentação mista e espontânea, com utilização de coolship e frutas do entorno estão no DNA da Lo Vilot.

O projeto é quase um “bean to bar” cervejeiro, em terras de Lleida, levando o compromisso de buscar um terroir catalão completo às cervejas. Prova disso, durante as tentativas de fermentação espontânea, um estudo conduzido por Sergi Forcadell Mulet para o mestrado em Bebidas Fermentadas da Universitat Rovira i Virgilli, de Tarragona, isolou e inoculou as leveduras encontradas no trabalho de campo. Para a decepção dos mais fanáticos, nenhuma brettanomyces foi encontrada. Somente uma saccaromyces cerevisae entre os microrganismos isolados.

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3 – Sustentabilidade: vidro x lata
Uma discussão poderosa para estar em dia com a questão ambiental: qual dos envases responde melhor ao tema? O debate tinha dois representantes das indústrias de envases: Francisco Javier de Santiago, diretor de vendas da Cervezas Verallia, como o do vidro, e Juan Ramon Meléndez, diretor da LatasDeBebidas.org, das latas. A conclusão a qual chegaram foi a de que depende da soma de diversos fatores para ter uma resposta que seja válida. Isto porque o resultado depende de fatores como a coleta seletiva, processamento do material coletado, logística tanto do retorno do montante selecionado à do produto final em si.

“O alumínio vem da Rússia, transformamos em folhas para as latas. Se esse fica em Coruña, é coletado aqui e retorna, é uma situação. Agora se a lata é envasada aqui (referindo-se à Estrella Galícia), vai para Madri (centro do país), é coletada e segue para separação lá na Andaluzia (extremo sul da Espanha), volta à nossa fábrica (extremo noroeste) para ser processada, a molécula de carbono emitida nessa logística já excede o aceitável para ser validado como sustentável”, resumiu Meléndez, durante sua apresentação no InnBrew.

4 – O papel dos festivais
O que é um festival de cerveja para você? E uma feira? Bom, aqui se chega à conclusão de que um festival é aquele em que o cervejeiro vai com a intenção de mostrar o seu produto para o consumidor e seus pares, de modo que ele investe nesse processo. Algo mais próximo a uma estratégia de branding do que de vendas. Por outro lado, feiras são eventos nos quais o cervejeiro vai para fazer caixa mesmo. A comunicação da marca está presente nos dois, no entanto, um seria investimento, enquanto o outro, o retorno.

A autoria destas duas definições, “no papel”, acabo de denominar eu mesma. Pode colocar aí (GONÇALVES, A. R.). Porém se trata de um apanhado das conclusões da mesa-redonda sobre o tema que reuniu Eduardo Lara Alba, do Granada Beer Festival (desde 2016), Mikel Rius, do Barcelona Beer Festival (BBF, desde 2011) e a respeitada e querida Montse Virgili, da Mostra de Cervesa Artesana de Mediona (nascido com cervejeiros em 2008). Cada um ao seu estilo, com proporções e didáticas diferentes.

Caso queira se programar para participar de algum desses festivais, a tabela reúne informações das mais importantes sobre eles. No entanto, uma informação que é mais importante que todas estas é que acontecem “feiras” de cerveja artesanal quase todos os finais de semana, espalhados por todo o território. Vinculadas a outros produtos ou datas comemorativas, são em torno de 480 eventos anuais, de acordo com Geni, responsável pelo Instagram Festivales de Cerveza. Em meu último estudo, somente aqui na comunidade autônoma da Catalunha, catalogou mais de cem, reflexo dos cerca de 70% do total de produção de cerveja artesanal de toda Espanha se concentrar aqui, nas terras vizinhas à França.

FestivalGranadaBarcelonaMediona
Desde201620112006
Data30/4 a 1/5Outubro11 de junho
Em 2022 está na edição10ª17ª
Dura quantos diasDoisTrêsUm
Público5.000 (dados 12/2021)32.000 (dados 2018)8.000 (dados 2018)
Cervejarias (1ª vez/hoje)25 / 40não consta / +2508 / 73
Cervejas servidas150+- 600Via produtor
Preço da degustaçãoDe 2€ a 4€De 2€a 4€Via produtor
Preço da entrada10€/dia7€/diaGratuito
EspaçoFechadoFechadoAberto


Brasileiros na InnBrew, por curiosidade…
Rodrigo Goldani, gaúcho que trabalha na distribuidora de cervejas e vinhos ViHop, a fotógrafa e sócia da Reptilian Brewery Renata Giorgio e Felipe Palazzi, consultor de cervejas e ex-proprietário do Mr. Mills de São Paulo.

Conclusão

Concluo dizendo que o último dia do InnBrew foi dedicado à premiação do Barcelona Beer Challenge, em todas as suas categorias. E, com o intuito de oferecer um conteúdo mais parrudo, esse fica para o texto seguinte. Além dessas palestras, grande parte da programação, incluídos os workshops, tratavam de assuntos mais técnicos. Qualidade de água, leveduras, conselhos de aprimoramento de produção, porém uma seara que elegi não adentrar para não correr o risco de falar bobagem. Os anos me ensinaram que não dá para, nem se pode ser especialista em tudo. Sou do movimento “pelo fim dos ‘Átilas’ da vida”.

Jornalista com diploma, porém com a experiência e a agilidade menos significativas que (insira aqui o que não fere o sentimento de alguém), espero ter trazido informações que possam ser interessantes e/ou relevantes para construir a imagem do mercado de cervejas artesanais da Espanha. Melhor dizer, com minhas vindas aqui no Guia, minha intenção é a de descontruir. E, pouco a pouco, dar a oportunidade de que cada um que se dispôs a ler, possa rever seus conceitos e pré-conceitos como com carinho um dia fiz. E, se possível, desfrutar de tudo que sai daqui, como se fosse um clássico Barça-Madrid, cheio de apaixonados.


*Andreia Gonçalves Ribeiro é mestra em Turismo Cultural Gastronômico e em Patrimônio, pela Universitat de Girona. Sommelière de cervejas pelo ICB e sommelière bartender pela ABS-SP. Mineira e atleticana – caipira hooligan – pesquisa sobre a cerveja e seus fenômenos na Catalunha, onde também estuda Antropologia. Se deixar, “só toma azeda” e tem queda assumida pelas cervejas belgas.

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