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Com saberes e sabores, mulheres buscam respeito e espaço no setor cervejeiro

Mulheres cervejeiras lutam por diversidade no mercado cervejeiro, como Aline Smaniotto e Bia Amorim

Nos últimos anos, o mercado cervejeiro tem sido palco de discussões sobre a necessidade de ampliação da participação feminina e a urgência de tornar o segmento menos machista. Mulheres apontam que houve evolução prática e iniciativas que promovem mudanças, mas ainda existe um longo caminho a percorrer por mais inclusão e, principalmente, respeito às mulheres, seus trabalhos, narrativas e trajetórias no setor cervejeiro.

“Respeito é fundamental para iniciar o diálogo. Falta muito para a conversa e entendimento, para chegarmos então ao ponto de entender como fundamentais as demandas específicas das mulheres, assédio e a economia do cuidado são questões que pouco avançaram, e ainda precisam de muita mudança”, afirma a sommelière de cervejas e antropóloga Aline Smaniotto.

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Iniciativas têm buscado dar voz e luz ao trabalho das mulheres no mercado cervejeiro, promovendo amizades, suporte e projetos sólidos que contribuem para a mudança cultural, ajudando a reduzir o machismo ainda persistente não apenas no segmento, mas também na sociedade.

“O primeiro que eu me lembro e que participei, foi o E.L.A. em 2016, mesmo ano que começou o Musas na Nacional. Lembro do Congresso Mergulho na Cerveja de 2018, que trouxe também mulheres para discutir o tema e ainda se repetiu depois. O Goose Island Sisterhood, também de 2018, foi icônico! Agora bem recente, podemos citar o evento da Dádiva que aconteceu em março em São Paulo, o Criado por Elas, Liderado por Elas. Mas muitos outros já aconteceram, seja um lançamento de cerveja, um ciclo de palestras, um encontro ou lives no Instagram”, enumera a sommelière de cervejas Bia Amorim.

Para ela, esse tipo de iniciativa serve como respiro para mulheres que atuam no setor cervejeiro, contribuindo para transformá-lo. “É com isso que vamos aos poucos remodelando a cultura atual, movendo as montanhas com pequenos sopros, deixando mais leve o transitar e com mais motivos para brindar”, acrescenta Bia.

Uma das ações recentes que buscou dar voz à atuação das mulheres no setor cervejeiro envolveu Bia e Aline por meio do projeto Musas do Verão, promovido pela Cervejaria Nacional. Elas, ambas cervejeiras e mães, foram as homenageadas de 2024 pela marca e participaram da concepção de uma cerveja, a Garrafada da Jurema.

“Pouco falamos sobre a mãe que trabalha no mercado, o que bebem, como arrumam tempo para cuidar dos filhos e ainda discutir sobre o uso de ingredientes que podem trazer personalidade, com técnica e sabor para cervejas nacionais. Com a Jurema, trouxemos esse olhar para as raízes do nosso país, sob a perspectiva de saberes ancestrais e como os mais velhos usavam nas bebidas, sua forma de cuidar”, diz Bia.

Com a escolha da jurema como ingrediente principal, a intenção foi exaltar saberes ancestrais, as narrativas femininas e a brasilidade. “É preciso narrar o mundo de forma diferente, trazer símbolos que resgatem nossas potências, nossos saberes, nossos sabores, só assim mudam as estruturas. Chamamos para o copo ingredientes cheios de história, de saberes mágico-religiosos, de paradoxos e de usos do cotidiano”, comenta Aline.

A jurema é mais do que uma simples planta. Associada a um papel destacado na flora nordestina pela referência mágico-religiosa, ela desempenha um papel fundamental na cultura brasileira. No passado, foi condenada pelo colonizador europeu por ser considerada um perigoso ingrediente do qual se fabricava filtros demoníacos. Hoje, ressurge na memória coletiva como a planta mágica capaz de conduzir o ser humano a experiências transcendentais.

Iniciativas como o Musas do Verão, que em sua 12ª edição homenageou Aline e Bia, além de trazer uma cerveja com a brasilidade da jurema, são necessárias para reconhecer e valorizar o papel das mulheres no universo cervejeiro, promovendo o diálogo, a transformação e a criação de novas narrativas a partir da força e da resiliência feminina.

“O desafio de pensar uma cerveja que represente as mulheres, o maternar no contemporâneo, me levou a lugares e questões que tinham o cheiro do quartinho no quintal dos meus avós.  As inúmeras garrafas, com flores, cascas, folhas, sementes. A memória são esses fios que vão se entremeando às novas narrativas. E foram estes ingredientes que nos ajudaram a contar nossa história, às vezes com tantos amargores, mas que a gente faz deles boas cervejas”, conclui Aline.

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