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Entrevista: ‘Educação foi a base do movimento e é fundamental para o setor’

Para Chiara Barros, sócia-proprietária do Instituto Ceres, setor de artesanais só expandira quando investir em educação

Foi do conhecimento que o setor de cervejas artesanais começou a ser construído. E é a partir da sua disseminação que ele poderá crescer e se consolidar. Com essa constatação Chiara Barros, sócia-proprietária do Instituto Ceres, que tem seu foco no ensino e na consultoria, destaca, em entrevista ao Guia, o papel fundamental que a educação precisa ter para a expansão das atividades e resolução dos gargalos do setor.

Para Chiara Barros, a educação foi a base do movimento no Brasil, sendo fundamental para o surgimento de associações e confrarias que uniram profissionais com conhecimento cervejeiro e que desejavam construir a sua empresa do zero.

Assim, Chiara Barros destaca que cervejarias e instituições devem apostar na aprendizagem, com investimento em pesquisas e parcerias, para que possam tornar os profissionais que atuam no setor mais qualificados. Algo que se tornou ainda mais importante diante do desafio de continuar enfrentando o cenário caótico provocado pela Covid-19.

A visão do desenvolvimento do setor com base no ensino e na aprendizagem guia Chiara Barros, também, em sua atuação no Instituto Ceres. Ela divide o comando da instituição com Patrícia Sanches, cervejeira profissional e sommelier de cervejas. Ela lembra que o instituto começou suas atividades em 2017, justamente na época em que o setor ganhava relevância no país, mas com “uma lacuna grande de profissionais qualificados na área”. E foi para ajudar a atender a essa demanda que o Ceres se inseriu.

Na entrevista ao Guia, Chiara Barros contou os planos do instituto educacional e consultoria cervejeira para 2021, com a criação de cursos à distância para ampliar o público alcançado. E, para combater o preconceito e a desigualade, o Instituto Ceres tem trabalhado com ênfase nas mulheres. Para este ano, o foco segue na inclusão e equidade, como o programa de bolsa de estudos para pessoas em situação de vulnerabilidade econômico-social e um programa de mentoria para mulheres.

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Confira a seguir a entrevista completa que Chiara Barros concedeu ao Guia:

O Ceres funciona tanto como instituição de ensino como consultoria. Quais têm sido as principais ações nesses campos?
Nas consultorias, atendemos todos os portes de cervejarias, seja para criação de receitas, implementação da gestão e controle de qualidade, gestão sensorial, gestão de produtividade, etc. Fazemos também treinamentos in company direcionados e de acordo com o perfil e a realidade de cada fábrica. Fazemos consultoria também para bares e restaurantes com a construção de carta de cervejas e treinamentos de brigada, por exemplo. Na parte de educação, temos cursos livres para amantes da cerveja, mas também cursos com conteúdo mais aprofundados, incluindo o curso de sommelier de cervejas. Além dos cursos presenciais, temos cursos à distância.

Na sua opinião, qual é a importância do fomento à educação para o desenvolvimento do setor de cerveja artesanal? O que o Instituto Ceres tem feito para contribuir com isso?
A educação tem papel fundamental no desenvolvimento do setor cervejeiro, foi a base do movimento no Brasil. No início, o conhecimento era compartilhado entre as pessoas que eram curiosas e estavam buscando conhecimento em livros, vídeos, fóruns. Nasceram as associações, as confrarias, o movimento do faça você mesmo. Porém, existia uma lacuna grande de profissionais qualificados na área. E foi aí que o Ceres se inseriu no mercado, com um trabalho importante de desenvolvimento de pessoas não só nos cursos, mas também nas consultorias com os treinamentos in company e as orientações on the job. Em paralelo, também levamos conhecimento técnico-científico para aqueles grupos que manipulam a cerveja de forma empírica. E continuamos disseminando a cultura cervejeira com nossos amantes da bebida.

Que avaliação o Ceres faz do ano de 2020? Como foi o desafio de encarar uma pandemia que paralisou o mundo?
Foi um ano desafiador e difícil. Estávamos com um planejamento de migração de alguns dos nossos cursos presenciais para a modalidade de ensino à distância antes da pandemia. Porém, os planos foram adiados devido a toda essa situação. Conseguimos voltar aos pouquinhos e retomamos o planejamento.

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Falando de modo mais amplo, 2020 ficou marcado pela pandemia do coronavírus e por crises mais específicas do setor, como o Caso Backer e a escassez de matéria-prima. Como avalia o ano para o mercado cervejeiro?
Consideramos o ano de 2020 como um ano difícil e de muitos aprendizados e recomeços. A maior parte das cervejarias precisou desligar parte dos funcionários, investir no delivery, se reinventar criando outras possibilidades. Com isso, mudou também o consumidor. A saúde financeira das empresas pesou bastante para que tivessem um fôlego para sobreviver nesses momentos de crise. Em relação ao caso Backer, infelizmente com vítimas fatais, veio para aumentar uma luzinha que a gente já tinha acendido há um bom tempo. Não basta construir receitas e produzir cervejas perfeitas, o produto precisa ser seguro para o consumidor. Temos alertado nas consultorias e, no final de janeiro, lançamos um curso sobre Boas Práticas de Fabricação aplicada a Cervejarias. Analisando o caso, o que se encontra, basicamente, são falhas graves de gestão, principalmente de Boas Práticas. Houve iniciativa da Abracerva de treinamento para as cervejarias, mas ainda precisamos evoluir muito nas questões de qualidade. Não só de controle de qualidade, mas também no que se refere à garantia da qualidade e à gestão.

Quais aprendizados e ações concretas o setor deve levar de 2020 para o ano recém-iniciado? O que esperar para os mercados cervejeiros e consumidor em 2021?
Ainda estamos em pandemia, então as ações precisam continuar, principalmente com o foco de venda de produtos on-line e take away. O ano de 2021 será um ano de recuperação, que necessitará de muita reinvenção ainda. Difícil fazer uma previsão de um ano que inicia com a escassez de insumos e a possibilidade de muitos serviços serem fechados novamente. As apostas em desenvolvimento de novos produtos, utilização de matérias-primas locais alternativas, ampliação e novas estratégias de venda podem trazer um fôlego para enfrentar esse ano que não começa fácil.

A necessidade de agir efetivamente para a inclusão das minorias no setor de cerveja nacional foi vista em acontecimentos recentes, quando preconceitos – como o racismo e o machismo – tornaram-se públicos. Como você avalia estes casos no setor e o que Ceres busca fazer em contribuição para minimizar a desigualdade?
Os casos de racismo e machismo no mundo cervejeiro em 2020 só exibiram uma triste realidade que já existia no mercado de maneira geral, não só no cervejeiro. Desde o início, temos um trabalho com ênfase no destaque das mulheres no setor. A maior parte dos profissionais que prestam serviço para o Ceres é de mulheres – somos 85%. Temos apoiado eventos criados e promovidos por mulheres, dado descontos nos nossos cursos para confrarias femininas, feito lives com apenas mulheres cervejeiras como protagonistas desde 2019 para inspirar outras mulheres e para mostrar que estamos em todas as áreas deste setor. Também já oferecemos bolsas de estudo e cursos gratuitos para alunos de baixa renda.

E para o ano recém-iniciado? Quais são os planos do Ceres para ajudar na construção de um setor mais igualitário?
Em 2021, as ações serão mais sistemáticas. Estamos com um programa de bolsa de estudos parciais e integrais nos nossos cursos para pessoas em situação de vulnerabilidade econômico-social e um programa de mentoria para mulheres que inicia no primeiro trimestre. Além de aulas com orientações para nossas professoras e professores sobre inclusão e equidade.

Quais são os principais planos do Ceres para 2021 e quais destes projetos já estão em andamento?
No planejamento para 2021 está a expansão do EAD (cursos à distância), com isso atingimos também outras regiões. Dentre os cursos, teremos diversos cursos que focarão no conhecimento em relação ao food safety, à integridade do produto. O mercado cervejeiro tem uma carência na área de qualidade e queremos expandir o bom trabalho que temos feito nas consultorias em cervejarias para nossos cursos. O projeto de mentoria para mulheres está ficando muito especial, estamos contando com profissionais voluntárias que farão parte dele. Junto com mais três escolas, fazemos parte do projeto Academia da Cerveja, criado pela Ambev. As consultorias para microcervejarias continuam neste ano e alguns outros projetos ainda estão no forno, em breve a gente conta mais.

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