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Especial: Busca por maltes se equilibra entre cautela econômica e nova demanda

Desafios da safra da cevada dificultam busca por maltes especiais pela indústria cervejeira

A indústria cervejeira do Brasil tenta se equilibrar entre diversos fatores no momento da escolha dos maltes para uso no processo produtivo. Ao mesmo tempo em que percebe o consumidor mais exigente, o que a força a diversificar as opções de estilos, a utilização do malte Pilsen continua em alta, especialmente em um cenário de custos elevados. Afinal, há dificuldades na produção de cevada, com quebras de safra em regiões como a Europa e a América do Norte, e até mesmo pela guerra na Ucrânia.

Independentemente da exigência crescente por novos tipos de maltes enquanto a diversidade de estilos de cervejas aumenta, a questão da relação mais racional entre a demanda do mercado e o custo da fabricação continua sendo a mais importante para determinar os volumes utilizados entre os tipos deste insumo no curto prazo.

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“É importante considerar o cenário econômico que passamos, com a pressão por custos e margens nas cervejarias também pegando. Nestes momentos, a utilização de maltes especiais acaba encarecendo a conta”, ressalta o engenheiro químico Cauê Mohler, coordenador industrial de malte na Agrária, embora reconhecendo que algumas demandas, de fato, influenciam nas escolhas dos maltes a serem aplicados.

“Temos também as tendências em temas como saudabilidade e consciência no consumo de álcool, e surgem aí diversas oportunidades em produzir diferentes estilos de cerveja sem álcool, com menor nível calórico ou sem glúten, por exemplo. Mas, sem dúvida, o malte Pilsen é o carro-chefe”, completa.

Assim, há um consenso de que o panorama econômico, com os efeitos da crise sanitária, motivou a maioria das cervejarias a priorizar ainda mais, nesse momento, a produção das bebidas mais acessíveis, predominantemente fabricadas com maltes Pilsen.

“A pandemia enxugou bastante a questão da variabilidade. Temos muito menos variedade de cervejas. E muitas cervejarias perceberam que se concentrar em menos produtos, e que tenham um pouco mais de escala de produção, pode facilitar tanto a operação interna quanto a comunicação com os consumidores”, afirma Carlo Enrico Bressiani, diretor da Escola Superior de Cerveja e Malte (ESCM).

Ele aponta que mais de 90% da produção está concentrada nos maltes-base, como o Pilsen, o Vienna e o Munique, uma proporção que ainda deve levar algum tempo para se modificar, com quebras de safra da cevada estimulando maior preocupação com a estabilidade no fornecimento dos maltes do que com a busca por variedades. “Provavelmente vai haver uma retomada dos estilos mais especiais durante os próximos anos, mas os maltes-base são os mais demandados”, analisa Bressiani, que é sommelier de cervejas e mestre-cervejeiro.

A possibilidade de busca por uma maior diversidade de maltes só deverá ficar mais clara ao fim do verão, com o término do período de auge do consumo de cerveja, na visão de Bressiani. “Existe uma tendência de mudança no mercado (com a fabricação de um maior número de tipos de malte), mas temos que ainda entender como será o pós-pandemia. Acredito que só vamos realmente enxergar um mercado com mais clareza a partir de fevereiro ou março do ano que vem, depois de passar a Copa do Mundo e o verão”, vislumbra.

Na avaliação de Mohler, a produção de cevada continua sendo o principal desafio para a evolução da malteação no país, um cenário que não deve se alterar em 2023. Afinal, a fabricação do ingrediente deverá estar suscetível às condições climáticas, que podem ter impactos significativos na produtividade e qualidade da cevada.

“Em relação à safra 2022/2023, é projetada quebra de safra na Argentina, Uruguai, Brasil e Austrália por questões climáticas adversas. Crise energética na Europa, também em virtude da guerra na Ucrânia, está impactando fortemente nos custos de produção de malte em diversos países do bloco. Neste contexto, 2023 se posiciona como um ano desafiador para toda a cadeia de produção de malte e cerveja”, prevê Mohler.

Investimentos em malte
Mesmo assim, quem fornece malte já se prepara para suprir eventual aumento da demanda, com a busca pela variedade, que em algum momento irá chegar. Com isso, ainda que dependente da importação de cevada para atender a demanda das cervejarias, o Brasil também tem avançado na disponibilização de opções diversificadas para a indústria. Como maior maltaria da América Latina, a Cooperativa Agrária Agroindustrial continua tendo o Pilsen como carro-chefe do seu portfólio, mas buscou atender o mercado com novidades.

Em 2017 foram lançados os maltes Pale Ale e Vienna Agrária, em 2018 o malte Munique e no final de 2021 lançamos o malte de trigo. Não são o nosso grande volume de produção, mas entraram com o objetivo de serem mais opções para atendermos nossos clientes

Cauê Mohler, coordenador industrial de malte na Agrária

Além disso, acreditando na possibilidade de aumento da demanda por malte nacional, a Agrária anunciou investimentos recentemente, como lembra o coordenador industrial de malte. “O Brasil não é autossuficiente na produção de malte e suas cervejarias acabam tendo que importar volumes expressivos de malte de países como Argentina, Uruguai e também da Europa. Neste ano, a Agrária anunciou a construção da maltaria Campos Gerais junto com as cooperativas parceiras Frísia, Castrolanda, Capal, Bom Jesus e Copagrícola, prevista para o final de 2023. Teremos um aumento expressivo na capacidade de produção de malte no Brasil”, afirma.

E se a malteção se dá principalmente com a cevada, ela não se resume a esse cereal, também podendo ser feita com trigo e centeio, por exemplo. Além disso, há variados processos de produção de maltes, que podem ser torrados, caramelizados, defumados, acidificados e diastásicos, cada qual com características e composição química para agregar diversas nuances às cervejas.

“A Agrária hoje tem em sua linha de produção diferentes tipos de malte Pilsen, de trigo e os de base – Munique, Vienna e Pale Ale. Além disso, representamos nossos parceiros Weyermann, Dingemans e Crisp, completando o portfólio com opções de maltes especiais, tendo soluções completas para nossos clientes”, reforça o coordenador industrial.

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