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Entrevista: Conheça a artesanal que “não existe” e pôs o Acre no mapa da cerveja

Sócia e mestre-cervejeira da Seringal Bier, Elisane Grecchi inaugurou o brewpub em novembro de 2019 em Rio Branco

O Acre não existe. A piada, muitas vezes de tom jocoso, pode ser explicada pelo isolamento do estado, que não possui ligação rodoviária com qualquer outro do Brasil. Adotada por parcela da população local, a brincadeira também virou slogan da primeira cervejaria acreana registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Seringal Bier, de Rio Branco, como conta a sua sócia e mestre-cervejeira em entrevista ao Guia.

“A cerveja que não existe” é o slogan da Seringal Bier criada pela mestre-cervejeira Elisane Grecchi e seu marido, tendo sido registrada no Mapa em novembro de 2019. Para parte relevante do setor, porém, a sua existência só foi oficialmente notada em abril deste ano, com a divulgação do Anuário da Cerveja de 2020. Se tornou, assim, oficialmente, uma das 1.383 cervejarias registradas no país. E, principalmente, a única do Acre.

A formalização foi mais um passo na realização do sonho de Elisane, uma paranaense radicada no Acre desde 2006, onde teve dois filhos e fomentou a paixão pela cerveja. E, para torná-la um empreendimento, saía de lá para estudar, como relata nessa entrevista, voltando com o conhecimento que se transformaria, posteriormente, em produção caseira.

Os testes em panelas se transformaram na Seringal Bier, com os seus 6 estilos de cerveja, sendo 4 fixos – Cream Ale, Pilsen, Red Ale e American IPA – e dois sazonais – German Pils e Russian Imperial Stout. Mas Elisane não quer parar nisso.

Após encarar a pandemia do coronavírus logo nos primeiros meses de existência do empreendimento, ela agora trabalha com a ideia de criar uma marca mais popular, com o intuito de ampliar a cultura cervejeira no Acre. É a nova tarefa da “cerveja que não existe”.

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Ao Guia, ela relata esses planos, além de temas como os passos para a construção da Seringal e o cenário cervejeiro no Acre. Confira, abaixo, a entrevista com Elisane Grecchi:

Como foi a sua trajetória cervejeira até culminar no surgimento da Seringal Bier?
Sempre gostei muito de cerveja, da história que a envolve, e de gastronomia. Sou do interior do Paraná, mudei para o Acre casada, onde tive meus filhos. Foi o estado que me abraçou. Estou aqui há 16 anos. Foi aqui onde surgiu o interesse, onde comecei a produzir cerveja caseira, porque estava gastando demais com artesanais, pois só chegavam as importadas. Para produzir algo diferenciado, decidi tentar começar a fazer. Comprei os equipamentos, me interessei pelos estudos, começando a oferecer a produção para amigos e outras pessoas. E elas começaram a gostar, perguntando onde podiam comprar. Mas só fazia 50 litros e não sobrava muito.

E como essa “brincadeira” se transformou na Seringal Bier?
Meu marido passou a me dar muito incentivo para vender. Comecei a fazer cursos em São Paulo, no Rio Grande do Sul, e fui me apaixonando por esse universo. E a única coisa que queria fazer era cerveja. Disso tudo, surgiu a Seringal. Com esse nome, porque foi o estado que nos abraçou, e não é valorizado tanto quanto merece. O nosso slogan é “a cerveja que não existe”. É uma brincadeira que todos aqui fazem. E todo mundo adorou.

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Qual foi a reação inicial do público no contato com a Seringal Bier?
Esperávamos que as pessoas demorassem a gostar, mas a resposta do público foi imediata, antes mesmo da pandemia. A nossa inauguração foi em novembro de 2019, assim como o registro no Mapa, embora só tenhamos figurado agora no anuário.  Somos um brewpub, com um espaço para 500 pessoas. Ampliamos o espaço apenas dois meses após a inauguração, pela demanda, comprando um terreno ao nosso lado. A produção antes da pandemia era, em média, de 15 mil litros/mês. Hoje, depende da demanda, em função da pandemia.

Como a Seringal Bier enfrentou a pandemia que eclodiu quando vocês tinham apenas alguns meses de trajetória?

Foi um desafio enorme, tínhamos apenas 4 meses de inauguração. Ficamos abalados no começo, planejando o que fazer. Fizemos cortes no que pudemos fazer, com renegociações. Esperamos que o pior tenha passado. E estamos voltando com bastante ânimo. Entramos nos maiores supermercados de Rio Branco há 3 meses. E estamos presentes em restaurantes e bares. Antes da pandemia, mandamos cervejas para Cruzeiro do Sul, uma parceria que ainda não foi retomada por causa da crise sanitária

A Seringal é a primeira cervejaria do Acre, mas como está o setor no Estado? E quais são os seus principais desafios?
Sei de umas 30 pessoas no Acre que produzem cerveja caseira, mas pode haver mais. Temos dificuldades de acesso aos insumos, pois o frete é muito caro, assim como para compra de equipamentos cervejeiros. E isso dificulta a disseminação da cultura cervejeira. A gente faz um planejamento de compra, mas o malte é o que mais pesa. A cerveja acaba encarecendo por causa do frete. Ainda assim, como vendemos na casa, conseguimos oferecer um preço acessível. Malte, lúpulo e levedura são importados, mas chegam através de uma importadora do Rio Grande do Sul, vindos de São Paulo.

Ainda não é tão comum ver mulheres empreendendo no setor cervejeiro. Encara isso como um desafio extra?

Como mulher, mestre-cervejeira que está empreendendo, nunca senti algum tipo de preconceito. Não quero que a cerveja seja vendida por ser feita por uma mulher. Quero que o produto seja bom. Espero chegar ao momento em que não choque por ser uma mulher que fez um prédio ou uma cerveja. Mas sei que isso ainda causa essas reações

A Seringal Bier conta com seis estilos, mas você tem um preferido? E quais são os próximos passos da produção de vocês?
Tenho dois estilos que gosto muito: a Russian Imperial Stout, que sei que pode ser considerada muito forte para o clima acreano, mas me encanta, e a American IPA. Mas também gosto de uma Pilsen bem feita. Temos a intenção de constituir uma nova marca, mais popular, para estar nos bares, na periferia e disseminar a cerveja. A gente é um peixinho, mas quer ter a oportunidade de chegar em mais estabelecimentos. Nesse caso, seria algo mais leve, uma Light Lager.

Ao mesmo tempo em que a Seringal é uma disseminadora da cultura cervejeira no Acre, como se dá o seu contato com esse universo?
Conheci gente no curso, professores, vendedores de equipamentos. Temos amigos, mestres-cervejeiros, que nos permitem uma troca legal de informações. Com as redes sociais, a gente não está mais sozinho. Do nosso lado, o brewpub facilita bastante, porque as pessoas podem ir direto até a fonte, veem como é a produção. E isso chama a atenção. Aos pouquinhos, a gente vai criando o conhecimento cervejeiro e introduzindo as pessoas a um mundo que elas ainda não conhecem.

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