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Balcão Xirê Cervejeiro: Uma conversa com Leandro Teixeira, da Brooklyn, sobre diversidade

Olá, seguidores/as e leitores/as do Guia da Cerveja! Estou de volta ao Balcão Xirê Cervejeiro.

Sim, estou em débito com a coluna de novembro, e desde já, peço desculpas. Contudo, novembro é um mês muito caro para mim. As pautas raciais me atravessam e não tive forças para escrever sobre o tema.

Mas chegou dezembro, o mês das festas, do encerramento de ciclos e da abertura de novos. E é nessa toada que trago para vocês e para o mercado uma brilhante entrevista com Leandro Teixeira, que presenteia o mercado cervejeiro brasileiro. E não só isso. Deixo, ao final, uma sugestão de harmonização entre cerveja e uma deliciosa torta para brindar em suas festas.

Sobre a entrevista:

O mercado de cerveja brasileiro é exímio em “copiar” as tendências que vêm de fora, sobretudo quando se trata da escola estadunidense de cerveja. Isto posto, seguem algumas ações prospectadas e materializadas nos Estados Unidos da América do Norte e que podem ser replicadas, guardadas algumas especificidades das do mercado cervejeiro nacional.

Eis o que diz Leandro Teixeira, que trabalha na icônica cervejaria Brooklyn Brewery há alguns anos, sendo hoje gerente geral da degustação.

Quem é o Leandro e como se deu o seu percurso no universo da cerveja?
O Leandro, ou Leco para alguns amigos cervejeiros do Brasil, ou Leo, nos EUA, é uma pessoa apaixonada por aquilo que vive e acredita, e adora passar horas descompromissadas com a família e os amigos. A minha entrada no universo cervejeiro começa pela busca por cervejas mais robustas, com mais sabor, saindo do tradicional chopinho carioca, que amo muito, mas já era o normal. Seguindo o manual da maioria dos cervejeiros de primeira viagem, passei a consumir cervejas importadas belgas e alemãs. Porém, depois de uma viagem em 2010 para os EUA, o meu conceito sobre cerveja mudou totalmente. Não conseguia acreditar como poderiam existir tantas marcas de artesanais e importadas na bodega da esquina de um bairro popular de uma cidade americana. Provei muita coisa boa, as bombas de lúpulo das IPAs abriram um portal da minha vida. Voltando ao Brasil, decidi procurar mais por essas cervejas artesanais, além de me informar mais sobre o processo de produção. Um pouco antes de me mudar para Nova York, fiz um pequeno curso de produção caseira com o pessoal da Confraria do Marques no Rio de Janeiro, mas nunca consegui (por enquanto) fazer minha própria cerveja.

O que a cerveja artesanal significa para você?
Essa é uma boa pergunta, é até difícil de responder em 2023, mas a cerveja artesanal significa uma arte para mim, por tudo que ali está inserido. Desde o processo de criação e escolha do estilo, passando pelo surgimento do conceito por de trás da marca e dos rótulos, chegando até a comunicação com o público, seja cervejeiro ou não. Sem querer romantizar nada, mas não deixa de ser uma expressão humana, já que ali existem emoções, história e cultura, sem falar das pontes que são feitas com a sociedade.

Como você chegou à Brooklyn e como é o seu trabalho?

A minha história com a Brooklyn Brewery começa depois da minha primeira garrafa de Brooklyn Lager. Foi amor à primeira vista! Sempre foi minha cerveja favorita ainda quando morava no Brasil, e me tornei ainda mais fã depois de conhecer a história da sua criação. Quando me mudei para Nova York, visitava o bar constantemente, mas não imaginava que poderia trabalhar lá. Até que depois de anos trabalhando em diferentes empregos em Nova York, e querendo construir uma nova carreira, um amigo britânico, que representava marcas de cervejas inglesas, me disse: “Leo, você entende mais de cerveja do que eu, é apaixonado pelo assunto, e ainda está se perguntando por onde começar? Vai para indústria cervejeira!”.

Depois desse papo, e de passar uma noite em claro, decidi procurar empregos na área no dia seguinte. Depois de muitas tentativas e de não receber respostas, fui procurar empregos em que precisasse falar português, e a primeira vaga que apareceu para trabalhar foi na loja da Brooklyn Brewery. Eu não acreditei muito nas chances, mas era a oportunidade de entrar para a cervejaria que tanto admirava. Depois de um tempo na loja, virei bartender, tour guide, até chegar a gerente do bar. Hoje, sou general manager do tasting room, coordenando nosso time, supervisionando a loja da empresa, e recebendo convidados do mundo todo. A melhor parte é a interação com o público, sem dúvida.

Garrett Oliver é considerado um dos maiores cervejeiros do mundo. Como é trabalhar em uma cervejaria em que ele faz parte da história?
Eu digo que depois de quase 6 anos na empresa, ainda dá um frio na barriga toda vez que tenho a oportunidade de trabalhar junto com Garrett, simplesmente por ser uma sumidade. É um privilégio compartilhar do mesmo espaço em que ele desenvolve a sua criatividade e o quanto ele é representativo nessa indústria. Quando você imagina os próximos passos da indústria cervejeira e seus impactos na sociedade, ele já está agindo e planejando os próximos 5 anos. As suas histórias e referências são tão elevadas que muitas vezes tive que dar uma pesquisada depois encontrar com ele (risos).

Como você vê a luta contra o racismo no Brasil e nos Estados Unidos no mercado cervejeiro?
É muito difícil como homem branco, que não sofre o impacto direto do racismo, analisar todo o contexto. Porém, os últimos três ou quatro anos foram muito intensos nos dois países politicamente. O movimento Black Lives Matter trouxe uma voz importante dentro da indústria cervejeira nos EUA, inclusive com a criação da cerveja colaborativa “Black is Beautiful” que ajuda arrecadando fundos para a National Black Brewers Association, que dá suporte às cervejarias lideradas por negros. Ainda é um trabalho árduo, já que menos de 1% das cervejarias pertencem à afro-americanos. Eu vejo que por aqui o movimento negro consegue ser um pouco mais engajado por ter mais acesso a recursos e ferramentas, além de muitas cervejarias norte-americanas desenvolverem trabalhos com consciência social. No Brasil, ainda com todas as dificuldades financeiras e culturais, nós temos expoentes importantes que já estão fazendo a diferença no mercado cervejeiro. Admiro muito o trabalho da Cervejaria Implicantes.

Qual a sua mensagem ao mercado cervejeiro brasileiro sobre racialidade e diversidade?
Pensem além das IPAs, APAs, Sours etc. Enxerguem o potencial da sua marca e como contribuir para a sociedade. Eu gostaria muito de ver as cervejarias brasileiras abrindo mais espaço para minorias que, aliás, não são minorias, são parte importante da sociedade brasileira. Não sintam pena, deem oportunidade! O mais importante é integrar/incluir cada vez mais o público, é romper barreiras.

Para finalizar, poderia deixar uma dica de harmonização entre comida e cerveja?
Eu posso citar duas harmonizações. A primeira, claro, é uma boa Brooklyn Lager gelada com uma bela pizza margherita no estilo napolitano. A segunda, é uma bela St. Bernardus Abt 12 com uma seleção de queijos e embutidos. Porém a minha melhor experiência foi saboreando um sanduíche de rosbife com molho madeira com queijo derretido numa baguette.

Que essa incrível fala do Leandro possa chegar na alma, corações e ações do mercado cervejeiro brasileiro.


Agora, vamos à minha dica de harmonização para o seu Natal ou ano-novo…

Torta Velvet

Massa:
300 gramas de bolacha maisena
100 gramas de margarina derretida
6 gotas de corante vermelho comestível

Modo de fazer a massa:
Triture a bolacha no processador ou no liquidificador, coloque a manteiga e o corante. Incorpore. Leve ao forno por 6 minutos. Reserve.

Recheios:
1. Misture 200g de cream cheese, 200g de creme de leite e 200g de chocolate branco derretido. Coloque sobre a massa e leve à geladeira.
2. Faça uma geleia de morangos com limão siciliano.

Use uma caixa de morangos, suco de meio limão, 100 gramas de açúcar e 400ml de água. Deixe ferver até reduzir. Coloque sobre a torta.

Finalização:
Enfeite com frutas vermelhas

Aqui, como sugestão de harmonização, uma Red Flandres com muita cereja. Comprei com a Aline Smaniotto na The Beer Market, quando a visitei em Jundiaí (SP).

Beba com moderação!


Sara Araujo é graduada em Ciências Jurídicas pela Instituição Toledo de Ensino, em Bauru (SP). Atua na área de execução penal, sendo graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (PR), pós-graduanda em História da África e da Diáspora Atlântica pelo Instituto Pretos Novos do Rio de Janeiro, sommelière de cervejas pela ESCM/Doemens Akademie e criadora e gestora do @negracervejassommelier

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