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Balcão da Fabiana: A difícil tarefa de não polemizar

Depois do meu último artigo por aqui, decidi que meu próximo texto seria leve, sem polêmicas, sem motivos para desagradar ninguém, tipo “o mundinho da cerveja paz e amor”. Afinal, somos um segmento tão unido, tão empático, não é verdade?

Então, comecei a separar possíveis temas e em todos eles percebi que tudo hoje é uma questão de opinião. Mesmo as verdades mais incontestáveis, mesmo as provas científicas irrefutáveis são aceitas ou não de acordo com a vontade do freguês. Imagine, então, se o que se lê é, de fato, um texto opinativo, como são os meus? Aí é que se abre a porteira para opiniões inflamadas que contestem a minha! Perdemos a habilidade de discutir! Não sabemos ter opinião contrária sem ofender o outro, sem agredir.

Quer um exemplo? No meu texto passado, cito algumas práticas pouco ortodoxas (para não dizer desleais novamente) no mercado cervejeiro, observadas em vários locais do Brasil. Não inventei fatos, não criei acontecimentos. Apenas apontei o que tenho visto e vivido no mercado no qual trabalho há 15 anos.

Pois logo vem um comentário do tipo: “a autora não tem conhecimento do mercado cervejeiro, pois aqui na minha cidade todas as cervejarias são amigas”. Pera lá, minha gente! Qual é a cidade da nobre leitora? Qual é a relevância da tal cidade que eu não sei qual é para o mercado como um todo? Por que a agressividade em dizer que eu desconheço um mercado para o qual trabalho há tanto tempo?

É claro que muitas opiniões vinham ao encontro da minha. Houve concordâncias também. Mas, aí, nesse caso, não havia o que se discutir, não é? Enfim, era apenas um exemplo. Não quero render polêmica, como disse no início.

Voltando então aos temas pensados, queria falar das IPAs, já que agosto é o mês delas. Um estilo que me impressiona pela quantidade de derivações que ele gera. Sim, porque a cada ano surgem novas modalidades de IPA, dando ao consumidor a oportunidade de conhecer várias facetas de um mesmo estilo. No entanto, mesmo com tantos subestilos dele, por que será que tenho a impressão de que as IPAS têm o mesmo perfil de aroma e sabor, independentemente de quem as fabrica?

Posso estar super enganada (e aqui valem opiniões contrárias, claro. Vamos debater, discutir numa boa?), mas se escolho NEIPAs de variados produtores, fica difícil distinguir uma da outra. O mesmo aroma tropical dos lúpulos, o mesmo sabor doce, a mesma coloração amarela turva. Desgosto? Não. Mas ando meio cansada de beber sempre a mesma cerveja!

Outro tema que pensei em abordar é a lactose na cerveja. Eu não gosto. Me enjoa. E as cervejas Pastry, que viraram uma febre, sempre me lembram o cheiro e o gosto do “AS infantil” que minha mãe me obrigava a tomar quando eu tinha febre. Para piorar a situação, ela diluía o comprimido em café ( de onde tirou essa ideia? Sei lá…). E não ficava bom, não.

Aquele cheiro e gosto ficaram impressos em minha memória como uma das piores lembranças gustativas. Fico imaginando, e aqui coloco a pergunta aos cervejeiros que a produzem, se as cervejas com lactose vendem bem. São cervejas com apelo comercial? O que o público diz sobre elas? Na minha loja, que abri durante a pandemia, no Mercado Novo de Belo Horizonte, elas não têm saída. Encalham nas prateleiras. Mas pode ser um caso isolado, né? Vende muito em outros espaços e no meu não vende.

Sobre as Pastry Beers, pesa ainda um agravante: hoje em dia há um imenso número de pessoas intolerantes à lactose. E um consumidor desavisado pode passar mal ao beber uma cerveja que ele nem sabia conter tal adjunto. Um amigo meu, dia desses, passou perrengue justamente por isso. Bebeu uma Pastry Sour, comprada na minha loja, e não conseguia mais sair do banheiro! Ao resolver ir embora, teve de pedir ao motorista do Uber que parasse no meio da rua, pois a lactose insistia em ser eliminada ali mesmo, dentro do carro.

Pois é isso, minha gente. Já que estamos na era do opinar sobre tudo ao mesmo tempo agora, deixo aqui dois assuntos que podem render horas de boas discussões, sadias e sem ofensas. E sem polêmicas, como me comprometi! É gosto ou não gosto. Quero ou não quero. Simples assim.


Fabiana Arreguy é jornalista e beer sommelière formada em 2010, pela primeira turma Doemens no Brasil, através do Senac SP. Produz e apresenta, desde 2009, a coluna de rádio Pão e Cerveja, sendo editora de site com o mesmo nome e autora de livros. É curadora de conteúdo, consultora de cervejas especiais, proprietária da loja De Birra Armazém Cervejeiro, além de professora do Science of Beer Institute e do Senac MG, assim como juíza dos principais concursos cervejeiros brasileiros e internacionais.

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