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Balcão da Fabiana: Você já ouviu falar em etarismo? O que ele tem a ver com cerveja?

De uns tempos pra cá temos visto um movimento muito claro dentro do segmento cervejeiro mundial de luta pela equidade. Para quem não entende bem a palavra, equidade é um substantivo que significa o reconhecimento, com igualdade, do direito de cada um.

A princípio, essa luta se deu em relação às mulheres atuantes no segmento cervejeiro. Em seguida, após lamentáveis casos de racismo no meio, veio a luta em relação aos pretos e pretas. Ainda estamos a passos lentos na luta pelos direitos LGBTQIA+ e agora eu ouso introduzir um elemento a mais na busca pela igualdade: o direito dos mais velhos. Sim, os que já passaram da casa dos 50 e são chamados, pejorativamente, por muitos de “dinossauros”.

Para que vocês tenham ideia de que a luta por equidade não é um simples mimimi, no convite aos juízes da World Beer Cup 2022, tivemos de assinar um termo de compromisso em relação a tais questões. Nenhum tipo de preconceito a qualquer grupo seria tolerado pela coordenação do maior concurso cervejeiro do mundo, sob pena de afastamento permanente do corpo de juízes. Isso, sim, é tratar seriamente uma questão que no Brasil ainda é subestimada, ridicularizada, diminuída em seus princípios e valores.

Voltando ao etarismo, outro dia conversando com um dos veteranos do mercado cervejeiro nacional, ouvi um lamento legítimo: “os que chegam agora ao mercado ignoram todo o trabalho que tivemos para abrir este caminho que hoje trilhamos”, me conta esse grande amigo. O ressentimento dele, um personagem tão importante para o estabelecimento de um mercado cervejeiro promissor como hoje é o nosso, é um sinal de alerta. Estamos respeitando o direito, com igualdade, das pessoas mais velhas?

Por que, de repente, tudo o que a geração anterior fez passa a ter menos valor, a ser desqualificado, a representar algo ultrapassado?

O conhecimento e a experiência adquiridos pelos anos de vida e de trabalho somem de um dia para o outro?

Quem disse que a idade define a lucidez e a vontade de se reciclar?

Ora, o novo sempre se alimenta de alguma fonte. Ele só pode acontecer em contraponto ao que veio antes. Alguém pensou antes, realizou antes e é a partir desses feitos que os mais jovens podem recriar, reinventar, atualizar, somar, acrescentar.

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O mercado cervejeiro não é uma entidade que surgiu do nada, de uma gênese sagrada. Ele é fruto da persistência, insistência e muito trabalho de pessoas como Cilene Saorin, Kátia Jorge, Paulo Schiaveto, Marcelo Carneiro, Cássio Piccolo, Eduardo Bier, Marco Falcone, Edu Passarelli, Roberto Fonseca, Alexandre Bazzo, Herbert Schumacher, Werner Emmel, Herwig Gangl, Evandro Zanini, Leonardo Botto, Ricardo Rosa, Maurinho Nogueira… Acho que faltam muitos nomes nessa lista. Peço aos que não citei que aceitem ser representados por todos os nomeados.

Se queremos, de fato, um mercado cervejeiro sadio, equânime, temos obrigação de respeitar, com reverência, tudo o que essa gente pioneira realizou por ele. Temos de honrar o que eles fizeram, e continuam fazendo, em prol do segmento.

Preconceito de idade é etarismo. E tudo o que não precisamos contar é com mais uma fonte de discriminação!

Que a “velha guarda” seja homenageada, receba os devidos louros por tudo o que realizou, seja convidada de honra em todos os concursos e eventos de cerveja relevantes. Seja consultada e ouvida para decisões mercadológicas.

É assim que vamos crescer mais e mais em tamanho, mas acima de tudo, em qualidade.

Para terminar, recomendo dois produtos modernos criados por “dinossauros”:

  • O livro A Cerveja Artesanal no Brasil, de Werner Emmel.
  • O canal 8ponto0 no YouTube, que discute gastronomia, literatura, cerveja e ciência política – tudo num copo só!

Fabiana Arreguy é jornalista e beer sommelière formada em 2010, pela primeira turma Doemens no Brasil, através do Senac SP. Produz e apresenta, desde 2009, a coluna de rádio Pão e Cerveja, sendo editora de site com o mesmo nome e autora de livros. É curadora de conteúdo, consultora de cervejas especiais, proprietária da loja De Birra Armazém Cervejeiro, além de professora do Science of Beer Institute e do Senac MG, assim como juíza dos principais concursos cervejeiros brasileiros e internacionais.

2 Comentários

  • Cilene Saorin Reply

    15 de maio de 2022 at 16:23

    Querida Fabiana Arreguy,
    Muito obrigada.
    Meu abraço carinhoso.

  • Ruben Froemming Reply

    20 de julho de 2023 at 16:37

    Boa tarde Fabiana !
    Sou Ruben Froemming (74 anos) Mestre Cervejeiro formado na TUM – Weihenstephan – Alemanha.
    Desenvolvi toda minha carreira profissional em grandes Empresas que atuam no setor de bebidas no Brasil.
    Quero lhe dizer, que compartilho integralmente seus comentários e opiniões abordados em todas as suas postagens no Guia da Cerveja. Impressionante a forma clara e precisa que você aborda temas muito atuais no mercado de cervejas e que colocam na mesa temas muito importantes , aos quais você dá um encaminhamento muito realista!
    Parabéns e vou aguardar suas novas postagens !

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