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Graja e Avós dão voz à ancestralidade e conectam personagens do Grajaú

Senhor Wilson Flanela e Dona Nete são figuras das comunidade do Grajaú homenageados no rótulo colaborativo

Ciente de sua relevância na construção de uma nova cena cervejeira e pensando em atender e dialogar com o público periférico, a Graja Beer, localizada no Grajaú, na zona sul de São Paulo, reforçou seus laços com os desafios, as dores e a cultural local ao apresentar a primeira cerveja, em dois rótulos, da série Ancestralidade. É uma Premium Pils, que foi pensada, desenhada e produzida em parceria com a Cervejaria Avós para dar representatividade ao bairro. Para isso, realizou conexões com uma marca de roupas, uma rede de educação popular e um artista visual a partir da homenagem a pessoas da comunidade.

Nos rótulos, estão estampados os rostos de Dona Nete e do Senhor Wilson Flanela, ambos do Grajaú. E a cerveja reforça a união entre eles, tanto que as latas não podem ser vendidas separadamente. O casal que inspirou as cervejarias completará 50 anos de casamento em dezembro.

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 “A gente vai vivendo. De repente, fizeram essa surpresa que a gente não esperava. Colocaram nossa imagem na cerveja, foi uma surpresa muito grande e ficamos muito contentes”, destaca Wilson Flanela.

Ele conheceu Dona Nete através do seu cunhado, em uma das idas aos bailes que reuniam a juventude negra para dançar e celebrar a cultura afrodescendente em meados de 1970. O rapaz logo se encantou pela beleza da jovem, não perdeu tempo e logo a pediu em namoro. E o matrimônio veio na sequência.

Desde então, construíram uma relação que sempre esteve permeada pela cultura e ancestralidade negra, com uma forte ligação sobretudo com o samba. O samba, aliás, tem presença constante nas lembranças de Wilson Flanela, um apaixonado por carnaval. Assim como para Dona Nete, que sempre o acompanhava nos ensaios da escola de samba Vai-Vai. A união do casal gerou quatros filhos. Depois, vieram mais oito netos.

Não foi à toa, assim, que a Graja Beer decidiu abrir a série Ancestralidade com duas figuras representativas do Grajaú. “A periferia tem, entre outros problemas, a necessidade de uma busca às suas raízes, pois historicamente elas foram apagadas, seja a raiz indígena, africana, ou europeia, essa última, ainda mais preservada”, pontua Leandro Sequele, fundador da Graja Beer.

Ele destaca que falar de ancestralidade é importante para tentar fazer com que as pessoas religuem os laços afetivos e comunitários com suas origens. “É lembrar que não somos descendentes de escravos, mas de reis e rainhas que foram escravizados e trazidos violentamente para cá”, frisa.

O lançamento das cervejas da série Ancestralidade se deu em latas de 473ml. E essa Premium Pils tem 4,7% de graduação alcoólica. “É uma cerveja pensada em ser fácil de beber. Leve e agradável, pensada tanto para bebedores experientes, quanto para a galera que está chegando, ou que ainda não conhece a pluralidade gustativa do craft”, conta Sequele.

Ele enxerga a criação de uma cerveja colaborativa com a Avós como um passo natural na relação entre as marcas. Afinal, elas vinham fazendo pequenas ações juntas, além da intersecção provocada por conversas sobre o mercado, a sociedade e o futuro. E foi assim que nasceu a ideia do novo rótulo, pensando em como criar algo que tenha impacto no dia a dia das marcas.

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“Em algum momento, falando sobre os coletivos que trabalham com educação no Grajaú, contamos para o Junior [Bottura, fundador da cervejaria Avós] sobre a rede Emancipa, que é um grupo que já está super articulado e trabalhando a nível nacional com educação popular, e sobre nossa vontade de fomentar a marca de moda identitária Pele Preta. Deu match. O estalo criativo veio e o Junior propôs uma collab onde o lucro fosse destinado às ações da rede Emancipa”, explica Sequelle.

Foco na comunidade
Na época que surgiu a ideia da série, a Graja Beer estava com uma instalação artística do artista Ladis, também do Grajaú. “Pensamos em ligar a ideia de moda, com arte visual e ancestralidade, homenageando Dona Nete e Wilson Flanela [pais dos donos da marca Pele Preta] com a imagem deles nas latinhas. Estão fazendo 50 anos de casados em 2022, aí surgiu a ideia de cada lata ter um deles. E não podem ser vendidas separadamente. Pois, se estão tanto tempo juntos, não é o consumidor que pode separá-los, não é?”, fala Leandro.

A Pele Preta, aliás, é uma marca de marca de bonés, roupas e acessórios nascida no Grajaú, também tendo forte ligação com a ancestralidade e a valorização da cultura afro. Ela foi fundada por três sócios, Vladimir Oliveira e Edmilson Oliveira, filhos de Dona Nete e Wilson Flanela, além de Josino Cruz Neto.

“A gente acabou percebendo que a marca não era só uma marca, a galera se sentia representada pela Pele Preta, pelo nome e pela história. E começamos a entender que era uma forma das pessoas estarem também se orgulhando” conta Edmilson. “Vamos ocupar um espaço que hoje é destinado apenas às marcas que não nasceram nas periferias e não conversam com nosso povo, mas mesmo assim tem entre seus faturamentos grandes valores oriundos dos bolsos de pretos e pretas, de toda a grande periferia que emerge como uma potência financeira. Queremos provar que é possível fazer dos nossos para os nossos na mesma qualidade que o mercado trabalha atualmente, levando a nossa identidade a todos os lugares”, completa Vladimir.

A série Ancestralidade, assim, une duas cervejarias, uma marca de roupas, uma rede de educação popular, um artista visual e homenageia pessoas da comunidade. “Esse é o DNA da Graja! Não podemos deixar de levar em conta a cultura e sua pluralidade para falar de povo! O brasileiro tem muitas camadas vindas dessa miscelânea cultural, e olhar para o samba, para o povo preto, para as culinárias e seus ingredientes espalhados pelo país afora só agrega possibilidades desse povo se interessar e ter um olhar de que esse produto também é deles. Juntar arte e educação com uma cerveja gostosa, é juntar nossos amigos ao redor da mesa e viver aquele bate papo leve e potente. Juntar a Avós a Graja Beer, é atravessar uma ponte e mostrar que isso é possível”, conclui Sequelle.

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