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O que a Coca-Cola sinaliza para o futuro do setor ao comprar a Therezópolis

Therezópolis tem 6 rótulos em seu portfólio, sendo vista como uma cervejaria que se posiciona entre as artesanais e as premium

Pode até não ser imediatamente. Mas o setor cervejeiro, que tem 95% do mercado brasileiro concentrado em Ambev, Grupo Heineken e Grupo Petrópolis, poderá ganhar no futuro um quarto participante relevante: a Coca-Cola. E, caso essa possibilidade se confirme, o marco inicial da chegada de um novo ator terá sido a aquisição da Cerveja Therezópolis, anunciada pela Coca na semana passada.

Para entender o impacto e, principalmente, os sinais dessa compra, a reportagem do Guia ouviu analistas de relevantes bancos de investimento. Eles destacam ainda ser cedo para prever a estratégia da Coca-Cola no Brasil, após duas das principais distribuidoras do seu sistema, a Femsa e a Andina, adquirirem a Therezópolis. Mas apontam que, para recuperar a rentabilidade perdida com o fim do acordo de distribuição das duas principais cervejas do Grupo Heineken, não será surpresa se a marca de refrigerantes realizar novas aquisições.

Leia também – As razões e previsões que levaram o Grupo Petrópolis a apostar no lúpulo brasileiro

“Com o fim da parceria da Heineken, que anunciou que pararia de utilizar o Sistema Coca-Cola, os volumes de cerveja a serem distribuídos pela Coca-Cola Femsa e Andina deverão ter forte queda. Dessa forma, com menos volume fluindo em sua estrutura, há menor diluição de custos e perde-se rentabilidade. A recente aquisição da Therezópolis irá compensar apenas parcialmente essa condição, portanto não seria estranho esperar novas aquisições no futuro próximo”, comenta, ao Guia, Leonardo Alencar, analista da XP Investimentos.

Alencar ressalta, ainda, que a Coca-Cola, caso queira, de fato, tornar-se uma companhia atuante no setor cervejeiro, possui qualidades suficientes para concorrer com as principais empresas do segmento. “Caso este seja apenas um primeiro passo no processo de construção de um portfólio de cervejas, teríamos a formação de um novo player com vantagens competitivas relevantes”, avalia o analista da XP.

A aquisição da Therezópolis pela Coca-Cola se insere em um contexto de mudanças na distribuição de cervejas pela marca de bebidas. Segundo acordo firmado com o Grupo Heineken em fevereiro, a empresa norte-americana de refrigerantes deixa de distribuir as marcas Amstel e Heineken, ainda que continue sendo responsável pela entrega de outras cervejas pertencentes ao portfólio da companhia, casos de Eisenbahn, Bavaria, Kaiser, Sol e Tiger, recém-lançada no mercado nacional.

Leandro Fontanesi, analista do Bradesco BBI, enxerga vantagens para marcas que se associarem às fornecedoras da Coca-Cola, pois poderão acessar novos mercados. “O novo contrato com a Heineken dá mais flexibilidade para o sistema Coca-Cola fazer aquisições e até assinar parcerias com outras empresas. Faz sentido adicionar cerveja porque é um mercado bem relevante e permite ocupar mais os caminhões de entregas. Além disso, as marcas de cerveja podem se beneficiar da força da marca Coca Cola para entrar nos pontos de venda”, analisa ao Guia.

O analista da XP Investimentos, contudo, pondera que o acordo não deverá ter tanto impacto para a Therezópolis, até pelas características do negócio da empresa da Serra Fluminense. A marca conta com seis rótulos em seu portfólio, sendo vista como uma cervejaria que se posiciona entre as artesanais e as premium, pois costumeiramente é encontrada em grandes redes varejistas.

“Acredito que o impacto imediato não deverá ser significativo, uma vez que, apesar de ter acesso a uma capilaridade comercial extremamente interessante, algo que é um diferencial competitivo de grandes cervejarias como a Ambev, por exemplo, isso não deve mudar de imediato o perfil de cervejaria artesanal da Therezópolis, onde a limitação da produção está alinhada à filosofia do segmento”, comenta Alencar.

Os planos da Coca-Cola
No anúncio do negócio, as distribuidoras disseram que a transação “faz parte da estratégia de longo prazo da Coca-Cola para complementar seu portfólio de marcas de cerveja no Brasil”. Na visão de Alencar, a aquisição também ajuda a compor o sistema comercial do Sistema Coca-Cola, juntando em sua operação duas divisões do setor de bebidas que funcionam, em termos de demanda e distribuição, de forma bem diferente.

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“A construção de um sistema comercial com alta granularidade leva tempo e exige muitos recursos, sobretudo para produtos que exigem maior frequência de entrega e que possuam também eventos sazonais bem marcados, como é o caso da cerveja, enquanto a estrutura de distribuição para bebidas não-alcoólicas tem menor volatilidade ao longo do ano”, aponta o analista da XP. “A associação de ambas, portanto, deve rentabilizar mais essa estrutura mesmo que o processo de venda possa não ser idêntico.”

Em julho, em teleconferência após a apresentação do balanço da Femsa Coca-Cola, o diretor financeiro Constantino Spas havia indicado que a empresa buscava um novo posicionamento no setor cervejeiro do Brasil após selar o novo acordo com o Grupo Heineken. E, assim, ele começou a se concretizar a partir da aquisição da Therezópolis.

Estamos atualmente em conversas com uma série de outras cervejarias internacionais, bem como com algumas ideias interessantes sobre marcas locais. Isso está em andamento e podemos implementá-lo, sem dúvida, nos próximos meses. Acho que vamos acabar com um portfólio muito sólido, um portfólio que cobre desde o segmento econômico até o super premium no Brasil, que é muito relevante, com diferentes tipos de oferta de cerveja

Constantino Spas, diretor financeiro da Femsa Coca-Cola

Para Fontanesi, analista do Bradesco BBI, a Coca-Cola está, em um primeiro momento, com a compra da Therezópolis, aproveitando o vácuo provocado pelo acordo de fornecimento com a Heineken para buscar outras parcerias dentro do setor cervejeiro.

“Apesar de ser uma aquisição relativamente pequena para a Coca Cola, faz sentido porque ela deve ter um gap no portfólio de marcas premium com as marcas Heineken e Amstel indo da distribuição da Coca-Cola para a da Heineken (transição deve ocorrer no 2S21), de acordo o novo contrato de distribuição que deve valer pelo menos até 2026”, acrescenta Fontanesi.

Já o BTG Pactual, em um relatório produzido pela sua equipe de analistas, avaliou que as últimas ações no setor cervejeiro – incluindo a aquisição da Therezópolis pelas empresas do Sistema Coca-Cola – mostram que as distribuidoras continuarão tendo um papel importante dentro do segmento.

“Não apenas vemos menos riscos com a transição gradual das marcas Heineken e Amstel para o sistema de distribuição da Schin, mas também vemos os engarrafadores continuando a ser players relevantes de cerveja com o claro potencial de ganhar escala adicional à medida que novas marcas sejam adicionadas aos seus caminhões”, projetam seus analistas.

Mas, se ainda é preciso esperar algum tempo para entender se há mais razões por trás da aquisição da Therezópolis pelas fornecedoras da Coca-Cola, o analista da XP Investimentos destaca que a realização do investimento no atual cenário econômico brasileiro demonstra a força do setor cervejeiro brasileiro e o seu potencial para expansão, mesmo diante das incertezas enfrentadas nos últimos meses por causa da pandemia do coronavírus.

Isso também reforça o potencial que o mercado cervejeiro tem no Brasil e confirma a recuperação mais rápida do que o esperado após os piores momentos da pandemia, mesmo enquanto bares e restaurantes ainda não tinham retomado suas operações de maneira regular

Leonardo Alencar, analista da XP Investimentos

Conheça as envolvidas no negócio
A Femsa Coca-Cola, com sede na Cidade do México, é considerada a maior distribuidora de produtos da Coca-Cola no mundo. São 3,3 bilhões de caixas unitárias negociadas anualmente, com quase 2 milhões de pontos de venda. A empresa tem 49 fábricas e 268 centros de distribuição.

Presente no Brasil há 18 anos, a Femsa Coca-Cola é responsável pela distribuição do Sistema Coca-Cola em São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Já a Andina atua na Argentina, no Chile e no Paraguai, sendo que no Brasil atua com os produtos da Coca-Cola no Rio de Janeiro e Espírito Santo.

A Therezópolis foi fundada em 1912 na região serrana no Rio, mas teve a produção interrompida em 1922. A sua retomada se deu em 2006. E, até sua venda para as engarrafadoras da Coca-Cola, fazia parte do grupo Arbor Brasil, que conta, no seu portfólio, com a Catuaba Selvagem e o vinho Cantina da Serra.

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