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Entrevista: “O setor estará consolidado, maduro e menos fragmentado em 5 anos”

Gerente nacional de vendas da CBCA, Juliano Dal Pont revela a meta de quintuplicar a companhia até 2026

Um setor com o dobro da participação atual no mercado cervejeiro, mais maduro e menos fragmentado. É assim que o segmento de artesanais deverá estar em até cinco anos, ao menos na previsão de uma empresa que tem ganhado relevância no segmento, a Companhia Brasileira de Cervejas Artesanais (CBCA).

Essa visão foi apresentada, em entrevista ao Guia, por Juliano Dal Pont, gerente nacional de vendas da empresa. Com a experiência de quem está à frente da operação comercial da CBCA, ele avalia que a expansão do setor de artesanais, freada a partir da eclosão da pandemia do coronavírus, será logo retomada – até pelas adaptações forçadas que foram adotadas, tornando as marcas mais dinâmicas.

Na CBCA, inclusive, ele participou de ações importantes, como a incorporação da Seasons, a quarta marca do grupo (as outras são Leuven, Scohrnstein e The Drummer), além de ter firmado parceria com a distribuidora Fábrica 75, para aumentar a sua presença em São Paulo. Por coincidência, ambos os acordos foram selados no primeiro trimestre de 2020, quando a crise sanitária era uma sombra do descalabro que atingiria o país.

Nem por isso a CBCA parou. Desde então, a companhia tem investido em melhorias da sua distribuição, seja nas regiões de origem de algumas das suas marcas, como Santa Catarina e no interior paulista, ou mesmo em centros fundamentais para o setor de artesanais, como São Paulo. Além disso, a companhia tem planos de expansão que passam pela integração de novas marcas, algo que deve ocorrer em 2022.

Essas ações fazem, de acordo com Dal Pont, parte de um plano maior, de consolidação da CBCA como referência dentro do segmento de cervejas artesanais. Para ele, afinal, quem adquirir esse status nos próximos 18 meses poderá aproveitar a expansão do setor. E é o que a companhia quer fazer: quintuplicar de tamanho para o momento em que o segmento de artesanais estiver mais maduro no Brasil.

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Acompanhe o que a companhia pretende fazer para que esse objetivo se concretize na entrevista do Guia com Juliano Dal Pont, gerente nacional de vendas da CBCA:

Como está a CBCA nesse momento e como a empresa enxerga a situação atual do setor de artesanais?
Nosso momento hoje é de crescimento. É um momento de expansão de operações, investimento em novos projetos, de criação de um ecossistema cervejeiro, mesmo com todas as dificuldades. Obviamente que a velocidade está um pouco aquém daquilo que o projeto original demandava, mas a gente tem cumprido bem as metas estabelecidas. E porque a pandemia foi catalisadora de oportunidades. A gente começou a olhar de uma forma mais profunda o nosso negócio, observando oportunidades onde muitas empresas estão vendo só a dificuldade. Quando a gente fala em inovar, a gente não fala só em inovar em produto, a gente fala em inovar no processo, no modelo de negócio, no formato da gestão, o jeito CBCA. A sustentação de todo negócio nesse período passou por esses pilares. Algumas coisas nós não abrimos mão, como ter gente boa no time. Nós não abrimos mão de manter a qualidade dos nossos produtos e dos nossos processos e de um processo de expansão mesmo com toda dificuldade.

E como a CBCA inovou na pandemia?
A Seasons, que é uma das nossas marcas hoje, foi adquirida em março de 2020, no momento em que a pandemia chegou para todos com uma surpresa. A Fábrica 75, na mesma época, se concretizou, com a nossa distribuição direta na capital de São Paulo. Os projetos continuaram, a The Drummer teve a sua primeira exportação no último quadrimestre de 2020. Então, a gente começou vários movimentos que se concretizaram e se consolidaram como base para o ano de 2021, que arrancou muito bem, dentro das metas e das expectativas da companhia. Porém, a partir de março, a gente teve uma retração. Teve uma queda sensível no consumo, todo mundo sofreu com as inúmeras restrições. Nós paramos, pensamos, reorganizamos.

Já é possível projetar, em meio a oscilações, como a CBCA vai encerrar 2021?
Com oito meses transcorridos, a gente já tem uma expectativa para o fechamento do ano. Mas é óbvio que são cenários. Permanecendo como está o cenário, a nossa expectativa é bastante positiva. Saímos de julho, que foi até então o melhor mês da companhia, e adentramos agosto com boas perspectivas, bons resultados e caminhando para superar julho. E essa talvez seja a tônica até o final do ano, ou seja, mês a mês superar o melhor resultado da empresa. Porém, a gente sabe que tem de manter os pés no chão, olhar o mercado, o cenário que está envolvido, porque o vírus continua aí, as restrições podem reaparecer. A expectativa é de fechar 2021 sendo superior em pelo menos 40% em relação ao ano de 2019.

E em termos de capacidade produtiva? Como estão as fábricas da CBCA?
A gente passou por um processo de expansão da capacidade fabril recentemente, foram adicionados novos tanques às operações, tanto de Piracicaba quanto de Pomerode. Toda a parte de sistema de frio e da linha de latas em Pomerode também foi substituída, otimizando a capacidade sensivelmente. Temos capacidade para manter as nossas operações e atingir as metas até o final do ano. Hoje temos algo em torno de 70% da nossa capacidade já sendo utilizada na íntegra. A tendência natural é que até o final do ano a gente tenha um nível de capacidade com equipamentos funcionando com o máximo de giro.

Para que a fábrica flua, nós distinguimos dois centros de distribuição, um em São Paulo e um em Tijucas (SC), porque o intuito é dar o máximo de vazão possível aos produtos. E, conseguindo pulverizar isso nos centros de distribuição, a gente tem uma comercialização mais rápida, o produto está mais próximo efetivamente do nosso consumidor. Obviamente, sempre temos na alça de mira para onde vamos: novas marcas, novas fábricas, novos projetos, novas negociações. Isso é algo que é constante e perene no negócio CBCA, até porque nós temos um objetivo claro de crescimento. E o crescimento vem de duas formas basicamente: na sua base, ampliando seus consumidores, ou via aquisição de uma nova fábrica, uma nova marca.

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Como a CBCA tem atuado para conseguir esse crescimento e o que planeja para mantê-lo?
A primeira questão é planejamento. Temos um propósito muito claro de estruturar a nossa cadeia de distribuição. Os movimentos que nos têm trazido ótimos resultados envolvem distribuição direta em São Paulo. Assim, a gente conseguiu maximizar a nossa capacidade de distribuição, ampliou o time de vendas e atingiu vários pontos tanto no on quanto no off trade que a gente não estava presente. E a gente tem uma entrega de produto com consistência. São marcas fortes, produtos de qualidade, com logística eficiente. Então, isso fez com que o nosso crescimento, principalmente em São Paulo capital, via distribuição direta, viesse. Operações que a gente consolidou também em 2020 que trazem a pujança, solidez e consistência para 2021, como a distribuição no litoral catarinense que vem se ampliando sistematicamente. Outra questão é a do varejo. As pessoas passaram a beber mais em casa. A Leuven tinha uma penetração mais forte no varejo, mas a Schornstein, não. Então, a gente começou também a mirar no canal de autosserviço, no canal de varejo. Nosso portfólio nos permite jogar nos mais diversos canais. Estamos consolidando São Paulo, trabalhando no litoral catarinense, fortalecendo Piracicaba, principalmente com Leuven, e Pomerode, principalmente com a Schornstein.

Está nos planos da CBCA realizar novas aquisições?
Não posso dar spoilers aqui. Mas deixo claro também que um dos nossos pilares é crescimento via aquisições. Então, para 2022, está nos planos a aquisição de uma nova marca. Existem conversações, mas ainda é tudo muito incipiente, acho que seria um pouco leviano da minha parte colocar isso aqui. Vivemos momentos de incerteza, estamos muito cheios de cicatrizes, então temos que botar os pés no chão. Tem, sim, novos negócios em vista, mas nada em via de concretização.

Por onde passa a estratégia da CBCA de se consolidar como referência no segmento?
O nosso objetivo é ser protagonista nesse setor, que é novo no Brasil, está em construção. Eu acredito que essa construção se dará nos próximos quatro ou cinco anos. Quando a gente olha para 2025, 2026, a gente espera que tenha muito mais solidez. Hoje são mais de 1.380 cervejarias, só que aproximadamente mil surgiram nos últimos cinco anos. Agora quem é que vai passar esse período de arrebentação? Quem é que vai permanecer em um mercado muito fragmentado? Os grandes players das artesanais têm 3%, 4% do mercado do segmento. E a média de volume de uma cervejaria artesanal no Brasil é de 15 a 20 mil litros. Para sermos protagonistas e crescermos, nós temos de tornar nossas marcas mais relevantes e importantes. E buscar marcas que complementem a nossa arquitetura de portfólio. Não adianta você ter marcas colidentes, você tem que ter marcas complementares, fortes, cada uma jogando o seu jogo na ponta. Ou você acaba canibalizando. Agora, quando são complementares, você leva mais produtos de estilos diferentes para consumidores diferentes. E consegue amplificar o teu raio de atuação com o mesmo custo operacional. Começa a ver escala, começa a ter penetração, começa a ter relevância ainda maior.

Nesse plano de expansão, quais serão as estratégias da CBCA envolvendo as suas marcas?
A questão da distribuição direta é um pilar. A gente está dando maior consistência às operações em São Paulo. Reiniciamos um trabalho em Porto Alegre com a Seasons, uma marca original de lá. É uma marca que precisa retornar para suas origens, preservar o seu DNA. Estamos buscando novos canais de comercialização para dar penetração no litoral catarinense, em Florianópolis e Balneário Camboriú. A partir do momento em que a gente descentraliza essas operações e capilariza, consegue levar as marcas juntas a lugares que até então elas não estavam.

Quais são suas projeções para o segmento de artesanais pós-pandemia?
O passado é importante para a gente ver os movimentos que aconteceram, no Brasil ou no exterior. E o setor vinha numa crescente de 20% a 30%. A gente tem um mercado que está em algo em torno de 2% do setor cervejeiro. Se a gente for considerar que esse mercado permanecerá crescendo, a tendência é que ele fique em torno de 4% a 5% em 5 anos, algo que é super significativo, porque a gente está falando em dobrar de tamanho em pouco espaço de tempo. Então os projetos precisam ser acelerados porque os consumidores têm de conhecer a marca, o seu negócio. E as parcerias têm que ser executadas. A partir do momento em que o mercado ficar maduro, será muito mais difícil algo novo penetrar.

A gente está em um momento de transição, com todo mundo aguardando ansiosamente para o momento em que nós futuramente poderemos nos reunir, beber, comemorar e socializar. E cerveja é um veículo de entretenimento. Quando a gente consegue pegar a cultura cervejeira com a saída de um momento super difícil, quem sair disso, vai sair forte. As empresas que superaram esses últimos 18 meses, que conseguirem manter um padrão, que assegurarem um crescimento nos próximos 12 a 18 meses, muito provavelmente serão as que vão estar em destaque quando a gente olhar o setor em quatro a cinco anos. Nós teremos o mercado maduro no Brasil nos próximos cinco, seis anos. Menos fragmentado, menos pulverizado. Quem se profissionalizar, quem tiver capilaridade, quem tiver distribuição, quem tiver pilares sólidos de gestão, vai sobressair.

E como você imagina que estará a CBCA em cinco anos?
A gente tem que estar super focado nas praças dos nossos centros principais, mas também conseguir levar boa cerveja, acessível e cerveja fresca por todo Brasil. Então a gente tem que aumentar as operações. Uma fábrica no Nordeste, uma fábrica do Centro-Oeste, uma fábrica no Norte do país? Não sei. Trabalhar uma estratégia de regionalização de marcas, por que não? A gente tem que buscar uma definição mais clara, mas queremos ser protagonistas. A gente quer chegar a ter cinco vezes o nosso tamanho atual, seja por aquisições, incorporações ou crescimento dentro das nossas próprias marcas.

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