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Entrevista: Unificação e reforma tributária pautam presidente do Sindicerv

Márcio Maciel defende que simplificação tributária é fundamental para tornar setor mais competitivo e dinâmico

Com mais de 20 anos de experiência em relações institucionais, Márcio Maciel assumiu, em janeiro, o cargo de presidente-executivo do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv) com objetivos claros. Eles passam por aumentar a representatividade da instituição que agora lidera através do diálogo que amplifique pautas e demandas, sendo a principal delas a reforma tributária. É o que ele relatou em entrevista ao Guia Talks.

Não à toa, embora represente no país Ambev e Grupo Heineken, que detêm mais de 80% do mercado cervejeiro, Maciel, nas primeiras semanas como presidente do Sindicerv, buscou estar em contato com as cervejarias artesanais no périplo que realizou por diferentes cidades brasileiras.

E nessa busca pelo diálogo e por interesses em comum, encontrou um ponto de consonância com esses representantes: a necessidade de mudanças na tributação. A pauta, prioridade do Sindicerv em 2023, também evoca desejos do governo do presidente Lula, que já indicou a intenção de realizar uma reforma tributária. E Maciel defende que a simplificação tributária é fundamental para tornar o setor mais competitivo e dinâmico, sem aumentar a carga tributária.

Para o presidente do Sindicerv, passa pela aprovação de uma nova tributação o crescimento da indústria cervejeira, que, assim, conseguirá seguir promovendo a inovação, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

Confira os principais trechos do Guia Talks com Márcio Maciel, que antes trabalhava como diretor de assuntos institucionais e inteligência competitiva da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos e agora é o presidente-executivo do Sindicerv:

Com qual objetivo você chega ao Sindicerv?
Representamos cerca de 80% da produção de cerveja no Brasil. Então, até por isso, temos uma estrutura em Brasília que acaba olhando para diversos aspectos do nosso mercado que são importantes para o bom funcionamento dele. Eu cheguei ao Sindicerv com o objetivo de agregar cada vez mais ao setor. Apesar de representarmos 80% do mercado e várias marcas das duas empresas, estamos num processo, que vem desde antes de mim, desde o ano passado, com um termo de cooperação com a Abracerva, de nos aproximarmos dos micro e pequenos produtores, tentando trazer cada vez mais a cultura cervejeira para todo o Brasil. Estou com o trabalho de conversar cada vez mais com a cadeia como um todo, com governos, é claro,  com a imprensa e com a sociedade civil para as pessoas entenderem um pouco mais sobre a nossa paixão nacional. Entender mais sobre cerveja, deixar de pensar nela como um líquido que bebemos em comemorações e jantares, em alguns eventos, e entender o que ela significa para o nosso Brasil. É geração de emprego e de renda, é melhoria na qualidade de vida.

O que você traz dos seus trabalhos anteriores para oferecer à indústria da cerveja como presidente do Sindicerv?
Eu sou executivo de relações institucionais, tenho histórico de 20 anos trabalhando na área de relações governamentais, um trabalho que basicamente leva informações para governos e para a sociedade sobre o setor em que você atua. Muitas coisas são desconhecidas. Eu tenho esse histórico setorial e de associativismo, conheço sobre o que é trabalhar em uma associação e como você deixa essa associação mais forte e mais representativa para os seus associados. Esse foi um dos motivos que olharam para mim e falaram: essa pessoa faz sentido nesse momento em que queremos agregar cada vez mais à categoria e falar dela para fora. Então, vamos pegar alguém que conhece a dinâmica do associativismo e tem o histórico de trabalhar também em parcerias. Por onde eu passei, sempre busquei trabalhar em parceria com quem está na minha cadeia, no mesmo ambiente de negócio.

E como você, agora presidente do Sindicerv, tem colocado em prática esse diálogo?
Eu tenho conversado muito com a Abracerva, com a Câmara Setorial da Cerveja, do Ministério da Agricultura, que reúne todos os elos da cadeia para dialogar sobre políticas públicas positivas para o setor. Estou procurando pautas que sejam convergentes, vendo como é possível utilizarmos o Sindicerv para trabalhar de maneira unificada pelo setor. Além disso, em toda viagem que fazemos, estou procurando visitar uma micro e pequena cervejaria. Já conheço os problemas das grandes, mas não sei do dia a dia das pequenas. E estamos buscando trazer algumas dessas pautas para trabalhá-las institucionalmente. Escutamos e vemos se tem alguma coisa convergente. Algo super convergente é a questão tributária. E a pauta prioritária do Sindicerv para esse ano é a reforma tributária. Queremos trabalhar juntos e ver como conseguimos ajudar o governo a, de fato, resolver o problema desse manicômio tributário brasileiro, que é difícil de entender. E, pior ainda, os impostos são muito caros.

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Como seria essa reforma tributária desejada pelo Sindicerv e, mesmo, por todo o ecossistema cervejeiro?
A nossa prioridade fundamental nessa reforma tributária é tornar fácil o pagamento de impostos no Brasil. Vou dar o exemplo de associados do Sindicerv que precisam guardar uma quantidade enorme de documentos por conta de fiscalizações futuras ou obrigações acessórias que dariam para preencher mais de seis Maracanãs. Isso sem contar os documentos que já existem e estão guardados em alguns lugares. Então, imagina o preço que é pagar por isso, que vira custo. Empresas do Sindicerv, e outras empresas também, têm mais gente do que seria razoável na sua área de pagamento de impostos. São mais de 200 pessoas trabalhando só para entender e pagar impostos. Imagina o custo para pagar essas pessoas. É muito provável que seja mais do que várias empresas têm para investir em inovação. Por isso que falamos da simplificação como a coisa mais importante neste momento. Claro que a simplificação não pode vir com um aumento da carga tributária, hoje 56% do que pagamos na cerveja é imposto. É uma coisa inacreditável, a maior taxa de imposto da América Latina. Não dá para conviver com isso. Por isso, não queremos aumento de imposto. Isso se reflete em toda a cadeia. Indo além, temos que olhar as especificidades dos pequenos e outros parceiros, não podemos fazer uma reforma tributária que penalize bares e restaurantes. A reforma tributária tem que desonerar custos dos pequenos empreendedores.

Vocês imaginam que essa reforma vai sair? Quais são as expectativas e como estão sendo as articulações?
Se fosse fácil fazer uma reforma tributária, ela já teria sido feita. Eu sou historiador de formação e sou apaixonado por história. A história nos mostra que as mudanças estruturais geralmente ocorrem em momentos de ruptura ou quando há algo muito grave em jogo. Todos já viram muitos governos e essa reforma nunca saiu. O que vemos nesse momento é que embora não estejamos em um momento crítico ou de ruptura, estamos enfrentando um momento econômico difícil, no qual o crescimento é desafiador. Precisamos olhar para dentro e resolver algumas questões não resolvidas anteriormente para impulsionar o crescimento. É encorajador ver que a reforma tributária é uma prioridade do governo e do Congresso, o que são bons indícios. Como membros da sociedade civil, precisamos nos fazer ouvir para apoiar essa medida, mostrando que é importante para gerar emprego e a melhoria da economia.

No ano passado, o Sindicerv assinou um acordo de cooperação com a Abracerva. Como essa relação está sendo estreitada e de que modo isso pode ajudar as cervejarias artesanais?
Queremos ver como a expertise do Sindicerv, que é trabalhar no ambiente regulatório, pode colaborar com a Abracerva. A Abracerva tem uma capacidade incrível de falar sobre cultura, eventos e gastronomia, enquanto temos a habilidade executiva para lidar com questões regulatórias e institucionais. Vamos ver como podemos unir essas habilidades para ajudar a todos. Cheguei em 2 de janeiro e conheci o Giba (Gilberto Tarantino, presidente da Abracerva) na segunda quinzena do mês. Ainda estamos conversando e nossa relação é excelente, mas estamos criando um plano para ver o que podemos fazer. Como representantes do setor como um todo, sentimos a obrigação de falar em nome de todos, desde os micros aos pequenos. A Abracerva é nossa principal parceira, mas estamos abertos a conversar com qualquer pessoa interessada em melhorar esse setor.

Falando em tributação, 12 estados brasileiros elevaram o ICMS sobre a cerveja recentemente. Como o Sindicerv enxerga isso?
O impacto não é bom, já falamos que 56% do que se paga na cerveja é imposto. Então, se você coloca mais um pouquinho, esse número só tende a aumentar. Vimos com preocupação, tentamos trabalhar para evitar que o aumento fosse concedido ou fosse total. Mas quem sou eu para dizer a um gestor público qual deve ser a prioridade dele? O que tentamos fazer foi sensibilizar, falando do impacto de um aumento logo no verão, nas férias, com as pessoas na praia. Por isso falo que a questão de se apresentar é super importante. Os tomadores de decisão precisam entender quem nós somos e qual o efeito de você aumentar o imposto. Porque, no final das contas, o setor sempre evita ao máximo repassar o preço ao consumidor. Ou o preço fica mais caro e se o consumidor brasileiro não está tendo aumento de renda na mesma velocidade, ele vai ter que começar a fazer escolhas de acordo com o preço. Em alguns lugares, conseguimos ter algum sucesso no sentido de diminuir o tamanho da mordida e em outros, não. Seguimos nesse nosso trabalho, que está começando e está mostrando que a cerveja com preço razoável é boa para todo mundo, aumenta a geração de renda.

O ano de 2022 terminou com alta de 2,7% do PIB e de 8% da produção da cerveja, mas houve recuo da economia nacional no último trimestre. Quais são as expectativas do Sindicerv para a indústria da cerveja em 2023?
A expectativa para 2023 é positiva. É o primeiro ano cheio após a pandemia. Tivemos o melhor carnaval da história. Está explodindo o número de eventos em todos os lugares. E os eventos impulsionam o nosso setor. Há uma expectativa de um governo que está tentando trazer o máximo de previsibilidade possível para a economia, o que é muito positivo. Acreditamos que teremos um crescimento em nosso setor. Os bares e restaurantes pretendem contratar mais pessoas este ano. E os nossos principais pontos de venda são os bares, mais de 60% das cervejas consumidas no Brasil são vendidas nesses locais. A fase crítica da pandemia passou e as cadeias produtivas mundiais estão se realocando, com rearranjos logísticos. Acreditamos que teremos um crescimento no setor de cerveja no Brasil, possivelmente não tão forte quanto nos últimos anos, mas ainda assim positivo, já que o nosso setor está muito aquecido. Esperamos que continue assim. Não posso dar um número exato de crescimento agora, mas esperamos que no próximo anuário do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) tenhamos um aumento no número de fabricantes de cerveja no Brasil.

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