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Entrevista: “Viajando de bicicleta, a cerveja era sempre o prêmio final”

Edson Carvalho pedalou em busca de aventuras e cervejas artesanais únicas em trajetória que será relatada em livro

Pedalar 5.324 quilômetros em busca de aventuras e saborosas cervejas artesanais, mas guardando o primeiro gole para o término de cada dia na bicicleta. Assim se desenrolou a jornada de seis meses e meio de Edson Carvalho, conhecido como o Viajante Cervejeiro, enquanto percorria a rota de Florianópolis até Ushuaia, na Argentina.

Agora, essa trajetória está prestes a ganhar vida em um novo capítulo: o livro “Sem Pressa para o Fim do Mundo”. Com o sucesso de sua campanha de financiamento coletivo, o Viajante Cervejeiro compartilhará suas experiências e descobertas, como explica em entrevista ao Guia Talks.

No livro, ele narrará suas passagens por Uruguai, Argentina e Chile, até finalmente chegar a Ushuaia. E durante essa trajetória, o Viajante Cervejeiro teve a oportunidade de explorar uma rica diversidade de cervejarias, mergulhando na cultura de cada nação e região pela qual pedalou.

Além disso, na entrevista, ele aborda a construção de sua rotina, centrada na busca por novas localidades e experiências, recompensada com uma cerveja ao final de cada dia.

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Confira os principais trechos da entrevista com Edson Carvalho, o Viajante Cervejeiro:

Como foi realizar a viagem de bicicleta de Florianópolis até Ushuaia?
A experiência foi extremamente gratificante. Inicialmente planejei essa jornada para 2020, mas, devido à pandemia, tive que adiar. Em 4 de julho de 2022, parti de Florianópolis, então estou longe de casa há mais de um ano, embora a viagem tenha durado seis meses e meio. Quando iniciei, não estava completamente preparado fisicamente, o que resultou em uma tendinite no meio do percurso e me fez interromper a jornada por três meses, quando estava em Porto Alegre. Após a recuperação, retomei a rota, atravessando o Uruguai, indo de Colônia de Sacramento a Buenos Aires de barco, adentrando a Argentina e descendo pela Ruta 40. Em um ponto específico, alcancei El Bolsón, uma região voltada à produção de lúpulo e cerveja. Posteriormente, fui ao Chile para explorar uma parte da Carretera Austral, retornando finalmente o trajeto até Ushuaia. No total, foram seis meses e meio pedalando, concluindo a jornada em 14 de abril.

Você optou por escrever um livro sobre a sua viagem. Quais serão os conteúdos abordados nesse livro?
Durante a jornada, mantive um diário de viagem para registrar minhas experiências e também anotei detalhes sobre todas as cervejas que experimentei ao longo do caminho. O foco do livro não é apenas realizar um relato da minha vivência, mas também documentar as cervejas que degustei em diferentes locais, incluindo bares e cervejarias. Minha intenção é narrar essas histórias em formato de crônicas, incorporando a cerveja como um elemento central. Alguns exemplos incluem os estilos de cerveja introduzidos no BJCP na Argentina, como a Dorada Pampeana e a IPA Argenta, além de explorar a cena cervejeira e as peculiaridades de cada local. No final do livro, vou oferecer um guia com informações sobre os lugares visitados e as cervejarias que conheci, destinado a quem desejar viajar pela Argentina ou fazer a mesma viagem que eu. Essa é a essência do livro.

Como era sua rotina durante a viagem? Pode nos descrever um dia típico do Viajante Cervejeiro?
É uma rotina dentro de uma vida sem rotina. E é necessária. Viajar de bicicleta exige atenção constante ao mapa e análise das condições, como altimetria, clima e mesmo o vento, pois a velocidade pode até te impedir de pedalar. Geralmente, na noite anterior ou pela manhã, eu estudava aplicativos de mapas, verificava a altimetria, condições climáticas e direção do vento. Além disso, utilizava um aplicativo colaborativo para encontrar locais adequados para acampar ou dormir.

Eu procurava acordar cedo para aproveitar ao máximo as horas de luz do dia. No início, estava preocupado em encontrar locais para dormir, mas ao longo da jornada, percebi que, com uma barraca, poderia acampar em qualquer lugar. Também buscava um lugar com algum rio próximo para poder pegar água, para beber, e tomar banho.

Ao chegar a um destino, procurava cervejarias e bares locais, contava minha história e era bem recebido, tendo permissão para montar minha barraca no local ou até mesmo sendo convidado para a casa de alguém. Uma peculiaridade na Argentina e no Uruguai era o hábito de eles saírem muito tarde à noite. Isso causou algumas situações engraçadas, pois eu era convidado a dormir dentro de um bar, mas ele só fechava às 4 da manhã.

Geralmente, meu dia começava com um café da manhã reforçado. E se eu sabia que não iria chegar em um bar ou uma cidade, levava uma lata de cerveja. Eu gostava muito de tomar uma cerveja como uma forma de comemoração por ter vencido aquele dia. Na questão do viajante cervejeiro, ainda mais sendo de bicicleta, a cerveja sempre estava no final do dia. E, se fosse uma cerveja artesanal, melhor ainda.

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Você tinha uma rota pré-definida ou estava mais aberto a improvisos?
Minha abordagem foi mais voltada ao “deixar acontecer”. Houve uma vez em que encontrei dois ciclistas estrangeiros, um francês e um coreano, em um posto de gasolina. Eu não ficaria naquela localidade, mas, após um dia cansativo, descobri uma cervejaria a cerca de cinco quilômetros de distância. Eu, na hora, entrei em contato com eles pelo Instagram e acabei indo até lá. Não estava planejado e foi incrível. Então, comecei a não planejar tanto, porque se planejava, as pessoas perguntavam quando eu ia chegar. E eu tinha que ir e acabava perdendo essas oportunidades. Eu deixava a coisa mais livre. Chegava, me apresentava, e geralmente me recebiam e dava tudo certo.

Em sua visão, quais são as diferenças da cultura cervejeira brasileira com a dos países que você visitou na viagem?
Na Argentina, se toma muita Honey Beer, cerveja com mel, praticamente todas as cervejarias fazem. É algo que a gente quase não tem no Brasil, só me lembro da Colorado fazendo. Eu até fui dar uma olhada, a Argentina é uma grande produtora de mel, o que de certa forma justifica. No Uruguai e na Argentina, têm muita a cultura da cerveja ruiva, preta e clara. E eles têm uma dificuldade de mudar na cabeça do consumidor médio que a ruiva pode ser de vários estilos. Algumas regiões também têm questões sobre o insumo. A Argentina é uma grande produtora de lúpulo. Na Patagônia, eles têm muito orgulho da matéria-prima deles. Em Ushuaia, a maioria das cervejarias usam malte e lúpulo locais. Tem muito uso de fruta e madeiras locais, valorizando os seus produtos, assim como fazem muito marketing das cervejas com água da Patagônia, que para eles é um sinônimo de água pura. No mais, acho que eles bebem da mesma fonte que a gente, de olhar muito para a escola norte-americana, com a IPA, que é quase sinônimo de cerveja artesanal, assim como no Brasil.

E quanto à adesão dos argentinos aos seus novos estilos de cerveja?
O consumidor que não está tão familiarizado com o mercado de cerveja artesanal pode não saber o que é a Dorada Pampeana. Ele vai pedir uma ruiva sem perceber que é uma Dorada Pampeana. No entanto, dentro do público que consome cerveja artesanal, acredito que essa compreensão esteja mais disseminada. Recentemente, houve uma campanha interessante. No dia 9 de junho, várias cervejarias independentes da Argentina se uniram para uma iniciativa em que brassaram uma IPA Argenta. Um mês depois, no dia 9 de julho, foram lançadas várias cervejas em bares por todo o país. Eles estão trabalhando ativamente nesse sentido, tentando disseminar a cultura cervejeira.

E a Argentina tem muitos pequenos cervejeiros?
Algo que notei como diferença aqui, embora eu não tenha os números exatos, é que parece muito mais fácil abrir uma cervejaria na Argentina. Durante minhas visitas, encontrei diversas cervejarias legalizadas que operam em garagens e até em residências. Aqui, até uma pequena área sob um prédio, parecendo um pequeno depósito, pode ser a base para uma cervejaria. Essa facilidade ocorre devido aos diferentes registros disponíveis. Um indivíduo pode obter a liberação para operar em nível provincial, o que significa que pode vender sua cerveja apenas dentro dessa província específica. Eles têm requisitos mais flexíveis. Passei por cidades pequenas e perguntei como alguém conseguiu aprovar uma cervejaria ali. A resposta foi que o pessoal ajuda a regularizar essas atividades. No entanto, se alguém quiser começar a vender em âmbito nacional, aí os requisitos ficam um pouco mais rigorosos, envolvendo questões fiscais, por exemplo. Mesmo assim, é possível que alguém fabrique e venda cerveja legalizada em sua própria residência, com foco na cidade em que reside.

Qual foi a melhor experiência da viagem?
A Carretera Austral, no Chile, é uma rota muito famosa entre ciclistas. Ela tem cerca de 1.250 quilômetros e termina no sul. É uma estrada muito dura, porque a Cordilheira dos Andes é muito alta, com estrada de chão. E eu fiz 900 quilômetros da Carretera Austral, algo que não estava nos meus planos iniciais, tinha até medo pelas dificuldades que me relatavam. A duras penas, cheguei até o final. No dia que cheguei, não tinha bar cervejeiro na localidade. A cervejaria era em uma vila bem pequenininha. Comprei uma cerveja chilena artesanal de uma cidade chamada Coyhaique. Foi como se eu tivesse finalizado a viagem, porque foi tão difícil esse trecho. Então eu me lembro dessa cerveja, que eu tomei com muito prazer. E tive vários momentos assim.

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