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Balcão do Baierle: O homem e as plantas

O título deveria ser: “As plantas e os homens”, afinal, elas chegaram primeiro do que nós neste planeta. Mas, como humanos, sempre nos colocamos à frente das outras espécies que dividem o planeta conosco.

Essa relação entre nós e as plantas é milenar, e sem elas não estaríamos aqui, apesar de algumas teorias de que o homem só evoluiu em inteligência devido ao consumo de carne e de outras que apontam o consumo de cogumelos alucinógenos.

Polêmicas à parte, quero debater sobre a importância das plantas para o mundo atual e, principalmente, para o universo cervejeiro.

A cerveja é feita basicamente de quatro insumos, sendo dois deles de origem vegetal, o malte e o lúpulo. Agora você gostou mais das plantas, né?

Em relação ao lúpulo, o Brasil ainda não tem uma produção expressiva no mundo. Estamos engatinhando, mas somos bebês bem ativos e curiosos. E tenho certeza de que ainda iremos ocupar uma posição de destaque na produção mundial de lúpulos, principalmente nos cultivares de aroma.

Já quanto ao malte, o Brasil tem uma produção muito expressiva, pois aqui está localizada a maior maltaria da América Latina, e a sétima do mundo, a Agrária, localizada no município de Guarapuava, no Paraná.

As pessoas me perguntam bastante sobre malte, pois acham que é uma espécie de planta, quando, na verdade, a malteação é um processo de germinação em condições controladas que pode ser realizado em qualquer tipo de cereal. O malte de cevada é o mais conhecido e utilizado, mas temos malte de arroz, centeio, trigo etc.

E arrisco afirmar que todo mundo já fez malteação na vida, pois a grande maioria já realizou aquele processo de germinação do feijão em um copo com algodão e água nas primeiras séries escolares.

Isso mesmo, você já fez malte e nem sabia!

Essa relação do homem com as plantas não é muito pacífica, pois onde hoje cultivamos a cevada ou o lúpulo já existiu uma floresta! Não vou me aprofundar neste assunto, mas cabe a reflexão de que talvez as plantas nos vejam como inimigo, enquanto nós, pelo menos, a maioria como amigos! E se as plantas falassem, nossa relação com elas seria mais difícil, tenho certeza!

Hoje em dia sabemos que as plantas se comunicam entre si, através das raízes e das redes de fungos que as conectam. E além de se comunicarem, trocam nutrientes e carbono. Por exemplo, em uma floresta, as árvores maiores que dominam a parte superior trocam carbono por outros nutrientes com as plantas menos que ficam mais próximas ao solo. É algo incrível.  

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Também sabemos que as plantas são capazes de sentir nossa energia. Foi realizado um experimento com vasos de plantas da mesma espécie vindas do mesmo local: um grupo recebeu elogios e foi tratado com amor pelos humanos; o outro grupo de plantas recebeu xingamentos e palavras de ódio. O resultado foi que nas plantas que receberam xingamentos secaram e morreram, enquanto as que receberam amor prosperaram! Pensando por este lado, as plantas são muito mais evoluídas que nós! Eu sempre converso com minhas meninas, que é como chamo minhas plantas de lúpulo, que são todas fêmeas, pois apenas as fêmeas são utilizadas na produção de cerveja. Corre lá e converse com suas plantinhas….

Existem plantas que também são capazes de ouvir! Isso mesmo! Em um outro experimento, foi colocado o som de abelhas em algumas plantas, enquanto nas outras não foi colocado nenhum som. O resultado foi que as plantas em que havia o som das abelhas ocorreu maior produção de néctar nas flores. Ou seja, elas ouviram as abelhas e produziram mais néctar para atraí-las. E, assim, se reproduziram e perpetuaram sua espécie.

No futuro, com as atuais técnicas de melhoramento genético, muita coisa vai acontecer. A técnica mais moderna hoje é chamada de CRISPR, em que conseguimos editar a genética das plantas e de outros organismos. Ou seja, recortar o DNA e editá-lo. Poderemos, um dia, por exemplo, recortar o DNA de um organismo que produz luz própria e introduzir este pedaço de DNA em uma planta, produzindo, assim, uma planta com capacidade de produzir luz! Louco, né? Dá até um pouco de medo… Na verdade, me dá bastante medo.

Agora, depois de tudo isso, tenho certeza de que você vai dar mais importância às plantas e a quem cuida delas, pois sem elas não teríamos cerveja! E são tantos estilos de cerveja graças a grande variedade de maltes e lúpulos existentes, em cada região, com seu terroir diferenciado!

Imagine o que pode acontecer no futuro. Por exemplo, uma planta de cevada com o gene do lúpulo que produz alfa ácidos, os compostos do lúpulo que conferem amargor à cerveja… Assim não precisaríamos mais cultivar duas plantas, e sim apenas uma!

Vou parar por aqui.

Uma última mensagem: valorize mais as plantas da sua casa. Se você não tem uma planta, compre uma. E valorize mais o agricultor que cultiva as plantas que precisamos. Sem ele, não teríamos comida, cerveja, vinho, cachaça etc. Não estaríamos aqui, neste planeta, vivendo da maneira como estamos!

Viva as plantas! Viva a cevada e o lúpulo!


Rodrigo Baierle é engenheiro agrônomo e especialista em genética de plantas e lúpulo. Atua como produtor de lúpulo na Lúpulos 1090, sendo consultor para produtores de lúpulo. É o idealizador do Festival Nacional da Colheita do Lúpulo.

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