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“Sonho de consumo”, Barley Wine conquista mercado como cerveja comemorativa

Graduação alcoólica da Barley Wine varia de 8% a 12%, com índice de amargor indo de 35 a 70 IBUs

O período de reaquecimento do setor cervejeiro vem levando algumas marcas a ampliarem o portfólio de rótulos oferecidos ao consumidor. Essa busca pela multiplicidade de opções tem coincidido com a produção de estilos até então menos usuais, como o Barley Wine, algo realizado, em algumas situações, para marcar datas comemorativas, mas também pelo desejo de se trabalhar com cervejas envelhecidas.

Especialistas ouvidos pela reportagem do Guia confirmam essa maior aceitação da Barley Wine pelos consumidores e pelas marcas, ainda que esse estilo tenha um custo de produção mais elevado.

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“Pode ser uma conjunção de fatores: é um estilo que tem muita identificação com o inverno; é um estilo elegante, que pode ser feito como um rótulo comemorativo; é uma ótima base para cervejas envelhecidas em madeira e cada vez mais as cervejarias se voltam a essa categoria de cervejas que passam por barricas”, afirma a jornalista e sommelière de cervejas Fabiana Arreguy. 

Para Sady Homrich, engenheiro químico, cervejeiro e baterista da banda Nenhum de Nós, a sofisticação proporcionada pela receita deste tipo de rótulo atende aos desejos de um mercado consumidor cada dia mais exigente. “O equilíbrio e complexidade desse estilo têm ganhado adeptos que, de certa forma, já passaram pelos superlativos trazidos pela escola americana e querem outro tipo de experiência”, opina.

A complexidade e a sofisticação da Barley Wine também são citadas como atrativos das cervejas desse estilo, como aponta Samuel Cavalcanti, CEO da Bodebrown, marca que produz rótulos dessa variedade há oito anos.

“A primeira cerveja da série envelhecida em madeira da Bodebrown foi a Double Perigosa Wood Age Series Cabernet Sauvignon 2014, que vendeu toda a sua produção de 3 mil garrafas em poucas semanas. Criamos estas cervejas pensando num consumo ‘sem pressa’. São bebidas que podem ser apreciadas daqui a cinco, dez ou 15 anos, bastando serem armazenadas em adega, a 12ºC. São cervejas complexas e estruturadas, que vão ganhando sabor com o tempo”, ressalta.

Nos últimos meses, algumas cervejarias se voltaram para o estilo Barley Wine no momento de apresentarem novidades ao mercado, como a Cia de Brassagem Brasil, que comemorou os seus cinco anos de existência com um novo rótulo deste estilo, e a Leopoldina, que faz parte do Grupo Famiglia Valduga e reforçou os seus laços com o mundo do vinho ao apresentar uma bebida deste mesmo tipo. Além delas, a Bodebrown e a Nacional também trouxeram ao mercado lançamentos de cervejas desta categoria.

Para Samuel, o sucesso das cervejas Barley Wine pode estar relacionado com a oferta de uma experiência de consumo desconhecida ainda por muitos amantes desta bebida. “A principal vantagem é abrir uma nova jornada sensorial, ampliando ainda mais as fronteiras do incrível universo das cervejas artesanais”, ressalta.

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Na avaliação de Fabiana, embora tenha custo de produção elevado, a Barley Wine é uma ótima opção para marcar ocasiões especiais, como tem sido feito por várias cervejarias, principalmente por ser vista como um “objeto de desejo”.

“Seu custo de produção é alto e ela chega ao mercado com preços não muito acessíveis. Como vantagem eu enxergo que pode ser uma cerveja-conceito, safrada, numerada – o que acaba se tornando um sonho de consumo. Barley Wine não é uma cerveja com grande apelo de público para se tornar tendência. Acho que é um estilo que as cervejarias continuarão produzindo sazonalmente, em datas e épocas específicas”, afirma.

Já Sady avalia ser difícil ver cervejas desse estilo permanecendo fixas no portfólio de muitas marcas, especialmente por causa das suas características de fabricação.

“O custo de produção é alto, não só pelos insumos, mas também pelo tempo de maturação, ocupação de tanque e rendimento. Uma vantagem é o extenso prazo de validade e capacidade de guarda. Se a cervejaria quer agregar valor ao portfólio, OK, mas acho que funciona melhor como rótulo sazonal”, pondera.

Porém, por se tratar de um estilo de cerveja de fabricação mais refinada, a Barley Wine também é vista com um estilo cuja adoção pode ser considerada estratégica para as marcas por conferir aos seus produtores uma credibilidade em um mercado com um público cada vez mais ávido por diversificar as suas experiências de consumo. Ao mesmo tempo, coincide com o aumento do nível técnico das cervejarias. “No nosso caso, a motivação é criativa e artística, buscando ampliar as experiências sensoriais da cerveja. Isto é o que nos move”, diz o CEO da Bodebrown.

Samuel, porém, acredita que a Barley Wine pode conquistar mais espaço no mercado brasileiro diante do potencial de aproximação entre a gastronomia e a cerveja a partir das harmonizações.

Estamos há mais de 10 anos no mercado e já vemos alguns restaurantes que abriram as portas para as cervejas artesanais, com destaque para produtos especiais, como as garrafas de 750ml e os rótulos envelhecidos em madeira. Mas sentimos que ainda existe muito espaço para ser conquistado pela combinação entre pratos e cerveja – principalmente na chamada alta gastronomia. As Barley Wine têm potencial para ampliar este processo de quebra de paradigmas das cervejas artesanais

Samuel Cavalcanti, CEO da Bodebrown

O estilo
De acordo com o BJCP, considerado o principal guia de estilos do mundo, a English Barley Wine, que faz parte da família das Ales, é uma “vitrine de riqueza maltada e sabores complexos e intensos. Com corpo elevado e beirando ser mastigável, com calor alcoólico e um agradável e interessante frutado ou lupulado. Quando envelhecida, pode assumir sabores semelhantes ao do vinho do Porto”.

A sua cor pode variar de rico dourado a âmbar muito escuro ou até marrom escuro. Tem sabores de malte fortes, intensos, complexos e multifacetados, variando de notas de pão, caramelo e biscoito em versões mais claras a nozes, tostados profundos, caramelo escuro e/ou melaço em versões mais escuras. Sua graduação alcoólica varia de 8% a 12%, com o índice de amargor indo de 35 a 70 IBUs.

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