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Crítica: Druk aborda prazeres, contradições e efeitos do álcool de forma atraente

Mads Mikkelsen, como um professor de história apático e com o casamento à beira do fim, é o ator principal do filme

*Por Leandro Silveira

A sinopse de um filme indica caminhos, mas nem sempre deixa claro o que virá pela frente. É assim com Druk – Mais Uma Rodada, representante da Dinamarca no Oscar, concorrendo aos prêmios de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Direção, para Thomas Vinterberg, neste domingo.

“Druk – Mais uma Rodada é a história de quatro professores com problemas em suas vidas, testando a teoria de que ao manter um nível constante de álcool em suas correntes sanguíneas, suas vidas irão melhorar. De início, os resultados são animadores, porém, no decorrer da experiência, eles percebem que nem tudo é tão simples assim”, afirma a sinopse.

A partir dessa premissa, o filme poderia desembocar em uma comédia divertida e boba sobre homens que se divertem como adolescentes, abusando do álcool. Nas mãos de Vinterberg, porém, se transforma em uma interessante abordagem sobre os prazeres e as dores do excesso, ainda que sem perder a leveza para tratar da cultura da bebida, já a partir de sua cena de abertura, quando o seu consumo é inserido em uma gincana adolescente.

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Esse início ajuda a dar o recorte do filme: o consumo de álcool pelas classes sociais abastadas. E serve como pano de fundo para o início da busca pseudocientífica de que o seu uso pode trazer bem-estar em meio à chamada crise da meia-idade, pois todos nasceriam com uma deficiência de álcool no sangue – e equilibrar essa conta seria o caminho para a felicidade, despedaçando a bolha do enfado.

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A abordagem se dá com empatia e ternura pelos personagens: o professor de história em uma escola de Ensino Médio apático e com o casamento à beira do fim, Martin, interpretado por Mads Mikkelsen, puxa a fila da transformação – e das boas atuações – ao se tornar um ótimo contador de história a partir da largada da experiência.

Só que o êxito inicial do experimento também traz, consigo, uma armadilha: a imprevisibilidade de não se saber se os personagens estão à beira do êxtase ou de se machucarem. Todos, porém, têm conhecimento disso em meio a uma farra, mas diante dos bons momentos que o álcool traz nas experiências anteriores e do vício não assumido que os levou a atingir esse estágio, prosseguem.  É, ambiguamente, até previsível.

Ao fim, o mais importante acerto de Vinterberg, fundador do movimento Dogma 90 ao lado de Lars von Trier e autor de filmes fortes como A Caça, está em abordar a indeterminação dos efeitos do álcool sem se prender a questões sociais e, principalmente, morais. E isso dá a Druk uma grande e agridoce sequência final, sem a óbvia condenação ao uso da bebida.

Vinterberg, assim, une uma classe média pouco empolgante, homens de meia-idade vacilantes em suas vidas pessoais, expondo o mal-estar dos seus personagens e os misturando com álcool. Uma união rara de se ver nas telas de cinema. Deixa a conclusão ao espectador, entre a abordagem séria sobre o abuso da bebida e o entretenimento provocado pelo seu prazer, mas com a conclusão de que Druk é uma história atraente. Vale uma rodada.

*Leandro Silveira é jornalista e editor-chefe do Guia da Cerveja

1 Comment

  • Cilene Saorin Reply

    25 de abril de 2021 at 21:47

    Ganhou! Oscar de Melhor Filme Internacional. Uma linda abordagem e reflexão.

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