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Entrevista: Quem é a Octopus e o que a fez liderar ação em prol da luta LGBTQIA+

Atualmente, já são 27 cervejarias confirmadas no Brewing Projet, liderado pela Octopus

Criar um projeto que desse voz aos anseios dos seus próprios colaboradores. Foi com esse intuito que a Cervejaria Octopus liderou e foi a responsável pelo surgimento do Brewing Love, um movimento que busca, através da união de diversas marcas, problematizar as situações de preconceito no ambiente cervejeiro e aumentar a conscientização do setor, de acordo com o relato de Walter Costa, designer do projeto visual e analista de marketing da Octopus, em entrevista ao Guia.

Apoiar a temática, em sua visão, foi algo natural para a marca. Criada no Rio de Janeiro, mas hoje sediada em Belo Horizonte, a cervejaria distingue-se de muitas outras por ter seu time de colaboradores majoritariamente formado por mulheres e pessoas LGBTQIA+. Assim, o projeto dá voz à visão da Octopus, que também busca se associar a projetos sustentáveis e musicais.

“Um dia decidimos que tínhamos de transformar isso tudo em uma ideia desenhada e arriscar. Chamar algumas cervejarias que a gente já conhecia e propor uma colaborativa. Ou então um projeto de disponibilizar o rótulo e cada um faz uma cerveja”, explica Walter Costa, destacando a preocupação com inclusão da marca.

Criado pela Octopus, o Brewing Love surgiu em junho, mês em que se celebra o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, e chamou a atenção não só pela importância da causa, mas também pela quantidade de cervejarias participantes.

Atualmente já são 27 marcas confirmadas como participantes do projeto, um bom número, embora reduzido quando comparado a iniciativas semelhantes fora do Brasil. “É gratificante ver que teve uma adesão boa, principalmente além das cervejarias. São muitas cervejarias para nós, que não estávamos pensando em um projeto tão grande, mas não é tanta cerveja assim porque têm muitas no Brasil”, pondera o analista de marketing da Octopus.

Leia também – Em rede de apoio do Science, mulheres denunciam sexismo e assédio no setor

Ao Guia, ele relata a trajetória da Octopus, o surgimento e os detalhes do Brewing Love, além dos seus próximos passos. Confira a entrevista completa de Walter Costa:

A Octopus chamou a atenção agora por liderar o Brewing Love, mas como foi a sua trajetória até chegar a esse momento?
Os sócios começaram no Rio de Janeiro, como uma daquelas microcervejarias que vai para eventos. Até que um dos sócios se mudou para Belo Horizonte e aí resolveram transferir a cervejaria para cá. Então, começaram a lançar mais produtos e a desenvolver a marca. Com o escritório, foram contratando mais pessoas e acabou crescendo. Aqui eles lançaram, por exemplo, a New England Double IPA, uma de nossas cervejas melhor avaliadas. De lá para cá, a gente já lançou mais de 40 rótulos. Tem as colaborativas com cervejarias e outras parcerias, como a Cross Beer, que é nossa parceira desde que a gente começou a vender a produção em maior escala.

E como surgiu a ideia do projeto Brewing Love?
A gente nunca vai saber a razão para esse caminho, mas, até o início deste ano, a maior parte da equipe era principalmente feminina, com exceção aos sócios, e a outra maioria era LGBT. Eram lésbicas, bissexuais e gays. Olhando para trás, no ano passado, a gente viu o Black Is Beautiful, que foi um projeto em que a cervejaria participou. Também teve o All Together e o Manchinha que a gente entrou para dar uma força. Então, a gente entrou em vários projetos para arrecadar fundos, achávamos muito legal e tentávamos estar em tudo que aparecia.

E isso foi mexendo com essa parte da empresa e falávamos: uma hora vai aparecer o projeto LGBTQIA+. Só que não veio e a gente ficou meio frustrado. Era importante, queríamos que acontecesse, mas não acontecia. Inclusive, começaram a aparecer algumas cervejas com arco-íris. E a gente começou a pensar se faria igual, se lançaria uma cerveja com arco-íris e colocava uma referência de música… Até que um dia decidimos que tínhamos que transformar isso em uma ideia desenhada e arriscar. Chamar algumas cervejarias que a gente já conhecia e propor uma colaborativa. Ou então um projeto de disponibilizar o rótulo e cada um faz uma cerveja. Essa ideia toda aconteceu em 48 horas.

Como foi o desenvolvimento do projeto?
No fim das contas, o projeto do zero até a arte finalizada e disponibilização durou mais uma semana. Foi tudo muito corrido, porque a gente decidiu que, se fosse fazer alguma coisa, teria que ser para o mês do Orgulho, que foi junho. E, para poder dar tempo de tudo ficar pronto e ter algumas cervejarias lançando junto com a gente, teria que ser até 28 de junho. No início, a gente só conseguiu 5 cervejarias e as mais próximas. E, para piorar um pouquinho a situação, estávamos planejando o lançamento do nosso e-commerce. Enfim, no dia que lançamos, pedimos para que essas cervejarias também entrassem em contato com outras. Na segunda semana, já não estávamos dando conta porque aparecia muita gente. Ainda não parou porque tem muita gente entrando em contato e perguntando das cervejas, onde compra e como faz para participar.

Hoje vocês estão com quantas cervejarias confirmadas no projeto?
Considerando as que ainda não subiram as logos, são 27. Está em um bom número, obviamente, mas nem chega perto de uma das cervejarias de fora que fez projetos parecidos. Originalmente, a gente tinha cervejarias de fora que estavam querendo participar, mas fomos perdendo o contato, justamente por essa correria. E eu não sei se elas ainda vão entrar.

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O setor tem uma concentração masculina e relatos de casos de machismo e sexismo. Para você, essa adesão acaba sendo surpreendente?
Temos um posicionamento interno em debate sempre sobre isso. Primeiro porque tem muita mulher na empresa, isso já dá um peso que acho super importante. E também tem mais LGBT. Para nós, internamente, era muito importante, inclusive, eu vivo falando com os sócios, já estamos tão apegados a isso, temos que continuar nessa pegada. Contratar mais pessoas negras e colocá-las em evidência dentro da equipe. Saíram duas meninas que tiveram de mudar para outra cidade por causa da pandemia e, para poder repor, agora vão ter que colocar uma travesti e uma preta, e ela tem que ser gerente. É o tipo de coisa que a gente tenta conversar todos os dias porque fica muito na nossa pauta. Se estamos levantando, tem que ser interno antes do projeto ou de qualquer coisa. É gratificante ver que teve uma adesão boa, principalmente além das cervejarias. São muitas cervejarias para nós, que não estávamos pensando em um projeto tão grande, mas não é tanta cerveja assim, porque têm muitas do Brasil.

Então você considera que o projeto já deu certo?
Eu sinto que a gente foi abraçado. Isso dá um quentinho no coração. De tudo, o que fica é: ano que vem vai ter de novo e, se Deus quiser, aumentando e agregando mais cervejarias. É um assunto que tem que ser pautado e que está dando resultado. Se a gente conseguir, nas conversas com as cervejarias, que elas comecem a entender que é mais do que arrecadar dinheiro para ONGs, que é muito importante, mas que elas também comecem a contratar pessoas LGBT e comecem a entender as situações de LGBTfobia que acontecem dentro dos estabelecimentos e não são toleráveis.  Lembro que nesta mesma época do ano passado, era a respeito do Black is Beautiful e a gente conseguiu afastar do meio cervejeiro uma galera que estava causando.

Se a gente conseguir fazer uma coisa parecida agora com o Brewing Love, tirar do meio cervejeiro esse pessoal transfóbico, LGBTfobico, seria muito legal. Acho que é uma  limpeza que a gente faz quando a gente se posiciona. A pessoa que não tolera vem e você fala OK, então não venha mais, as portas para você estão fechadas e vão permanecer fechadas até você se consertar, porque está errado. Dá um alívio saber que estamos deixando o ambiente mais seguro

Walter Costa, designer do projeto visual e analista de marketing da Octopus

E como tem sido a receptividade ao projeto da Octopus pelos consumidores?
A gente ficou com muito receio de como lançar no mercado, como falar e como projetar isso, porque a gente sabe que o “hater” vem – e com sangue nos olhos. Também tínhamos muito receio de como responder, porque não temos a prática desse posicionamento na rede social. E aí pensamos em ir alinhando as respostas, mas, surpreendentemente, a gente não recebeu nada. Já as cervejarias participantes receberam bastante, teve algumas que tiveram ataques e a coisa ficou feia, sabe? Falamos que se precisarem de ajuda de posicionamento, de respostas ou de alinhar as cervejarias para fazer um combate, a gente faz. Muitos conseguiram resolver internamente com a sua equipe de comunicação.

O projeto deste ano vai até quando?
Por ele ter sido lançado muito em cima da melhor data possível, a gente decidiu que ficaria aberto. A coisa, naturalmente, vai acalmando. Ainda estamos neste furor de muita gente rodeando e sentimos que ele ainda está precisando dessa atenção. Acredito que dentro de dois meses, no máximo, não vai ter mais ninguém entrando. Mas para o ano que vem, a gente vai lançar de novo e com antecedência.

E a arrecadação se dará até quando?
A gente não determinou uma data porque qualquer entidade que faz a arrecadação não precisa só pontualmente da ajuda, mas precisa o ano inteiro. Então, se a gente sabe que, por exemplo, a nossa arrecadação vai acontecer quando esgotar o nosso estoque, então saberemos qual foi o montante levantado. Eu sei que todas as outras cervejarias estão fazendo por aí e a gente consegue espaçar melhor essas doações, no decorrer dos próximos meses, e ajudar por mais tempo. Acho que esse é um objetivo secundário.

Quais serão as ONGs beneficiadas?
A gente deixou aberto. Algumas eu consegui entrar em contato para falar do projeto, mas deixei por conta das cervejarias porque é complicado. Elas vão ajudar localmente, cada cervejaria foi achando a sua. Sugeri, por exemplo, que a gente não tem até o momento cervejarias do Nordeste ou do Norte e lá têm ONGs que estão precisando de ajuda. Então, mandem para lá. A gente orienta, mas cada um ficou por decidir da melhor maneira.

Ainda dá tempo de cervejarias interessadas se juntarem ao Brewing Love?
Dá, sim. Primeiro porque tem muita cervejaria que tem sido encaixada no cronograma de produção. Que as cervejarias se encaixem nos seus próprios cronogramas com tranquilidade, porque a gente vai ajudar na divulgação. O site vai permanecer aberto, vamos agregar mais cervejarias e essa página vai continuar. Quando perceber que caiu mesmo a quantidade de pessoas aderindo ou tiver a certeza que todas as cervejarias lançaram suas cervejas, então fecho a página até o ano que vem. Para quem quiser participar, lá no próprio site tem o nosso e-mail e telefone, pode entrar em contato diretamente por lá ou pelas redes sociais da Octopus.

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