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Espaço aberto: Conheça a história dos abridores STARR X

Abridores de garrafas STARR “X” tornaram-se colecionáveis devido à sua história, marca registrada e variedade de designs

*Por Carlos Alberto Tavares Coutinho

Mais uma vez escrevo sobre colecionismo. Alguns pensarão: o que isto tem a ver com um site de artigos e canais sobre cultura cervejeira? Mas estão pensando errado, pois a postagem é dirigida não só aos colecionadores de itens de cerveja, mas a todos aqueles que tem um cantinho dedicado à cerveja, com decoração, uma churrasqueira, geladeiras, facas, copos e pelo menos um abridor de garrafas. E aposto que muitos terão um abridor aparafusado na parede e nada sabem sobre ele, podendo ser um STARR X de alto valor.

Na época em que a maioria das bebidas eram vendidas em garrafas de vidro, havia a necessidade de um abridor de garrafas que não se quebrasse ou quebrasse a garrafa.

Um dos mais famosos tipos de abridores fabricados nos Estados Unidos é o abridor para ser afixado na parede, muito usado no Brasil, na década de 1950/1960, quando o comércio de bebidas tinha grandes refrigeradores de gabinete de madeira e havia, normalmente, pelo menos um aparafusado em uma das portas. Conhecido como STARR X (Star com dois erres”). Para os colecionadores de abridores este é um item muito difícil de ser conseguido na sua totalidade, com centenas de tipos diferentes.

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Ao longo dos anos, os abridores de garrafas STARR X tornaram-se colecionáveis devido à sua história, marca registrada e variedade de designs. Foram fabricados em vários países ao longo dos anos, com patentes diversas e formatos que podem ser: simples em padrão sem logotipo ou com logotipos de cervejas clássicas e artesanais, refrigerantes, esportes; em alto relevo ou baixo relevo; coloridos, banhados de zinco, níquel, cromo e até ouro.

O abridor de garrafas STARR X pode ser impresso com um logotipo plano, em relevo ou gravado para vendas premium, promocionais ou licenciadas. Esses abridores de garrafas ainda são produzidos hoje para engarrafadores, cervejarias, atacadistas, distribuidores, varejistas e outros fabricantes. Há quase cem anos a Brown Manufacturing distribui seus abridores de garrafas com a marca STARR em todo o mundo.

Alguns dos tipos mais colecionáveis destes abridores são os “made in USA” que foram produzidos entre 1925 e o início da década de 1970. Com preços em leilões que variam de alguns poucos até a centenas de dólares, designs como NEHI, Drink Mavis e Orange Crush podem ser vendidos no eBay por grandes valores. Outros designs com o “X” abaixo do STARR, “patente pendente” ou “Patenteado 21 de abril de 1925” também são muito colecionáveis e tem grande valor por serem alguns dos designs mais antigos conhecidos.

Mas vamos à história: Raymond Brown, nasceu em 1888, foi o filho mais novo de um médico do campo residente em vários lugares no Condado de Onslow, Kinston e Tarboro, na Carolina do Norte. Ele tinha dois irmãos e três irmãs. Não fez faculdade por causa das limitações de dinheiro da família, mas de alguma forma foi ajudado para fundar, com um de seus irmãos, a Brown Brothers Company, uma fornecedora de supermercados por atacado, por volta de 1909, quando tinha 20 anos.

Em 1912, eles combinaram com o engarrafador da Coca-Cola em Kinston, na Carolina do Norte, para engarrafar e distribuir Coca-Cola na parte do território em que era difícil para o engarrafador atender.

Isso levou a Coca Cola Tarboro a se tornar independente. No início, as bebidas eram enviadas pela East Carolina Railroad (linha de trem de trajeto curto que se juntava em Farmville, com a Norfolk Southern), para depósitos ao longo da linha, de onde os pontos de venda os buscavam. Em 1914, a Brown Brothers ouviu falar de um acordo semelhante no mercado em Newport News, onde a fábrica da Coca-Cola Norfolk alugou seu direito à Península, o que era impraticável para eles cobrirem. Este acordo durou até a Brown Brothers comprar, por volta de 1920, a participação da Norfolk no território da Península. Os negócios prosperaram especialmente durante a mobilização e a guerra, de modo que na década de 1920 deu ativos para a Brown Brothers investir em outras empresas.

Enquanto isto, em 18 de setembro de 1924, Thomas C. Hamilton, um cidadão de Boston, Massachusetts, fez um pedido de registro de uma patente para um abridor de tampa de garrafa para ser preso à parede. A patente, 1.534.211 foi emitida em 21 de abril de 1925.

Depois de Tarboro, Raymond Brown residiu em Newport News. Por volta de 1925, ele, já proprietário de várias empresas de engarrafamento de Coca-Cola, iniciou a Brown Manufacturing na cidade da Virginia. Em 1927, casou-se e a família mudou-se para uma casa maior no Condado de Elizabeth City, que agora faz parte de Hampton, na Virgínia. Ele permaneceu lá até sua morte em 1989.

Não sei como Raymond Brown ficou sabendo do abridor de Hamilton. Tudo o que sei é que ele estava ansioso para ter uma operação industrial suplementando seu engarrafamento de Coca-Cola e que tinha um lugar, máquinas e uma força de trabalho disponível para empregar nela.

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Ele tinha acabado de descobrir que o produto de um empreendimento paralelo anterior, uma máquina de gravação doméstica que havia sido produzida e vendida, era baseada em pesquisas inadequadas e não teve um desempenho aceitável para os consumidores, o “engenheiro” que o havia induzido a produzi-la provou ser um ex-funcionário descontente e incompetente da Edison. Assim, a pequena operação de fabricação abrigada dentro do prédio de engarrafamento da Coca-Cola e sua pequena força de trabalho estavam disponíveis para algum outro produto.

Alguém, talvez o próprio Hamilton, mostrou a Raymond a patente e ele ansiosamente abraçou o projeto. Ele arranjou com uma fundição de Richmond (Virgínia) para ter os moldes feitos. O acabamento, decoração e expedição dos abridores foi feito nos espaços utilizados para o extinto “projeto anterior”. A operação real na planta envolvia quebrar os moldes separar e tirar o fragmento da junta entre os abridores. Em seguida, suavizar os abridores, polir com pedras redondas em tambores de metal, banhar em níquel, zinco ou cromo, pintar os logotipos em relevo, embalar e despachar para os clientes. Havia cerca de dez mulheres fazendo o trabalho mais leve e um homem que manuseava os barris de fundição e levava os abridores embalados para os correios ou estação de carga.

A operação de engarrafamento da Coca-Cola continuou nos espaços adjacentes do prédio. Quando a operação de engarrafamento foi movida para outro bairro, a um quarteirão de distância, a fabricação de abridores de garrafas expandiu-se para o edifício meio vazio mais antigo sem que os processos mudassem.

Em 9 de fevereiro de 1942, Raymond Brown fez algumas modificações e pediu o registro de uma versão modificada da patente de Thomas Hamilton, a qual foi concedida em 2 de novembro de 1943 uma nova patente com o número 2.333.088. A principal melhoria da patente original foi a inclusão de 2 batentes traseiros adjacentes à aba original do abridor de garrafas. Esses batentes traseiros evitavam que as tampas das garrafas ficassem presas no abridor, para que o próximo usuário não tivesse que remover fisicamente a tampa da garrafa com os dedos.

Na década de 1970, a empresa passou a ter como responsável o seu filho, Raymond Brown Júnior, que morreu em um acidente de avião. Depois de sua morte, a empresa foi assumida por sua esposa, Pat Brown. Ela vendeu o negócio e o prédio em que o empreendimento estava localizado para o filho de um vizinho, James Borden, que foi dono da empresa por 10 anos e acabou vendendo para uma empresária de sucesso, Barbara Brim, cuja empresa, Trademark Marketing International, era cliente da Brown Manufacturing Co. e comprava o abridor de garrafas ‘Drink Coca-Cola’ STARR X da empresa em grandes quantidades.

Quantidades grandes o suficiente para ser um dos maiores clientes da Brown. Ao vender, Borden solicitou que a Brown Manufacturing Company permanecesse uma empresa independente. Assim, Barbara Brim criou a Brown Manufacturing Company como uma corporação da Geórgia em 1998 e seu filho, David Brim, passou a administrá-la. Em 2005, David comprou a empresa de Barbara. David continua a dirigir a empresa até hoje com a ajuda de sua esposa, Cathy, e os filhos: Boyd e Anna.

Não há uma explicação para a marca Starr (com dois erres), mas para o “X”, sim. Ele foi usado no lugar em que deveria ficar o número da patente enquanto se aguardava o respectivo registro e que por se tornar assim conhecido acabou sendo registrado em 1937 como marca.

Todos os abridores de STARR X se parecem na frente, tendo como diferença o número de patente impresso. Todos os abridores feitos após 1943 terão o número de patente mais novo.

Na parte de trás do abridor de garrafas, aparece um número que representa a posição do abridor dentro de um molde de padrão maior usado para fundição. Moldes de padrão para os EUA podem ser de 1 a 200+ enquanto os moldes alemães são de número 1 a 45+. Se for identificado um defeito com um abridor após ser lançado, o número permite que a fundição localize rapidamente e corrija o problema.

A outra diferença está na parte de trás. Qualquer data entre 1929 e o início da década de 1970 traz escrito “Made in the USA”. Isso significa que foi moldado em qualquer uma das fundições em todo os EUA que a Brown Co. usou. A partir dos anos 1970, a Brown Manufacturing Company transferiu sua fundição para a então Alemanha Ocidental. Todos os abridores feitos do início dos anos 1970 até 1991 dizem “Made in W. Germany”. Finalmente, todos os que dizem “Made in Germany” foram construídos de 1991 a 2006.

Em 2006, a Brown Manufacturing Company parou de fabricar esse abridores de garrafas, mas passou a terceirizar sua fabricação em várias empresas, principalmente na China, mas sua qualidade não se compara aos antigos abridores.


*Carlos Alberto Tavares Coutinho é funcionário público septuagenário e aposentado que atende pelo pseudônimo de Cervisiafilia, colecionador de itens de bebidas desde 1994, blogueiro que tenta escrever sobre a história da cerveja brasileira no blog cervisiafilia.blogspot.com.br – A História das Antigas Cervejarias

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