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Perfil: Após inovar e crescer por 20 anos, Backer tem futuro incerto

Cervejaria construiu uma história sólida apostando na inovação, mas viu sua imagem ser destruída em apenas uma semana

No final da década de 90, em Belo Horizonte, uma casa de shows começou a se destacar por causa do chope que vendia. Embora não fosse de nenhuma marca conhecida, era muito bom e ganhou fama em uma cidade que sempre amou cerveja. O local se chamava Três Lobos e pertencia à família Lebbos. Os empresários mandavam fazê-lo em uma cervejaria e vendiam como “o chope made in Minas”. O sucesso foi tanto que decidiram mudar de ramo: investiram em uma cervejaria própria e criaram a Backer, que hoje tem 20 anos de história.

“A receita do chope Backer conquistou os clientes da memorável casa de shows Três Lobos. De lá, eu e meu marido, Halim, com Munir (irmão de Halim), investimos em um espaço para criar a primeira cerveja artesanal de Minas”, contou Ana Paula Lebbos, em outubro de 2016, ao jornal O Tempo, de Belo Horizonte.

Munir, Ana Paula e Halim Lebbos em 2017

Esse é o início da história de 20 anos da cervejaria Backer (“padeiro”, em alemão), que viveu duas décadas de forte crescimento e prosperidade, mas que hoje está no centro de um caso policial que envolve contaminação, dezenas de pessoas hospitalizadas e três mortes confirmadas.

Durante sua trajetória, a Backer sempre inovou e se tornou um ícone da pujança do segmento de cerveja artesanal no Brasil. “A Backer foi uma das pioneiras no mercado mineiro entre as artesanais e já saiu na frente das outras (Krug e Wäls) ao ser a primeira a envasar cervejas de estilos até então desconhecidos, como Weiss e Pale Ale, isso em 1999″, conta a sommelière e jornalista Fabiana Arreguy.

“A partir do lançamento da linha Três Lobos, em 2010, a Backer mudou o conceito dela no mercado, por trazer estilos norte-americanos que ainda eram pouco difundidos no Brasil”,acrescenta Fabiana, que é de Belo Horizonte e conhece de perto a história da Backer.

Leia também – Contaminação chega a 8 rótulos e 21 lotes de cerveja

Em 2014, com forte crescimento nas vendas, a Backer investiu cerca de R$ 6 milhões em uma ampliação e criou o chamado Pátio Cervejeiro. Além de abrigar a cervejaria, o local concentra uma destilaria, uma loja e um restaurante. O investimento ampliou a produção da empresa, que em 2019 estava vendendo suas cervejas para 16 estados diferentes.

Prêmios e a Belorizontina
No foco das investigações, a cerveja Belorizontina foi inicialmente feita como uma edição limitada, mas agradou tanto que se tornou o principal rótulo da empresa, segundo detalha Fabiana.

“A Belorizontina, criada em homenagem aos 120 anos de Belo Horizonte, em 2018, trouxe mais uma inovação ao usar lúpulos franceses na receita de uma American Lager. Essa cerveja, feita em edição limitada, foi um fenômeno de vendas, tanto assim que entrou para o portfólio fixo da Backer. E não só isso, levou à expansão da fábrica para atender a demanda de mercado. A Belorizontina passou a responder por 60% da produção da Backer”, relata Fabiana.

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O investimento em inovação na construção de receitas e a qualidade das cervejas produzidas levaram a Backer a conquistar dezenas de medalhas em importantes concursos nacionais e internacionais, como World Beer Award e European Beer Star.

E, justamente no ano passado, a empresa foi coroada como a melhor cervejaria de grande porte do Brasil, no Concurso Brasileiro de Cervejas, em Blumenau (o mais importante do país) – e, também, como a melhor cervejaria das Américas, na Copa Cervezas de Americas, no Chile.

Estrutura
Atualmente com cerca de 350 funcionários diretos, a Backer não divulga números oficiais sobre sua produção. Mas, pelo volume de tanques já citados na investigação, é possível estimar que a cervejaria possui uma capacidade produtiva em torno de 1 milhão de litros de cerveja por mês, com 20 rótulos registrados.

Segundo levantamento da Associação Brasileira da Cerveja Artesanal (Abracerva), a média de produção das artesanais brasileiras é de 20 mil litros por mês por cervejaria, o que tornaria a Backer a maior do segmento no país.  

Já o Sindicato da Indústria de Bebidas de Minas Gerais (SindBebidas) estima que o faturamento mensal aproximado da Backer estaria em torno de R$ 7 milhões, o que representa 60% da receita de todas as cervejarias artesanais do estado. A empresa também vinha produzindo outras bebidas, como um uísque single malte – o 3 Lobos – e um gin com lúpulos.

Destilaria e novo bar criado pela Backer para a degustação do whisky 3 Lobos

Polêmicas
E, como toda empresa que possui grande participação e influência no mercado, a Backer sempre causou polêmicas com modelos de negócios que fechavam pontos de venda exclusivos da mesma forma que gigantes como Ambev e Heineken fazem.

“A Backer fechava pontos de venda para outras artesanais, dando bonificações, mesas, ombrelones e freezers para ser exclusiva. Por usar dessa prática, nunca foi bem quista pelas outras cervejarias artesanais, que a enxergavam como concorrente desleal”, analisa Fabiana.

O site UOL divulgou que os donos da Backer, em conjunto com um banco, teriam procurado a Ambev para vender a cervejaria, mas a oferta teria sido recusada por conta da quantidade de passivos que a empresa possui.

A situação atual da Backer é complicada. As investigações apontaram contaminação em diversos rótulos e ninguém da empresa consegue explicar o motivo. A marca já está bastante desgastada – e não só em Minas Gerais. Ninguém arriscaria dizer qual o futuro da Backer, mas os estragos já são palpáveis. A cervejaria está interditada pelo Ministério da Agricultura, proibida de produzir e de vender qualquer rótulo de cerveja.

Para Fabiana, que vivenciou de perto a trajetória da cervejaria, é muito difícil conseguir explicar o que está acontecendo. “Difícil compreender ou supor que um erro dessa natureza, de contaminação química em fábrica, tenha acontecido por negligência ou incompetência. Mais difícil ainda é enxergar uma história de 20 anos ser destruída em apenas uma semana”, lamenta a especialista.

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