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Coluna Ana Pampillón

Balcão da Ana: Campos de lúpulo, campos de guerra


A primeira vez em que estive em um campo de lúpulo foi em 2005, outono na Alemanha, quando tínhamos ido comprar insumos para a cervejaria em que eu trabalhava na época.

Fomos no outono, pois era quando acontecia a grande feira BrauBeviale, em Nuremberg, e ali com certeza estaríamos com os grandes fornecedores de tudo o que precisávamos para uma cervejaria.

Me lembro na época de sermos recebidos por um grande nome da área comercial da HVG, que ficou encarregado de nos ciceronear enquanto estávamos ali.

Mesmo sendo outono, tivemos a oportunidade de conhecer os famosos campos de lúpulo de Hallertau. Nessa estação, já não tem mais uma folha no pé e as mudas estão cobertas com folhagens que ajudam na nutrição para as plantas quando a neve derrete. E, assim, no início da primavera, as plantas crescem fortes e com qualidades apropriadas para uma boa comercialização.

Por isso, acreditava-se que o lúpulo só crescia onde esse fenômeno acontecia, com meses de muito frio, no Hemisfério Norte.

Volto um passo atrás para dizer que a emoção de estar naquela ocasião em um campo pelado, sem uma folha sequer, é tão grande quanto estar nele florido. Ali eu entendia a grandeza daquela região, a grandeza desse insumo tão necessário na cerveja, a grandeza da história e, principalmente, por estar em um local onde é famoso por distribuir o lúpulo para o mundo todo. Lúpulo com características específicas de uma região histórica.

Na ocasião, fui entender como era todo o processo na região, onde existe uma cooperativa que administrava toda a parte da colheita, pós-colheita e distribuição dos lúpulos, dali, dos produtores rurais, para o mundo.

Sem a cooperativa, com certeza a região não teria se tornado o que é hoje e nem os produtores de lúpulo tão valorizados também.

Uma vez tendo no sangue valores associativistas, fiquei encantada com tudo que conheci ali.

Dou alguns passos à frente e vejo hoje no Brasil um país rico em solo, em pessoas fortes e resilientes, avançarem e serem capazes de tornar muito promissor o cultivo de um lúpulo com características tão peculiares.

… Não fosse aquela síndrome “Serra Pelada” , onde as pessoas precisam do desespero, de desmerecer tantas pessoas que trabalham sério para que a cultura dê certo no país e que todos colham frutos (nesse caso, flores), com o que tem acontecido por aqui no Hemisfério Sul do planeta.

Enquanto a cadeia não valorizar o que está sendo feito, seja comprando o insumo nacional, seja divulgando, seja testando, e os produtores não acreditarem que a união faz a força, vamos demorar ainda alguns séculos a sermos reconhecidos na história do lúpulo no mundo.

Essa coluna em especial é uma mistura de desabafo, de alerta, de solidariedade, de esperança.

O lúpulo no Brasil pode dar certo, sim. A academia está junta, a Embrapa está junta, o Ministério e secretarias de Agricultura estão juntos, e agora só faltam os produtores andarem juntos.

Torço para ter tempo de ainda ver isso acontecer.

Prosit!


Ana Pampillón é turismóloga, sommelier de cervejas, coordenadora da Rota Cervejeira RJ e atuante no mercado de lúpulo brasileiro

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