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Afeganistão: Cervejas repatriadas pela Alemanha e outras histórias da bebida

Consumo de bebidas alcoólicas é proibido no Afeganistão, mas estava permitido para estrangeiros

O processo de saída das forças de segurança estrangeiras no Afeganistão foi acompanhada, na sequência, pela retomada do poder pelo Taleban, concluída nos últimos dias. Acabou sendo o encerramento de uma intervenção iniciada em 2001, após o ataque às torres do World Trade Center pela Al-Qaeda, e que termina com a volta do país ao obscurantismo. Paralelamente, ao menos de modo oficial, as últimas latas de cerveja foram retiradas do Afeganistão.

Por lá, afinal, o consumo de bebidas alcoólicas é proibido para habitantes locais. Mas existiam exceções para estrangeiros. E foi dentro desse contexto que tropas internacionais tinham acesso a elas, como no caso do Exército da Alemanha que, ao partir em retirada após longos anos de atuação no Afeganistão, também levou consigo a sua cerveja.

A Bundeswehr, como é conhecida as Forças Armadas da Alemanha, preparou uma operação para repatriar 65 mil latas de cerveja que estavam no Afeganistão, além de garrafas de outras bebidas, como o vinho, o espumante sekt e o drinque shandy. Elas estavam em Camp Marmal, até então a principal base das tropas alemãs no país e localizada em Mazar-i-Sharif.

Leia também – Venda de cerveja cai 2,7% no 1º semestre na Alemanha e acentua perdas de 2020

Nas últimas semanas, os soldados alemães no Afeganistão já não podiam consumir qualquer bebida alcoólica, incluindo a cerveja, em função do avanço da violência e do risco real de ataques, um aumento da tensão que coincidiu com o anúncio dos Estados Unidos e da Otan da retirada do país. E não havia a possibilidade de repasse ou mesmo venda da bebida por lá, em função da proibição de consumo.

A ação de retirada de latas de cerveja pela Alemanha no Afeganistão, porém, foi alvo de críticas de alguns políticos e parte da imprensa. O sensacionalista tabloide Bild, o jornal mais vendido do país, por exemplo, relacionou a iniciativa com a falta de apoio a cidadãos afegãos e estrangeiros para deixarem o país após a retomada do poder pelo Taleban.

As contas são de que a Alemanha ajudou mais de 2 mil habitantes locais a saírem do Afeganistão. Mas o caos no aeroporto de Cabul teria impedido a chegada de outros aviões. “Aqueles que trabalharam por muitos anos para a Alemanha e arriscaram suas vidas aparentemente valem menos do que latas de cerveja para o governo federal”, afirmou trecho de reportagem do diário.

Consumo de álcool
Como o álcool é proibido no Afeganistão, os dados oficiais, de acordo com a OMS, eram de consumo zero per capita em 2016, ano do seu último relatório mundial sobre o tema. Mas o número é de 0,2 litros per capita quando a organização contabiliza os dados não oficiais. E a razão é simples: a liberação para estrangeiros.

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Os locais são proibidos de portar e consumir álcool, mas existiam inúmeros estabelecimentos com licenças para vender bebidas a estrangeiros, em um compromisso pragmático – alcançado após a queda do Taleban – para satisfazer o desejo de expatriados no Afeganistão. Além disso, turistas estrangeiros podiam portar duas garrafas de bebidas alcoólicas na chegada ao país.

Nos quase 20 anos de presença estrangeira, alguns incidentes teriam envolvido o consumo de álcool. No mais trágico deles, 16 civis foram mortos, em ação conhecida como Massacre de Kandahar. Relatos locais apontaram que soldados norte-americanos estariam bêbados quando houve o ataque a afegãos, em 2012. Desde então, os Estados Unidos proibiram o consumo de bebidas alcoólicas em suas bases.

Nas forças europeias, porém, o consumo de álcool não chegou a ser banido durante o período de ocupação. E as informações eram de que cada soldado da Alemanha podia beber duas latas de cerveja por dia.

A imprensa internacional também publicou relatos sobre a venda de bebidas no mercado negro e a sua permissão a estrangeiros por lá. Foi o caso da The Wine Economist, com uma matéria sobre como um articulista teve acesso a vinho e outras bebidas alcoólicas, comprados ilegalmente de locais.

Mas o texto mais contundente e premonitório provavelmente foi publicado como artigo de opinião no Guardian, por Seema Jilani, em 2010, com o título (em uma tradução livre) “Ficando bêbado em bares de Cabul? Passe o saco de vômito”.

“Em vez de bater à sua porta apenas quando ocorre uma morte ou explosão, talvez caberia aos diplomatas e aos jornalistas fazer amizade com aqueles que fazem parte dos movimentos de base e que trabalham com os líderes locais. Seu domínio da política do Afeganistão poderia influenciar de forma construtiva a política externa, se apenas largássemos nosso rum com coca e escutássemos”, escreveu Jilani. 

A volta do obscurantismo
Em 15 de agosto, o então presidente Ashraf Ghani fugiu do Afeganistão para o Tajiquistão, enquanto o Taleban tomou o palácio. Foi um fracasso para a ação liderada pelos norte-americanos, que viu o grupo radical islâmico reassumir o poder logo após o início da operação de saída das tropas dos EUA. E, na última quinta-feira, o país voltou a ser um emirado islâmico.

O retorno do Taleban é assustador especialmente para as mulheres, pois seus partidários adotam uma visão extrema do Islã, proibindo-as de estudarem e trabalharem. Além disso, ao tomar cidades nas últimas semanas, o grupo exigia das famílias a entrega de mulheres solteiras e meninas para que se casem com os seus combatentes.

O desespero ficou nítido nos últimos dias com imagens chocantes do caos no aeroporto de Cabul, com pessoas tentando embarcar nos aviões militares. Alguns viajaram superlotados, enquanto em outros pessoas se agarravam a trens de pouso e asas, para caírem logo depois. Além disso, houve dura repressão a protestos.

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