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Como a alta crescente da inflação vai impactar grandes cervejarias e artesanais

Cerveja acumula alta nos preços de 7,62% nos últimos 12 meses e sofre com a inflação da energia e dos combustíveis

Problema econômico recorrente no Brasil até meados dos anos 1990, a inflação voltou a preocupar e a afetar a rotina da população, atingindo o seu poder de compra no início de uma nova década. Se em 2020 o alerta havia surgido com a elevação dos preços dos alimentos, em 2021 a situação se tornou pior, com uma alta mais generalizada por atingir itens como a energia e os combustíveis, que provocam uma reação em cadeia. E, claro, a inflação passou a pressionar também as cervejarias.

De acordo com especialistas ouvidos pela reportagem do Guia, é impossível que a inflação de itens essenciais para a indústria e a cadeia produtiva – casos da energia e dos combustíveis – também não afetem a operação e os custos para as cervejarias. E isso se transforma em alta nos preços pagos pelo consumidor.

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O impacto se dá por alguns aspectos. A inflação desses produtos também atinge o valor dos insumos necessários para a fabricação de bebidas. E a alta dos combustíveis afeta a logística e o transporte das empresas, mesmo em estágios diferentes para as grandes indústrias e as microcervejarias.

O impacto no preço da bebida já começa, inclusive, a ser sentido. Com inflação de 0,29% em agosto, a cerveja no domicílio terminou o mês com uma alta acumulada de 3,49% em 2021. E sua inflação está em relevantes 7,62% no somatório dos últimos 12 meses.

Já o cenário da inflação oficial é ainda pior. O IPCA foi de 0,87% em agosto, o maior para o oitavo mês do ano desde 2000. A inflação também chegou a 5,67% em 2021 e passou a acumular alta de 9,68% nos últimos 12 meses, bem acima da meta de 3,75% definida pelo Banco Central para este ano. E isso tende a piorar.

Divulgado na última semana, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15, considerado a prévia da inflação oficial) foi a 1,14% em setembro, 0,25% acima da taxa de agosto (0,89%), sendo o maior para um mês desde fevereiro de 2016 e para setembro desde 1994. No ano, o índice acumula alta de 7,02% e, em 12 meses, de 10,05%.

O diretor da Escola Superior de Cerveja e Malte (ESCM), Carlo Enrico Bressiani, lembra que a alta dos preços de insumos já vinha afetando o setor desde o ano passado, em função da sua escassez, mas também pela desvalorização do real. Um cenário que agora será reforçado e voltará a atingir as cervejarias por causa da inflação generalizada.

“Vai ter impacto no insumo, com alguma inflação. É algo que já vinha acontecendo desde o ano passado, com a alta do dólar e a escassez de produtos, pela quebra da cadeia mundial dos suprimentos”, avalia Bressiani.

No IPCA-15 de setembro, a alta dos combustíveis foi de 3,00%. Assim, teve grande impacto sobre a inflação, além de ter ficado acima da registrada no mês anterior (2,02%). Especificamente, a gasolina subiu 2,85% e acumula 39,05% de inflação nos últimos 12 meses.

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Nas estimativas da economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto, embora não represente o maior porcentual do preço de uma cerveja, os custos com transporte podem chegar a até 10% do valor. E isso sem levar em consideração a margem do distribuidor, que também sofre com a alta dos combustíveis. “Qualquer variação, então, tem um impacto significativo. E são 9 aumentos da gasolina em 2021, em um total de 30% no ano e 40% no acumulado de 12 meses.”

Efeitos e soluções
Na avaliação de Bressiani, as grandes cervejarias podem ter condições de lidar melhor com o impacto da alta dos combustíveis por questões organizacionais. “As grandes têm todos os processos mais otimizados, aproveitam ao máximo todos os processos. As compras são maiores, então conseguem diluir mais aspectos, como o frete. Na distribuição, têm rotas logísticas e softwares que reduzem o gasto litro/quilômetro.”

O diretor da ESCM alerta, porém, que os principais grupos cervejeiros não deixarão de sofrer com os efeitos dessa inflação, especialmente quando forem necessários grandes deslocamentos para entrega de cargas. Um cenário que ele enxerga como mais raro para as microcervejarias, que, em geral, possuem atuação mais regionalizada.

“A distribuição das grandes cervejarias é nacional, ainda que costumeiramente tenham uma fábrica por estado. Já as pequenas atuam mais regionalmente. E isso reduz o deslocamento. Nesse sentido, é algo positivo para elas”, pondera Bressiani.

A energia elétrica, por sua vez, também vem impactando diretamente a inflação. Em setembro, no IPCA-15, cresceu expressivos 3,61%, embora a variação tenha sido inferior à de agosto (5,00%). No mês passado, vigorou a bandeira vermelha patamar 2, com acréscimo de R$ 9,492 a cada 100 kWh consumidos. A partir de 1º de setembro, passou a valer a bandeira tarifária de escassez hídrica, que acrescenta R$ 14,20 para os mesmos 100 kWh.

E, para a economista-chefe da Reag Investimentos, a alta da tarifa energética pode até não ter efeito direto muito relevante sobre as cervejarias, mas envolve toda a cadeia. Assim, também provoca impacto nos preços dos produtos. “A energia não é tão intensiva na produção de cerveja, então acaba sendo um impacto mais marginal. Mas o distribuidor precisa de energia”, avalia Simone. “O impacto é menor, porque o custo é menor. O impacto maior é o do insumo.”

Bressiani, por sua vez, destaca que as cervejarias – especialmente as artesanais – precisarão, nesse contexto de inflação, mostrar que aprenderam uma das mais importantes lições da pandemia: a importância de otimizar as operações. Nesse momento de alta nos preços, o foco recairá sobre os aspectos logísticos.

“Na pandemia, várias etapas e processos que não eram vistos como tão importantes passaram a ser olhados com lupa. E agora será uma fase em que a logística será observada dessa forma”, conclui o diretor da ESCM, dando a dica sobre como as cervejarias podem reduzir o impacto da inflação que voltou a assombrar o consumidor.

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