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Balcão do prof. Muxel: A cerveja na universidade

Este tema pode remeter a um bando de universitários curtindo o happy hour após as aulas em bares no entorno da universidade. Até poderia, mas quero levar o leitor mais a fundo: como a cerveja é tratada dentro da sala de aula e nos laboratórios de pesquisa. Calma, antes de pensar no pior – como o problema do alcoolismo, assunto cuja importância é relevante -, o que eu quero abordar é a maneira que a cerveja é tratada enquanto objeto de ensino, pesquisa e extensão dentro das universidades do Brasil.

Enquanto vemos um crescimento exponencial de novas cervejarias, as universidades recém completaram seus 18 anos e ainda estão tomando gosto pelo líquido, estão aprendendo a saborear essa área. E o que uma coisa tem a ver com a outra? Bem, chegamos ao ponto principal da questão! É preciso formar profissionais capacitados para atuarem em todas as áreas do setor cervejeiro. E, além: é necessário o desenvolvimento de pesquisas de ponta para termos avanço científico no setor.

Um exemplo bastante simples e que muitos leitores provavelmente já devem ter vivenciado ao optar por comprar cervejas em lojas especializadas, esperando um atendimento também especializado, com atendentes preparados e conhecedores dos vários tipos e estilos de cervejas disponíveis no mercado, assim como sua origem e harmonizações: nos deparamos com funcionários que apresentam conhecimentos absolutamente limitados, tornando a experiência bastante similar à de ir a um supermercado qualquer. Essa experiência, por mim vivenciada algumas vezes em plena “Capital Nacional da Cerveja”, expõe a necessidade – e carência – de profissionais capacitados.

Extensão
Porém, nos deparamos com um entrave para os profissionais que querem se especializar na área: o alto custo de investimento, o que torna esta uma realidade para poucos. Com este fato exposto, devemos pensar em alternativas de capacitação, com qualidade, certificação e acessibilidade pelo baixo custo ou até mesmo de forma gratuita. Pois é exatamente esse um dos papeis da extensão universitária: levar aos que estão fora do mundo acadêmico, através de ações e projetos de extensão, formação técnica e permitir que a comunidade tenha acesso a este tipo de capacitação.

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Além da capacitação, a prestação de serviços – como análises laboratoriais de controle de qualidade da cerveja – também poderia ser oferecida, uma vez que a maioria das universidades possuem estruturas laboratoriais para tal, porém a integração entre a indústria cervejeira e a universidade ainda esbarra em alguns trâmites burocráticos, impostos pela própria universidade.

Ensino
Caro leitor, se a extensão anda passando despercebida, quando pensamos no ensino universitário voltado à alguma formação dentro da área cervejeira, vemos que os estudantes estão ainda mais desamparados. Somente duas universidades públicas oferecem aos alunos de graduação uma disciplina exclusivamente voltada à área cervejeira – uma delas na Universidade de Brasília (UnB), que me serviu de inspiração para lecionar aos alunos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC – Blumenau) uma disciplina teórica/prática de formação na área. Apesar de serem disciplinas optativas, isto é, são oferecidas conforme a demanda e por adesão dos alunos, são as poucas iniciativas públicas disponíveis no país.

Por que essas ações de ensino e extensão ainda caminham tão tímidas? Porque da mesma forma que falta pessoal capacitado nessa área, também faltam docentes com formação e aptos a oferecer esse tipo de capacitação. Para sustentar o tripé (ensino, pesquisa e extensão) nessa área, exige-se um profissional com doutorado em alguma área afim e que, após passar em um concurso público extremamente concorrido, tenha interesse em atuar nessa área dentro da universidade. Esse alinhamento de fatores acaba tornando escasso o número de profissionais qualificados e comprometidos com a cerveja dentro da universidade. E essa realidade não tem previsão de mudança em um futuro breve. O que temos a priori são docentes em um trabalho de formiguinha, atuando de forma árdua e incansável. Temos muito ainda por avançar.

Porém, quando o assunto é em relação às pesquisas de ponta realizadas dentro das universidades voltadas à cerveja, temos um panorama mais promissor. Mas esse tema será abordado com mais detalhes no meu próximo texto. Fica a expectativa, e até a próxima.


Alfredo Muxel é doutor em Química Bioinorgânica e professor adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC-Blumenau). Atua na produção e divulgação de conhecimentos na arte da cerveja artesanal, capacitando pessoas para atuarem na área

1 Comment

  • Alex Reply

    22 de maio de 2019 at 23:25

    Excelente levantamento meu amigo. Que cresça o interesse das universidades por esse assunto.

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