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Consciência Negra: 20 de novembro e os 364 dias de invisibilidade negra

Luta antirracista não é apenas em um dia do ano e muito menos apenas uma postagem de tela preta nas redes sociais, escrevem Diego Dias e Tayná Morena

*Diego Dias e Tayná Morena

Quando recebemos o convite para escrever um texto sobre o Dia da Consciência Negra confessamos que não ficamos tão surpresos, pois sabíamos de cara que se tratava do evento anual de ouvir os pretes no Brasil. Como diz uma amiga minha “somos os papais noéis de novembro, no resto do ano, inúteis e invisíveis”, e ela não está errada. Pensem comigo: quantas vozes de pessoas pretas você ouve no resto do ano? Quantos pretes você tem no seu ciclo de amigues? Ou melhor, qual amigue você já ouviu falar sobre racismo e não questionou sobre vitimismo ou mimimi?

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Dia da Consciência Negra ou dia da consciência humana? Infelizmente, a luta antirracista não é apenas em um dia do ano e muito menos apenas uma postagem de tela preta nas redes sociais. A luta antirracista é diária, é dolorosa e sangrenta.

O problema não é e nunca foi falar sobre a importância desse dia. A data é, sim, muito importante, é símbolo de luta e resistência que o movimento negro celebra desde os anos 1960, mas que só existe oficialmente desde 2003. “Então qual o problema de termos o protagonismo no dia 20 de novembro?” O problema está na invisibilização no resto dos 364 dias do ano.

Como bem diz Preto Zezé, “existe o racismo à brasileira, que é aquele que todo mundo assume que ele existe, mas ninguém assume que pratica”.

Vamos a outra reflexão: você se considera racista?

Se a resposta for não, você deve repensar mais sobre atitudes racistas que você foi ensinado. Você já ouviu falar sobre racismo estrutural? Você já leu escritores pretes? Você já contratou profissionais pretes (sem pedir desconto ou desconfiar que o produto/serviço não tem qualidade)?

É de extrema importância refletir sobre atitudes que tentam embranquecer e principalmente ofuscar as lutas com sobreposições tais como o dia da consciência humana ou o movimento que todas as vidas importam, enquanto a vida negra é a que é exterminada.

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Esse fenômeno de invisibilização não acontece só no Brasil, não. Nos Estados Unidos, por exemplo, em fevereiro é comemorado o mês da história negra. Assim como acontece aqui, nesse mês eles dão espaço para profissionais pretes falarem sobre suas vivências. No entanto, nos outros meses, nossas vozes são silenciadas.

Corpos negros frequentemente são vistos como homogêneos, despidos de individualidade, sem expressão, sem identidade, impercebíveis. Sendo assim nossa relevância é reduzida a um dia, a um mês.

O hiato de narrativas pretas em massa ao longo do ano é mais uma expressão do racismo, que se revela na estrutura da sociedade e nos deixa distante dos holofotes sociais. Somos múltiplos: profissionais, personalidades, vontades, expressões. Podemos, devemos e QUEREMOS falar sobre outros assuntos além do racismo.

Seja sincero com você mesmo e lembre quantos eventos, cervejeiros ou não, você viu que refletiram os 56% de população autodeclarada negra no Brasil? Além disso, você se questiona sobre essa lacuna nos espaços que frequenta? A cena cervejeira nacional ocupa uma parcela pequena no mercado total e, ainda assim, episódios pavorosos de racismo aconteceram nesse microuniverso.

O que mudou na sua percepção depois que compartilhou o post da AfroCerva?

Frequentemente vítimas de racismos e de episódios de injúria são lidos como vitimistas. Vez ou outra até recebem um pouco da empatia geral, enquanto para aqueles que praticaram o racismo, basta se afastarem por um tempo, mas, logo em seguida, já estão novamente nos círculos sociais, como se nada tivesse acontecido.

Somos muito mais que uma hashtag, que um super herói negro, que um piloto de Fórmula 1 negro, que um presidente negro, que uma atriz negra, que um jogador de futebol negro, que uma âncora de jornal negra, que uma sommelière negra, que uma cervejaria negra, que um dia no ano.

Como diria Emicida no seu premiado álbum Amarelo: “achar que essas mazelas nos definem é o pior dos crimes, é dar o troféu pro nosso algoz e fazer nós sumir”.

NÃO VAMOS SUMIR!

Diego Dias é sócio-fundador da Implicantes e membro da AfroCerva. Tayná Morena é diretora de marketing da Blue Beetle Mkt e membro da AfroCerva

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