fbpx
breaking news New

6 desafios para a indústria da cerveja e como eles podem ser resolvidos

Representantes do setor esperam que Congresso Nacional consiga aprovar reforma tributária que facilite operação das cervejarias

Terceiro maior fabricante de cervejas do mundo, o Brasil tem esse setor como um importante representante produtivo do país, sendo responsável por 2,02% do PIB, com um faturamento de R$ 77 bilhões do ano passado. São números relevantes de uma indústria que conta com 1.549 empresas registradas e aptas para a produção de cerveja, ainda que hoje sofrendo com o impacto das decisões econômicas e políticas que são adotadas nas esferas federal e estadual, que terão eleições no próximo domingo.

Assim, faltando menos de uma semana para as eleições no Brasil aos cargos de presidente da República, governadores, senadores e deputados federais, estaduais e distritais, o Guia ouviu representantes de diferentes áreas da indústria da cerveja para compreender quais são os principais gargalos do setor, além de apresentar soluções para que as empresas lidem com esses desafios, sejam eles políticas, estruturais ou empresariais.

O conteúdo é o sexto produzido pela equipe de reportagem do Guia na preparação para as eleições com foco na indústria da cerveja. Antes, apresentamos as demandas de bares e restaurantes, das cervejarias e associações que as representam, ouvimos especialistas em busca de propostas para melhorar a tributação e o ambiente empresarial, avaliamos se marcas podem se abster do debate político e convidamos profissionais negros atuantes no setor para uma discussão sobre como as eleições e a política podem tornar o segmento mais democrático.

Leia também – Como a política pode tornar o setor mais democrático: especialistas negros debatem

Nesta nova reportagem do Guia com foco nas eleições, representantes de diferentes segmentos da indústria da cerveja apontaram desafios que dificultam a operação dentro do segmento, indicando caminhos para solucioná-los. Confira:

Complexo sistema tributário
Em 2021, o relatório Doing Business Subnacional, produzido pelo Banco Mundial, apontou que empresas brasileiras gastam 1.493 horas por ano – o equivalente a mais de 62 dias – apenas para preparar, declarar e pagar impostos, um desafio percebido cotidianamente pela BierHeld, empresa que oferece sistema de gestão para cervejarias e distribuidoras.

“A maior parte do nosso processo de implantação e do suporte prestado aos nossos clientes gira em torno de cumprir as obrigações fiscais do governo impostas às cervejarias, pois além de cada estado possuir suas leis próprias, muitas vezes cada tipo de produto também possui uma regra diferenciada. Como temos uma atuação em todo o território nacional, isso acaba gerando bastante trabalho para acompanhar todas as mudanças tributárias”, diz Ewerton Miglioranza, fundador da BierHeld.

É um desafio provocado pela existência de impostos das esferas federal, estadual e municipal, com um número enorme de leis e regras a serem cumpridas pelas empresas. E nem as microcervejarias incluídas no Simples Nacional escapam dessa teia burocrática, em função da aplicação de diferentes alíquotas do ICMS quando as vendas são interestaduais.

A solução, assim, seria a realização de uma reforma tributária para simplificar essas cobranças, o que facilitaria, inclusive, a distribuição dos produtos pelos diferentes estados do Brasil.

Essas leis até poderiam fazer sentido há 30 anos, quando o acesso e as vendas pela internet eram restritos e as transações financeiras demoravam mais tempo para serem processadas, mas hoje fica evidente que o Brasil precisa urgentemente de uma reforma tributária profunda, pois estamos gastando tempo e dinheiro em um processo que não gera valor algum e que poderia ser muito mais simples

Ewerton Miglioranza, fundador da BierHeld

Incertezas e burocracias que tornam ambiente nocivo aos negócios
O cenário de turbulência política enfrentado pelo Brasil ao longo dos últimos anos, o que incluiu a troca na presidência da República por um processo de impeachment e recentes ameaças democráticas, deixam o ambiente pouco propenso a investimentos, pelas incertezas que dificultam a realização de planejamento de longo prazo.

Para Nelson Karsokas Filho, sócio-proprietário da Porofil, empresa fabricante de filtros industriais, as indefinições acabam desafiando a cadeia produtiva, com a demanda, em alguns momentos, pressionando os estoques, que nem sempre acompanham a procura, por falta de investimento prévio.

“Existe, na minha opinião, um conjunto de ações que, aliadas à incerteza política e econômica, criam um ambiente muito nocivo aos negócios. Já é uma prática as empresas não trabalharem com estoque e adquiriram um péssimo hábito de criarem processos de compra muito morosos, que quando são aprovados, viram urgência. Em momentos incertos e sem programação de venda, qualquer planejamento se torna conservador e as dificuldades de alinhamento entre produção e demanda inevitavelmente aparecem”, diz.

Enquanto a turbulência política não se encerra e um rumo claro não aparece para o país, o sócio-proprietário da Porofil defende que as empresas devem se proteger, mantendo estoques que as permitam lidar com as oscilações.

“Minha sugestão baseada no conservadorismo é manter estoque regulador onde é possível, mantendo o fluxo caso ocorra alguma oscilação mais brusca. Certo ou não, é o que vejo como sendo uma maneira interessante de minimamente reduzir as oscilações entre oferta e demanda”, argumenta.

A burocracia também é citada pelo CEO da Tanoaria Agulhas Negras, Luis Cláudio de Castro Nogueira, como um entrave a um ambiente de negócios mais saudável, uma situação que precisa ser resolvida pelos governantes, pois impõe desafios a quem deseja produzir. “É muito moroso abrir uma empresa no Brasil. Muitas vezes, leva um ano e até inviabiliza o negócio, pois são muitas demandas, exigências e penduricalhos, além do custo, que é muito alto”, diz.

Penso que o próximo governo deveria facilitar a vida de quem deseja produzir, tornando os processos mais simples, como é no resto do mundo. O governo até perde receita, porque, em alguns casos o processo de abertura morre pela raiz

Luis Cláudio de Castro Nogueira, CEO da Tanoaria Agulhas Negras

Baixo crescimento e crise econômica
Dados e projeções divulgados pelo Banco Mundial e pelo FMI demonstram que o Brasil terminará o ciclo de quatro anos do atual mandato do presidente Jair Bolsonaro com um ritmo de crescimento menor do que o do restante do mundo. No período, a expansão do país terá uma média de 1,1% contra 1,8% do restante do planeta.

É um cenário que, somado ao menor poder de compra da população, pressiona o consumidor e, claro, a indústria cervejeira, como lembra o diretor executivo da Meu Garrafão, Helton Aguiar, destacando como esse cenário adverso desafia o crescimento da atividade.

“O setor cervejeiro, especialmente as cervejarias de pequeno porte, os bares e os pubs, é mais sensível ao cenário político e econômico. Quando a macroeconomia vai mal, com alta da inflação, juros altos, desemprego alto, é natural que o consumo retraia. E essa retração é sentida primeiro em alguns setores, como no recreativo, em eventos, festas. O poder econômico da nossa moeda cai, e por isso eu sinto que o público pensa duas vezes em sair e consumir fora de casa. Ou se vai consumir, não com a mesma frequência como antes”, diz.

Inflação que atrapalha o planejamento
Relativamente controlada no Brasil desde a adoção do Plano Real, em 1994, a inflação voltou a ser um problema no país no ano passado, quando o IPCA, o índice oficial calculado pelo IBGE, superou a barreira dos dois dígitos, terminando 2021 com alta de 10,06%, na maior oscilação desde 2015.

Sócio-proprietário da Label Sonic, Bruno Lage destaca como a alta dos preços dificulta a atividade. “A inflação torna o planejamento de longo prazo inviável, além de tirar de todos nós a capacidade de produzir com preços mais baixos”, diz o profissional da empresa de rotulagem.

Para ele, resta às empresas se protegerem com contratos mais longos firmados com seus fornecedores. “A solução é sempre ter fornecedores que sejam verdadeiros parceiros e que estejam construindo relacionamentos de longo prazo. Desta forma, sempre haverá um espaço para negociações ‘ganha ganha’ para os todos os envolvidos”, diz.

Volatilidade cambial e dos insumos importados
Em um segmento influenciado pelos preços das commodities e marcado pela importação de vários insumos, lidar com a oscilação da cotação do dólar e dos preços internacionais representa um desafio adicional para as cervejarias e os fornecedores. Assim, tem sido difícil evitar que a cerveja fique mais cara para o consumidor.

O principal desafio é manter preço para o consumidor, porque na marca Wienbier, líder em cervejas especiais, com a alta inflação dos insumos importados e a volatilidade cambial foi necessário repassar os custos para manter a qualidade de nossos estilos de cervejas. Reajustamos pelo menos duas tabelas de preços para nossos clientes nos últimos seis meses”, afirma Edison Nunes, gerente comercial da NewAge Bebidas.

Falta de apoio aos pequenos empreendedores
O setor cervejeiro tem, ao longo dos últimos anos, apresentado crescimento do número de empreendimentos, mas as soluções necessárias para atender a demanda provocada por essas iniciativas e pelo aumento do interesse de uma parcela da população, especialmente pelos rótulos artesanais, não caminham no mesmo ritmo, causando gargalos estruturais no segmento.

Vejo crescimento, diversificação, novidades, concorrência, tendências, novos eventos, ou seja, eu entendo que o consumo de cerveja de qualidade despertou um público que até então não sabia que isso poderia existir. No entanto, quando olhamos para as demandas de insumos para as cervejarias, vejo que se formou uma lacuna entre o crescimento acelerado do setor e o crescimento moderado de pesquisa e desenvolvimento, de incentivos, de infraestruturas para o setor

Helton Aguiar, diretor executivo da Meu Garrafão

Assim, o profissional espera maior apoio das autoridades para os pequenos empreendedores, ajudando no crescimento com qualidade. “Se produzimos boas cervejas, por exemplo, o mundo todo precisa saber e consumir. Para isso, precisamos de investimento em infraestrutura, incentivos fiscais, incentivo em pesquisas para melhorarmos continuamente os produtos. Precisa, neste caso, de vontade política”, diz Aguiar.

0 Comentário

    Deixe um comentário

    Login

    Welcome! Login in to your account

    Remember me Lost your password?

    Lost Password