
Balcão da Matisse: História da arte e da cerveja – parte 2
“Se eu pudesse expressar isso com palavras, não haveria razão para pintar.” Edward Hopper
Existe uma relação entre a evolução da cerveja e os movimentos artísticos: nenhum movimento ocorre isoladamente e a arte sempre foi a linha mestra das tendências em todas as áreas da atividade humana. Duas grandes obras de arte reforçam essa afirmação:

“The Harvesters” (acima), de Pieter Bruegel the Elder (séc XVI,), e…

…“Hop Picking” (acima), de Tompkins Harrison Matteson (séc XIX).
Na idade média os artistas, geralmente a serviço das cortes ou da igreja, gradativamente aprimoravam suas técnicas a partir dos legados romano, bizantino e grego. Por volta de 700 a cerveja começou a ser produzida nos mosteiros, onde os monges, talvez movidos pelo mesmo ímpeto de aprimoramento, começaram a adicionar lúpulo à cerveja. Havia pouca distinção entre arte e artefato, ou entre artistas e artesão, mas seja por obra de um ou do outro, o fato é que ocorreu um grande avanço tanto na arte quanto na cerveja.
O Renascimento marca o ressurgimento do interesse pela literatura e pela difusão de ideias, principalmente a partir da invenção da prensa tipográfica por Johannes Gutenberg, em 1438. Willian Shakespeare, considerado o maior escritor do idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo, faz em sua obra 14 menções à palavra “Ale” e cita cinco vezes a palavra “beer”, O grande artista da dramaturgia era um amante da cerveja.
Na pintura não foi diferente: a famosa obra “A Nave dos Loucos”, de Hieronymus Bosch, à parte as interpretações filosóficas complexas, poderia muito bem ilustrar apenas um grupo de amigos se divertindo e bebendo cerveja em um inocente passeio de barco.

(Hieronymus Bosch. A Nave dos Loucos. 1490-1500)
Nuremberg (Baviera – Alemanha), a terra natal de Albrecht Dürer, viveu no período renascentista uma intensa evolução da arte e da cerveja, afinal foi o duque da Baviera, Guilherme IV, que em 1516 decretou a Lei de Pureza Alemã (Reinheitsgebot), que estabelecia que toda cerveja deveria ser produzida utilizando-se apenas água pura, malte e lúpulo.
Por volta do século XVII, os holandeses especializarem-se em utilizar o lúpulo para estabilizar a cerveja, fazendo com que ela durasse mais. Isso acabou levando a Holanda a dominar o comércio da bebida e, consequentemente, a cerveja holandesa acabou tornando-se famosa e apreciada no mundo todo. Ao mesmo tempo, crescia a reputação internacional de Rembrandt, habilidoso no processo da acquaforte e grande expoente do barroco.
Na segunda metade do século XIX surgia na França o Impressionismo, produzindo imagens em cores vivas e com pouca definição, como no quadro “Women Drinking Beer”, de Edouard Manet.

Ainda poderíamos falar de Art Nouveau, Expressionismo, Fauvismo, Cubismo e muitos outros estilos, mas o artigo tem que terminar, então finalizo com uma citação de Aldous Huxley:
“A longo prazo, fabricar cerveja leva quase inevitavelmente ao impressionismo…”
Mario Jorge Lima é engenheiro químico e sócio-fundador da cervejaria Matisse
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