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Mulheres crescem no mercado, mas disparidade entre gêneros é fator crítico

Estudo do IBGE demonstrou que mulheres recebem 24,25% a menos em salários na indústria nacional em comparação aos homens

*Por Fabi Fonseca

O Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta segunda-feira, costuma ser uma data cercada de comemorações para lembrar as conquistas femininas ao longo da história. Mas também serve para reforçar importantes questões do nosso cotidiano, como os salários pagos às mulheres.

Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a 2ª edição do estudo “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”. E um dos dados mais alarmantes foi justamente sobre a força de trabalho e os salários pagos a elas no país.

De acordo com os dados, apenas 54,5% das mulheres com 15 anos ou mais faziam parte do grupo em 2019. Entre os homens, o número foi de 73,7%. Isso mostra que, embora a presença das mulheres no mercado de trabalho venha crescendo ao longo dos anos, a disparidade entre os gêneros ainda é um fator crítico que corrobora a desigualdade de gênero e o machismo existentes em nossa sociedade.

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Como em outros setores, a disparidade entre homens e mulheres também está presente na indústria nacional. Dados de 2018 do IBGE, atualizados em 2020 e compilados pela Guia mostram que a presença feminina na produção é 35,34% menor em relação aos homens. No setor são 12.682.463 mulheres trabalhando, contra 19.614.364 homens.

As mulheres também recebem salários, em média, 24,25% menores em relação a eles. A média mensal paga aos homens é de R$ 3.061, sendo de apenas R$ 2.318,52 para as mulheres. Na soma do período, o total é de R$ 720.376.289.000 repassados a eles, contra R$ 352.854.723.000 pagos a elas.

Desigualdade no setor
Mesmo que os dados do IBGE não façam distinção entre produção de bebidas alcoólicas e não alcoólicas, provavelmente a cerveja comercializada no Brasil também é mais um dos produtos no mercado que atravessam esse processo de desigualdade na força de trabalho.

Em uma análise apenas sobre a produção de bebidas e embalagens (especificados na tabela como fabricação de bebidas; fabricação de celulose, papel e produtos de papel; fabricação de produtos de borracha e de material plástico; e fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos), temos 236.613 mulheres atuando, contra 897.696 homens – a diferença é de 73,64%. Já a distância de salários está em 18,38%, sendo R$ 2.734 na média mensal pagos para as mulheres, contra R$ 3.349 de remuneração masculina.

O levantamento também apontou que as mulheres que atuam especificamente na produção de bebidas estão recebendo em média 6,62% a mais em salários na comparação aos homens. Porém, em presença no setor, são 81,07% a menos quando comparadas a eles (27.412 mulheres e 144.837 homens).

Segundo os dados, a média de salários das mulheres no segmento é de R$ 3.614, contra R$ 3.389 para cada homem. Com isso, a remuneração anual paga a elas é de R$ 43.363 e R$ 40.669 a eles. No total do período, foram R$ 1.188.680.000 pagos para mulheres e R$ 5.890.423.000 aos homens.

Já na análise individual dos demais segmentos (fabricação de celulose, papel e produtos de papel; fabricação de produtos de borracha e de material plástico; e fabricação de produtos de metal) a tendência vista é de que as mulheres permanecem recebendo menos em relação aos homens: 26,09%, 25,97% e 12,92%, respectivamente.

E a diferença entre o número de mulheres e homens que atuam nas atividades também é acentuada: são de -72,51%, -62,24% e -80,48%, respectivamente.

Uma mulher que trabalha na fabricação de celulose, papel e produtos de papel recebe R$ 3.210 na média mensal (sendo R$ 38.522 na média anual). Já para um homem são pagos R$ 4.343 na média mensal (sendo R$ 52.118 na média anual). Na soma total do período, eles recebem R$ 7.622.917.000, contra R$ 1.548.756.000 pagos a elas. No setor, são apenas 40.204 mulheres trabalhando contra 146.264 homens.

Na fabricação de produtos de borracha e de material plástico, por sua vez, a média da remuneração mensal de uma mulher está em R$ 2.413 (sendo R$ 28.953 na média anual), contra R$ 3.259 (sendo R$ 39.109 na média anual) pagos a um homem. Assim, na soma da remuneração, foram pagos R$ 3.031.215.000 às mulheres e R$ 10.843.196.000 aos homens. São 277.258 homens que atuam na atividade e apenas 104.696 profissionais femininas.

E, na fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos, as mulheres recebem R$ 2.583 na média mensal, contra R$ 2.966 pagos aos homens. Isso significa que a remuneração anual de uma mulher na atividade é de R$ 30.996, contra R$ 35.595 de um homem. Na soma total do período, elas receberam apenas R$ 1.993.077.000 e eles faturaram R$ 11.722.860.000. No setor, são 329.337 homens trabalhando e apenas 64.301 mulheres.

Afazeres domésticos
Os dados do IBGE também mostraram que, em 2019, a maior dedicação aos afazeres domésticos e cuidados das pessoas impacta diretamente na forma de inserção das mulheres no mercado de trabalho. Com a necessidade de conciliar o trabalho remunerado e não remunerado, elas acabam por aceitar ocupações com carga horária reduzida.

Em 2019, cerca de 1/3 das mulheres (29,6%) estava ocupada em tempo parcial (até 30 horas semanais), quase o dobro do verificado para os homens (15,6%). Elas também dedicaram quase o dobro de tempo do que os homens aos cuidados domésticos: 21,4 horas contra 11 horas semanais.

No recorte por cor ou raça, as mulheres pretas ou pardas eram as que mais exerciam o trabalho parcial, que representava 32,7% do total, contra 26% das mulheres brancas. Norte (39,2%) e Nordeste (37,5%) foram as regiões com as maiores proporções de mulheres ocupadas em trabalho parcial.

Durante o ano de 2019, as mulheres receberam pouco mais de três quartos (77,7%) do rendimento dos homens. A desigualdade era maior entre as pessoas inseridas nos grupos ocupacionais com maiores rendimentos, como cargos de direção e gerência e profissionais das ciências e intelectuais. Nesses grupos, as mulheres receberam, respectivamente, 61,9% e 63,6% do rendimento dos homens.

No Sudeste e no Sul, as mulheres receberam, respectivamente, 74% e 72,8% do rendimento dos homens. Já no Norte (92,6%) e Nordeste (86,5), regiões onde os rendimentos médios foram mais baixos para ambos os sexos, as desigualdades eram menores.

Mulheres com crianças
No período observado pelo IBGE, o nível de ocupação das mulheres de 25 a 49 anos vivendo com crianças de até 3 anos de idade foi de 54,6%, com o dos homens sendo de 89,2%. Em lares sem crianças nesse grupo etário, o nível de ocupação foi de 67,2% para as mulheres e 83,4% para os homens.

Já as mulheres pretas ou pardas com crianças de até 3 anos no domicílio apresentaram os menores níveis de ocupação: 49,7% em 2019.

Mas elas estudam mais…
Já na população com 25 anos ou mais, 15,1% dos homens e 19,4% das mulheres tinham nível superior completo em 2019. No entanto, as mulheres representavam menos da metade (46,8%) dos professores de instituições de ensino superior no país.

O estudo também mostra, por meio de dados do Censo da Educação Superior 2019, que há diferença entre homens e mulheres nas áreas de conhecimento. Em cursos de graduação, elas são minoria entre os alunos nas áreas ligadas às ciências exatas e à esfera da produção: apenas 13,3% dos alunos de Computação e Tecnologia da Informação e Comunicação são mulheres, enquanto elas ocupam 88,3% das matrículas na área de bem-estar, que contempla cursos como Serviço Social.

E, apesar de mais instruídas, as mulheres ocupavam 37,4% dos cargos gerenciais e recebiam apenas 77,7% do rendimento dos homens.

*Fabi Fonseca é repórter do Guia

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