Artigo: As cervejarias mais antigas da cidade de Niterói, digo, Nictheroy

*Por Daniel Taveira Oberlaender
É difícil determinar exatamente qual teria sido a primeira cervejaria de Niterói, pois as informações do período são escassas e há certa imprecisão nas informações.
Talvez, observando os registros nos almanaques administrativos, mercantis e industriais da Província do Rio de Janeiro, a primeira fábrica de cerveja de Niterói seja a Arouca & Fernandes, de 1870. Ficava na Rua da Princeza, 48 (atual Rua Visconde de Sepetiba, no centro de Niterói). Não há muita informação sobre essa cervejaria, apenas que os donos inicialmente eram José Gonçalves da Rocha Arouca e Antônio Fernandes. Posteriormente, em 20 de maio de 1870, passou a pertencer a José Gonçalves da Rocha Arouca e Manoel Joaquim Chaves.2,7,8
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Coincidentemente, a provável fábrica de cerveja mais antiga da cidade ficava em um local próximo à aclamada e nova Vila Cervejeira de Niterói (há época não havia sido feito o aterro e a região da Vila Cervejeira era mar, a baía de São Lourenço).11
Uma das primeiras e mais divulgadas cervejarias de Niterói que se tem notícias é a “Fábrica de Cerveja Rio Branco”, fundada em 1872 por Oscar Fernandes & C. Produzia quatro tipos de cervejas: branca, preta, parda e especial branca. Há indicações de que fabricava 450 mil garrafas por ano. Ela compunha o “Parque Rio Branco” que ficava na Rua da Praia, 109 (atual Rua Visconde do Rio Branco, 233, no Centro).2,6
Esse complexo de diversões dos niteroienses possuía, além da cervejaria, palco para apresentações, cinema (o primeiro da cidade – que viria a se chamar Polyterpsia em 1908), diorama, máquinas automáticas (possivelmente de jogos) e uma vista próxima e direta para a praia (não havia o aterro à frente). Nessa praia, praticamente em frente à cervejaria Rio Branco, havia o píer por onde entrava a maioria das pessoas por via marítima na cidade.5,6,9,11
As atividades do “Parque Rio Branco” lembram as da atual Vila Cervejeira de Niterói, não?
Há evidências de outra cervejaria na mesma rua, porém no número 103 (atual número 213), que, apesar de compartilhar o nome “Rio Branco”, pertencia a João Fernandes Ribeiro. A notícia sobre essa fábrica aparece somente em 1889. Há poucas informações sobre essa fábrica.4,3
Outro registro oficial de uma fábrica de cerveja em Niterói de que se tem notícia é de 1874, mas com a indicação mais precisa da numeração e localização. Não há muita informação sobre a cervejaria, apenas que pertencia a José Luiz Miguel Fortes e ficava na Rua da Princeza, 50 (atual Rua Visconde de Sepetiba, no centro). Ela aparece nos registros apenas até 1876 e provavelmente fechou após esse período. Teria sido a mesma fábrica que pertenceu a Arouca & Fernandes em 1870??3,4
A cidade teve muitas outras cervejarias, mas uma pesquisa mais detalhada e extensa é necessária para mapear todas ao longo do tempo.
Obs.: Sobre as ruas do centro de Niterói, a Rua da Praia foi batizada como Visconde do Rio Branco em 1880. As paralelas foram denominadas d’El Rei, da Rainha, do Príncipe e da Princesa [Princeza]. As duas primeiras passaram a se chamar Visconde do Uruguai e Visconde de Itaboraí, em 1868; a Rua do Príncipe recebeu em 1882 o nome de Barão do Amazonas; e a Rua da Princesa [Princeza] é, desde 1888, a Visconde de Sepetiba.9,11
Recortes e imagens dos artigos e documentos usados:









Bibliografia:
[1] Jornal A Capital (RJ). 13-02-1902 pág. 4
[2] Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ). 1870 ed. 00027 pág. 58.
[3] Almanak Comercial, Administrativo, noticioso, Industrial Mercantil e Indicador de Nictheroy. 1889. Pág. 79, 130 e 231.
[4] Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (RJ) – 1874 ed. 00031 pág. 69
[5] Almanak Laemmert Administrativo, Mercantil e Industrial. 1907 ed. A00064 pág. 2384
[6] Almanak Laemmert Administrativo, Mercantil e Industrial. 1908 ed. A00065 pág. 1428.
[7] Diário do Rio de Janeiro (RJ) – 08-06-1870 pág. 2.
[8] Jornal do Comércio (RJ). 26-05-1870 pág. 4.
[9] OJEDA, M. V. UM PASSEIO PÚBLICO PARA VILA REAL DA PRAIA GRANDE: 1820 – 1913. Dissertação de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense. Niterói. 2008.
[10] Revista O Malho. 02-05-1903 pág. 22
[11] Planta da cidade de Nictheroy [Cartográfico] / Escala 1:10.000, disponível em: http://acervo.bndigital.bn.gov.br/sophia/asp/capa.asp?obra=83216&servidor=1&iBanner=0&iEscondeMenu=0&iIdioma=0
[12] Jornal Tagarela. 23-04-1903. pág. 7
*Daniel Taveira Oberlaender é engenheiro químico formado pela UFF e mestre em Processos Químicos e Bioquímicos pela UFRJ. É cervejeiro na Cervejaria Habeas Copos, em Niterói (RJ)
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