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Eficiência e novas fontes: Como cervejarias podem lidar com a crise energética

Energia elétrica teve alta de 7,88% em julho, sendo a principal responsável pelo IPCA de 0,96%

A expectativa de recuperação do setor cervejeiro a partir da flexibilização das medidas restritivas em razão da pandemia do coronavírus pode sofrer um revés por um novo fator: a crise energética. Com a alta do preço das tarifas e até a possibilidade de “apagões”, resta às indústrias, sejam as grandes cervejarias ou as artesanais, apostarem em novas fontes energéticas e em melhorias nas suas operações para minimizarem os efeitos de um cenário adverso, já sentidos na economia real.

É essa a avaliação de especialistas ouvidos pelo Guia sobre um contexto que já é responsável pela maior alta inflacionária para o mês de julho desde 2002. Segundo os dados divulgados nesta terça-feira pelo IBGE, a elevação de 7,88% das tarifas da energia elétrica no mês passado foi a principal responsável pela inflação de 0,96% do IPCA. 

Leia também – Preço da cerveja tem inflação de 0,58% em julho e segue alta expressiva do IPCA

Estudos apontam que cervejarias consomem mais de 730 mil MWh/ano, uma quantidade relevante e que torna óbvia a expectativa de que a crise energética irá chegar, em algum momento, ao bolso dos consumidores, afinal, toda a cadeia produtiva deverá ser afetada, do campo ao bar.

Nesse cenário, as cervejarias precisam atuar para melhorar a sua produtividade, com o intuito de evitar o repasse aos consumidores dos efeitos da crise energética. “Em um primeiro momento, as indústrias buscam internalizar esses custos, evitando o repasse para os consumidores através do esforço para aumentar a produtividade”, analisa Tatiana Lauria, especialista em estudos econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

Reduzir margens tem sido uma estratégia necessária em um contexto de crise, que se soma ao aumento no preço de insumos, como embalagens e ingredientes, algo que não pôde se refletir em preços mais altos. Um desafio que agora é reforçado com o aumento da tarifa energética.

André Dias e Jean Rodrigues, professores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) e membros do Grupo de Estudos e Pesquisa em Tecnologia Cervejeira, apresentam recomendações de reforço na busca pela eficiência, além da possibilidade de geração da própria energia, como alternativas para a atual crise.

“As cervejeiras devem buscar melhorias na eficiência de seus processos, como redução de desperdícios, melhor planejamento de produção, implementação de novos processos, entre outros. Devem também buscar utilização de geração de energia própria, buscando até sua autossuficiência energética”, recomendam os professores do IFSP. 

A especialista da Firjan, inclusive, enumera medidas que podem ser adotadas por cervejarias de qualquer porte para melhorar a produtividade, algo primordial durante uma crise energética. “Avaliar se estão com o enquadramento tarifário correto, a possibilidade de troca de equipamentos e medidas de eficiência energética, a produção em turnos fora do horário de ponta, além da viabilidade de se instalar painéis fotovoltaicos. Essas são medidas que podem ser tomadas no curto prazo, reduzindo os efeitos negativos da crise”, comenta Lauria. 

O que uma gigante do setor tem feito
Para minimizar os impactos do reajuste das bandeiras tarifárias, as indústrias têm agido. É assim, por exemplo, com o Grupo Heineken, que vem reforçando a aposta na contratação de energia a longo prazo e em fontes renováveis, como destaca Ornella Vilardo, gerente de sustentabilidade.

“O Grupo Heineken está sempre atento às movimentações de mercado, e tem atuado de forma diligente na otimização dos custos de energia não só de suas unidades fabris, mas em todas as unidades de consumo, seja contratando energia a longo prazo para as fábricas quanto trabalhando com fontes renováveis para reduzir os custos nas unidades de baixo consumo”, afirma Vilardo. 

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Além disso, o Grupo Heineken, que recentemente anunciou metas globais e para o Brasil para tornar a sua operação carbono zero, assegura que tem buscado parcerias estratégicas para lidar com os desafios energéticos. 

Diante desse desafio somado ao nosso compromisso com as fontes renováveis, temos direcionado nossos esforços na obtenção das melhores oportunidades, criando parcerias sólidas e estratégias para superar os desafios futuros que têm se apresentado. Reforçamos nosso compromisso com colaboradores, clientes e sociedade, na busca incessante pela redução dos impactos ambientais

Ornella Vilardo, gerente de sustentabilidade do Grupo Heineken

Desafios para microcervejarias 
O cenário de desafios, entretanto, não é o mesmo para todas as empresas da cadeia produtiva. Os professores do IFSP reconhecem que há entraves maiores para microcervejarias se tornarem tão eficientes quanto as principais indústrias do setor, destacando as melhorias que precisam ser implementadas em suas operações. 

“Microcervejarias tendem a ter impactos mais agudos em relação a problemas energéticos, uma vez que não possuem estrutura para implementar grandes projetos de autossuficiência energética, ao contrário do que ocorre nos grandes grupos. Porém, os impactos podem ser mitigados implementando projetos de eficiência energética em seus processos e projetos de micro geração de energia elétrica, como energia fotovoltaica”, orientam André Dias e Jean Rodrigues.

Eles também citam medidas que podem ser adotadas para que as cervejarias artesanais se aproximem da eficiência apresentada por grandes indústrias, algo necessário para não se perder a competitividade enquanto perdurar a crise energética.

Passa pelo melhor aproveitamento de resíduos, utilização racional da água e melhoria da eficiência energética dos equipamentos. Principalmente no caso das microcervejarias, ainda há muito desperdício de recursos. Como exemplo, os grandes grupos, atualmente, têm trabalhado com a marca de pouco mais de 3 litros de água para cada litro de cerveja produzida, enquanto que muitas microcervejarias chegam a gastar 10 litros de água por litro de cerveja

André Dias e Jean Rodrigues, professores do IFSP

O futuro energético
Além da atual crise energética, há outros fatores para dúvidas e preocupações das cervejarias, um deles envolvendo a iminente privatização da Eletrobras. A previsão de descotização de usinas mais antigas, com a liberação para a venda de energia e preços de mercado, tende a torná-la mais cara. Também há temor com os efeitos de medidas que obriguem a construção de termelétricas a gás natural onde não há acesso a esse combustível, assim como de se contratar pequenas hidrelétricas.

Para a Firjan, a atual crise energética somadas às dúvidas sobre o futuro do setor reforçam a necessidade de mudanças no modelo energético brasileiro, com o intuito de reduzir custos e garantir a necessária segurança energética para assegurar a competitividade da indústria. Isso inclui, por exemplo, a ampliação da utilização de fontes renováveis. 

A ampliação do mercado livre e o acesso a novas formas de produção de energia – como a geração distribuída, a modernização do modelo de operação do setor, a redução dos subsídios cruzados e dos encargos na conta de luz – são alguns desafios que precisam avançar para que a energia elétrica se transforme em fator de competitividade. Em termos de matriz, o país precisa avançar nos próximos anos em uma transição que aumente a entrada das fontes renováveis, também com a inserção daquelas que não possuam grande intermitência e possam garantir a segurança energética, como a geração através do gás natural e a nuclear

Tatiana Lauria, especialista em estudos econômicos da Firjan

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