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6 análises sobre o resultado da eleição da Abracerva e o futuro da associação

Especialistas ouvidos pelo Guia confiam que a diversidade será pauta prioritária da nova diretoria

A definição da nova diretoria da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) foi marcada por ineditismos. Realizada após a renúncia dos gestores anteriores, a eleição desta quinta-feira teve uma inédita disputa entre duas chapas e viu uma mulher – Nadhine França – ser a escolhida pelos vencedores para exercer a presidência.

Assim, a expectativa é que o triunfo da Chapa da Maturação abra caminho para uma nova fase na associação e no segmento de cervejas artesanais, abalados pela desconfiança provocada pela contaminação de rótulos da Backer (que provocou dez mortes), pelos efeitos da crise do coronavírus e pela revelação de atos preconceituosos de figuras proeminentes do setor, algo que culminou na saída da diretoria anterior, então presidida por Carlo Lapolli.

Leia também – Maturação vence eleição e Nadhine França presidirá Abracerva até 2022

Encarar esse cenário adverso será um dos desafios da Chapa da Maturação, que estará à frente da Abracerva até outubro de 2022. Para entender o significado desse resultado eleitoral e avaliar quais caminhos serão seguidos pela gestão, o Guia ouviu uma equipe de especialistas.

Para eles, é fundamental a escolha dos associados pela Maturação – uma chapa que tem 6 mulheres entre seus 14 componentes – e de Nadhine para presidir a entidade, pois vai afastar a Abracerva dos casos de racismo e misoginia que atingiram o setor. Há uma confiança disseminada de que a diversidade será pauta prioritária da nova diretoria da associação.

Além disso, os profissionais ouvidos pela reportagem confiam que a preocupação social estará entre as principais frentes de atuação da Abracerva, assim como a busca por uma maior profissionalização do setor.

Confira análises sobre o resultado da eleição, a escolha de uma mulher para presidir a Abracerva e o futuro da gestão:

Ana Cláudia Pampillón (coordenadora da Rota Cervejeira RJ)
Acompanho o trabalho da Abracerva desde sua formação e tenho a certeza de que, até então, grandes conquistas para o setor aconteceram devido ao empenho pessoal de cada um que passou por essa entidade. Espero que mesmo com todos os acontecimentos desse último ano, a união prevaleça e que o movimento tão almejado pela igualdade seja de fato um elemento importante para o cenário cervejeiro do país.

Diego Dias (fundador da Implicantes)
Fiquei muito feliz pelo fato de conhecer a Nadhine, saber do trabalho dela e também de ser a primeira presidente mulher da associação. Acredito que daqui para frente vão ocorrer muitas mudanças, inclusive ela faz parte da Afrocerva, e eu gostaria muito de ver investimentos da gestão atual na questão racial, até pelos ataques que a cervejaria Implicantes sofreu, como também a sommelier Sara Araújo.

Eu gostaria de alguma forma de contribuir para ter uma mudança neste setor, que é muito urgente. Que cervejarias comecem a respeitar e também a incluir a diversidade e mais negros neste meio.

Ivan Tozzi (sócio-proprietário da Three Hills)
Achei o resultado muito bom. Para mim, já era esperado. Realmente, pelo porcentual, vimos que a maioria pedia mudança. E essa chapa representa essa mudança. Acredito até que os últimos acontecimentos envolvendo exposição de racismo e machismo no setor foram um impulsionador para que a Chapa 2 tivesse o número de votos favorável.

O que espero agora da Abracerva com a Nadhine no comando é a continuidade do trabalho que ela já vinha fazendo. De trabalhar a diversidade, de proporcionar facilidade para a democratização da cerveja. Foi merecido por tudo que a Nadhine fez em um momento tão conturbado da associação. Agora é arrumar a casa. Não espero que tenha alguma ação mais política como vinha ocorrendo na gestão anterior. Mas esse papel social da Abracerva deve vir com força e ser exemplo para as cervejarias.

Mário Jorge Lima (sócio-fundador da Cervejaria Matisse)
Eu achei que o resultado foi muito bom, principalmente porque afasta de vez o estigma machista que acabou surgindo em função daqueles fatos lamentáveis.

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Espero que seja dada continuidade ao bom trabalho que já vinha sendo feito pela Abracerva e que a nova diretoria tenha muito empenho, pois a luta para consolidar a cerveja artesanal no Brasil está apenas começando. Desejo muita sorte à Nadhine e a toda a nova diretoria.

Rodrigo Sena (sommelier)
Eu acho que é um marco histórico o fato da uma primeira mulher presidir a Abracerva. Isso é muito importante em termos de representatividade para mostrar ao setor que a gente precisa ter mais participação de mulheres no mercado cervejeiro como um todo. Então, sobre esse ponto de vista da simbologia, é realmente muito importante ter uma mulher ocupando um cargo de presidente da Abracerva, ainda mais depois de tudo que aconteceu que nós sabemos, e que acabou até levando ao motivo da saída do antigo presidente.

Espero, claro, que Abracerva avance em algumas coisas. Lembrando que não é só a Nadhine, a chapa dela tem muitas pessoas competentes, pessoas do mercado, bem intencionadas, com visão empresarial, como Giba Tarantino, por exemplo, como o próprio Jayro (Pinto), que são profissionais excelentes, que admiro muito e vão contribuir bastante para a Abracerva. O que eu espero é que essa diretoria nova, com o comando da Nadhine, avance principalmente em questões que o mercado ainda carece. Uma delas é aprender a lidar com a diversidade, e eu acho que isso vai trazer para o mercado muitos benefícios, inclusive financeiros. Então, é o primeiro ponto que eu acho que precisa avançar e que tenho certeza que esse novo comando da Abracerva vai atuar diretamente para isso. Outro ponto que acho que precisa avançar, e que eu espero que essa nova diretoria faça, é na profissionalização do mercado. O mercado precisa se profissionalizar mais, precisa ter mais profissionais qualificados, mais profissionais preparados para atender. Ele acabou sendo um pouco reprimido por causa da pandemia, mas vai voltar, pode ser que 2021 ainda não seja o ano que a gente espera, mas vai voltar, uma hora essa demanda vai voltar e o mercado precisa de profissionalização. Os próprios episódios que aconteceram, com aqueles comentários lamentáveis, mostram que alguns dos profissionais que estavam trabalhando no mercado não são preparados. E a grande maioria dos profissionais tem muita vontade, mas não tem preparação. Sei que a Abracerva pode ajudar bastante nisso, ou seja, com políticas que ajudem os profissionais das cervejarias e os prestadores de serviço a se profissionalizar e também fazendo com que as cervejarias entendam que é preciso valorizar profissionais neste segmento. No mais, tenho certeza que a Abracerva vai continuar com o avanço na parte política. Ela tem uma cadeira na Câmara Setorial do Ministério da Agricultura e tenho certeza que essas pessoas que estão ali no comando vão saber manter a representatividade da Abracerva e até elevar esse nível de representatividade política, porque isso é muito importante para o setor.

Sara Araujo (sommelière)
No que tange ao fato de uma mulher estar à frente pela primeira vez de uma associação com o poder político como a Abracerva, sobretudo uma mulher negra e nordestina, esses marcadores sociais precisam ser assinalados e calafetados, porque são interseccionados pelas opressões de raça, gênero e origem, até porque a dissolução da gestão anterior se deu em razão de atos de racismo e misoginia. É histórico, mas requer um olhar atento: não é porque é uma mulher com todos os símbolos e significantes que carrega, que está tudo resolvido. “É preciso está atento e forte”, afinal, a “liberdade é uma luta constante”.

Em relação ao futuro da nova gestão, espero que abrace a questão racial de forma explícita, que não coloque sob o guarda-chuva da diversidade, pois são agências distintas. Que lute por ambas as causas, racialidade e diversidade. Que essas pautas sejam levadas a sério, que as discussões não façam parte de um puxadinho, mas que sejam a ordem do dia. O fator preponderante de eu não ter publicamente declarado meu apoio à chapa Maturação, pois havia uma mulher preta nela, com a qual eu dialogo, foi por não ter colocado de forma escurecida a pauta racial em discussão. Optei, inclusive, em não me associar no momento. O que posso fazer neste momento é desejar lucidez e coerência a toda a equipe e que acolham as demandas acima explanadas. Continuarei aqui atenta e fazendo proposições construtivas.

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